9 de julio de 2016
Outros motivos que justificam o “Tchau Querida” que o Reino Unido deu para a União Europeia
O fato de o Reino Unido ter abandonado a “União Europeia” não reside meramente em questões econômicas, como a mídia esquerdista tem alardeado em sua visão superficial dos acontecimentos. Outros fatores mais profundos — como o verdadeiro perigo da “invasão islâmica” na Inglaterra; do desvanecimento de sua gloriosa História; do desbotamento de seu rico passado; de suas belas tradições; de suas “pompas e circunstâncias” etc. — pesaram mais profundamente na resolução da maioria dos britânicos em “pular fora” do barco furado da União Europeia, conduzido (ditatorialmente) pelos arrogantes burocratas de Bruxelas.
O grave perigo de uma unificação forçada e artificial de povos tão desiguais, com costumes tão diversificados, foi motivo para que Plinio Corrêa de Oliveira, já durante a II Guerra Mundial, alertasse a opinião pública para catastróficas consequências do projeto de querer reorganizar as nações em blocos super-poderosos, dirigidos por super-governos, como se começava a cogitar numa “nova ordem mundial” para o pós-guerra.
A respeito, reproduzimos a seguir um magistral artigo. Amanhã publicaremos um outro em continuação da análise do mesmo problema, que consiste em pretender forjar blocos de países fundidos numa federação, regida por tratados impositivos, com leis únicas, moeda única etc. — tudo análogo e conforme às convenções da atual União Europeia.
Plinio Corrêa de Oliveira
(“Legionário”, nº 560, 2 de maio de 1943)
O Sr. Oliveira Salazar, chefe do governo português, fez recentemente algumas declarações que não podem passar sem algumas observações. Disse o estadista luso que Portugal, mantendo-se embora inteiramente neutro na presente conflagração, não queria aderir sem mais exame a qualquer das várias formas de organização internacional que, segundo os comentários de certos jornais e declarações de alguns estadistas, se esboçam para depois da guerra. Com efeito, disse o Sr. Salazar, é preciso que o desejo de inaugurar uma cooperação internacional regular e fixa não nos leve ao extremo de diluir todas as pátrias nas grandes federações europeias, asiática, etc., planejadas para o futuro.
Nestas declarações do governante português, nem tudo pode ser aprovado sem reservas. Assim, gostaríamos que o Sr. Salazar quando falou da eminência do perigo comunista, também tivesse feito as necessárias referências ao perigo nazista. S. Ex.a foi ao menos imprudente. A própria estrutura das instituições a que preside presta-se facilmente a idéia de que ele simpatize com o “eixo”. Ficar-lhe-ia bem, portanto, uma declaração tão incisiva, tão categórica, tão iniludível, sobre o totalitarismo estatal da direita, que excluísse qualquer interpretação desfavorável de suas palavras. Estas declarações S. Ex.a não a fez. Não obstante o “Legionário” considera suas observações a respeito da futura estruturação do mundo digna de aplauso e estes aplausos ele os dá com alegria tanto maior quanto é evidente que tudo quanto nos vem de Portugal encontra em nosso coração de católicos e de brasileiros um eco particularmente grato.
* * *
As declarações da imprensa sobre o mundo de post-guerra tem sido algum tanto confusas. É possível, pois, que muitos leitores não as tenham lido com cuidado, e que, assim, não tenham em mente o plano geral que em certos setores da opinião se esboça. Digamos, pois, a este respeito, algumas palavras.
O pensamento dominante de todos estes planos consiste em criar vastas federações de Estados, formadas por povos de tradições raciais ou culturais, de interesses econômicos e geográficos afins. Cada uma destas federações formaria uma só entidade diplomática, ou seja, um só organismo comum dirigiria todas as relações do grupo com as demais. Teria também uma só moeda. Teria ainda forças militares federais e coletivas. Em suma, seria um grande super-governo a enfeixar, conter e canalizar a soberania e as atividades dos governos federados.
Por sua vez, essas vastas federações — três ou quatro para o mundo inteiro — teriam um órgão federal que a todas uniria, e que seria uma nova “Liga das Nações”. Mas uma Liga muito diversa da anterior, pois que enquanto esta se compunha das inúmeras delegações de todos os povos, pelo contrário, a Liga futura só constará dos representantes das federações.
Evidentemente, o plano pode despertar simpatia debaixo de certos pontos de vista. Em primeiro lugar, em uma época em que tudo se “tecnifica”, e há organismos especializados para evitar todos os flagelos desde as epidemias até o desemprego, pareceria ilógico que não se constituísse um órgão técnico especializado para evitar o maior e mais monstruoso de todos, que é a guerra.
Em segundo lugar, um fortalecimento dos laços que vinculam entre si todos os povos poderia tornar mais numerosos e ricos os benefícios da paz. Cessada a mutua desconfiança, a cooperação seria mais ampla e mais fecunda. E, como é dela que em ultima análise nasce a felicidade internacional, parece fora de dúvida que ela trará grandes vantagens à humanidade.
Entretanto, este é apenas o aspecto brilhante e atraente do plano. E, digamos assim, seu lado poético. A técnica tem exigências mais precisas do que a poesia. Tecnicamente considerada as coisas, os horizontes estão muito menos luminosos do que à primeira vista poderia parecer.
O primeiro problema salta aos olhos. Para o progresso da humanidade, para a grandeza espiritual e material do gênero humano, é preciso que os homens vivam unidos na variedade. Cada povo tem a sua índole nacional, sua psicologia coletiva, suas tradições próprias. Este fato, que é de comezinha observação, não existe sem um sábio e amoroso desígnio da Providência Divina. Mostrá-lo-emos em duas palavras.
Consideremos por instantes o mapa da Europa. Houve tempo em que cada um dos seus países tinha uma cultura própria, nitidamente individualizada e distinta dos demais. Cada uma destas culturas, expressão florescente dos feitios diversos de cada povo, constitui um tesouro. Como teria sido mais pobre a civilização ocidental e cristã, se todos os povos europeus tivessem tido a mesma arte, a mesma cultura, a mesma mentalidade! Coordenadas e harmonizadas essas tendências variegadas, dentro da grande, augusta e substancial unidade de espírito da Cristandade, ela era, não germe de luta nem fonte de atritos, mas exclusivamente expressão de pujança, de riqueza, de capacidade criadora.
As condições técnicas do mundo moderno vieram, infelizmente, criar sérios embaraços à continuidade desta situação. Com efeito, a mentalidade revolucionária arrastou o mundo inteiro num mesmo turbilhão, e insuflando a todas as massas a mesma tendência niveladora e destruidora, a mesma monomania igualitária e iconoclástica, teve como lamentável consequência um desejo desregrado de impor os mesmos hábitos, os mesmos costumes, os mesmos trajes, a mesma arte, a mesma filosofia, e até a mesma culinária ao mundo inteiro. O progresso técnico do século XIX, excelente para dar a todas as verdades como a todos os erros um desenvolvimento célere, facilitou enormemente o curso desta evolução. E, hoje, nos hotéis de Changai, Lausane, Capetown ou Quebec come-se mais ou menos as mesmas coisas, dorme-se em quartos arranjados mais ou menos do mesmo modo, e recebem-se as visitas em salões mais ou menos iguais [foto].
Esta uniformidade não é só nos hotéis: é nos filmes que os cinemas exibem, é na popularidade dos mesmos atores, na voga das mesmas peças teatrais, na uniformidade do noticiário telegráfico dos jornais, na frequência com que os mesmos livros, traduzidos para todas as línguas, ocupam lugar vistoso nos mostruários das livrarias, na insistência com que as mesmas modas [foto], elaboradas nos estabelecimentos ditatoriais das modistas dos grandes centros, imediatamente, encontram admiradoras dóceis nos quatro quadrantes da Terra.
O homem não é tal que um estado de coisas assim possa subsistir para ele sem grave inconveniente. Quem não perceberá, por exemplo, que um adolescente que forme seu espírito em pleno sertão goiano ou paranaense, em contato com a paisagem e o ambiente de nossa terra, mas que ao mesmo tempo assobia a última cançoneta “yankee”, ouvida pelo rádio, comenta com seus amigos o filme chinês que assistiu, procura realizar em suas maneiras o possível de cortesia francesa, e lê com entusiasmo as traduções dos autores russos ou alemães, há de ter necessariamente em sua alma uma multidão de tendências que não chegaram a se definir, de sentimentos que vagueiam indecisos pelo seu cérebro nos raros momentos de melancolia e solidão, como sombras fantásticas de uma vida e de um ambiente que ele não viveu, esta gestação violentamente interrompida de ideias que morrem asfixiadas no nascedouro por falta de expressão adequada, reprimida pela moda literária artística ou filosófica do dia?
E quem não vê que o homem que vive assim em um ambiente que não é feito para ele e por ele, mas é estandardizado para um homem internacional abstrato, que não existe realmente e concretamente em parte alguma, quem não vê, dizíamos, que esse homem há de sofrer de um mal estar interior imenso? Quem não vê que se cava assim um abismo profundo entre as produções artísticas, literárias, cientificas e até as instituições políticas e sociais formadas nesse ambiente cosmopolítico e o mundo interior de cada homem que nada tem de ver com isto, que no fundo detesta isto, e que entretanto, vive sob o jugo disto?
Qual a consequência? Na cultura, o artificialismo, a esterilidade, o menosprezo por todos os frutos da inteligência e o exclusivo endeusamento dos valores materiais, únicos que realmente ainda afinam com o homem. Um exemplo: um homem que não encontra na literatura, nem na música, nem nas belas artes, uma consonância com seu temperamento, aborrece-se de tudo isto. Mas ele é homem, e por isto não se aborrecerá dos prazeres materiais. Resultado: o material dominará inteiramente nele o gosto pelo intelectual.
Na vida social, o agastamento, o nervosismo, a explosão violenta de desequilíbrios de toda ordem. Na vida política, o desinteresse, a displicência, o desprezo pelo Estado, considerado não mais a chave de cúpula da nacionalidade, sua expressão social mais nobre e mais genuína, mas uma inevitável instituição de utilidade geral, que tem o direito de ser tirânica como, por exemplo, as repartições de limpeza pública, mas que não desperta, nem amor, nem respeito, nem entusiasmo, nem dedicação. Um mal necessário. Um mal insípido. Um mal desinteressante. Uma máquina tão prosaica quanto um tramway, tão desagradável quanto uma camisa de força e tão inevitável quanto uma cadeira elétrica. Em suma, uma acabrunhadora e gigantesca pirâmide de leis, regulamentos, portarias, editais, decretos, instruções, sentenças, acórdãos, repartições públicas, organismos para estatais etc. etc., tudo mecânico, anônimo, automático, em uma palavra, inumano.
Que produções intelectuais e culturais terá um homem assim prisioneiro de um mundo que parece mais feito contra ele do que para ele? Provavelmente a mesma que teria uma sardinha enlatada viva.
Não é preciso ser observador muito arguto para compreender até que ponto estas vastas federações estatais acentuariam este fenômeno absorvendo todos os regionalismos sadios e deformando o mundo. Porque a cultura e a civilização são obra do homem. E quando o homem vive oprimido, contrafeito, subjugado pela ditadura cultural do cosmopolitismo, ele mingua, definha, se deforma e finalmente decai.
Não podemos, católicos que somos, pactuar com esse mal. Ou as federações futuras tomarão isto em conta, e terão um espírito e uma estrutura radicalmente diversa da que ora se delineia, ou assimilarão a ruína da humanidade.
Veremos em outro artigo os demais aspectos da questão.
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Texto extraído do site: www.pliniocorreadeoliveira.info
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