N.B. Recordamos a los lectores del Blog, que el Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, bajo cuyo pensamiento se edita este Blog, en su "Auto-retrato filosófico"* se declara "Tomista por convicción'. Así, en las visperas de la festividad de Santo Tomás, parece oportuno publicar este erudito estudio sobre el Doctor Común y Universal de la Iglesia y patrono de todos los estudios católicos.
SANTO TOMÁS DE AQUINO
27 de janeiro de 2016
Plinio Maria Solimeo
Doutor da Igreja e Patrono dos estudos
católicos em todos os graus. Sua festividade é celebrada pela Igreja no
dia 28 de janeiro.
De Santo Tomás de Aquino, o maior luminar da Igreja Católica, nós já apresentamos uma biografia nesta coluna (Revista
Catolicismo,
janeiro/2002). Como sua perene doutrina — o ápice da escolástica — foi
em grande parte abandonada pelos teólogos católicos atuais,
ressaltaremos aqui sua importância universal na História da Teologia e
Filosofia católicas.
A transcendência da doutrina tomista foi ressaltada por Leão XIII na Encíclica
Aeterni Patris (1879), e São Pio X em documento de 20 de setembro de 1892.(1)
Breve síntese biográfica do Santo
Igreja de Santo Tomás em Roccasecca
Santo Tomás de Aquino nasceu no castelo de Roccasecca, próximo de
Nápoles, em 1225, filho de Landolfo, senhor de Roccasecca, e de Teodora,
filha dos condes de Chieti. Aos cinco anos de idade seus pais o
enviaram como oblato ao Mosteiro de Monte Cassino, onde, além da
formação moral e religiosa, aprendeu as primeiras letras, a gramática
latina e italiana, música, poesia e salmodia.
Na adolescência estudou Filosofia e Artes na Universidade de Nápoles.
Seu afã nos estudos objetivava maior conhecimento de Deus para melhor
servi-Lo.
Em 1244 ingressou na Ordem dos Pregadores ou Dominicanos, fundada
havia pouco por São Domingos de Gusmão, a qual harmonizava as
observâncias monásticas com o estudo, satisfazendo plenamente os anseios
do santo.
Em 1247 Tomás foi enviado para o
Estudo Geral da Ordem, em Colônia (Alemanha), onde teve como mestre a Santo Alberto Magno — o
Doutor Universal — também Doutor da Igreja.
Em 1252 foi transferido para Paris, como Mestre do Estudo Geral da Ordem, cargo que exerceu por quatro anos.
“Desde o primeiro instante superou todos [os professores]
,
inclusive os mestres mais célebres e encanecidos na cátedra, por seu
novo método de ensinar, claro, conciso, profundo, preciso, e por sua
extraordinária originalidade, qualidades que lhe granjearam uma grande
simpatia e uma admiração sem limites por parte dos estudantes”.(2)
As aulas de Frei Tomás eram tão concorridas, que a sala de aula mal podia conter todos aqueles que a procuravam.
Santo Alberto Magno ensinando (Gregorio Vasquez de Arce y Ceballos, séc. XVII. Coleção Privada, Bogotá (Colômbia)
Tal era a fama de sua sabedoria, que o rei São Luís IX da França
“o
consultava sempre sobre os negócios mais graves de governo; e, quando
devia celebrar conselho, tinha o costume de informar, na véspera, a Frei
Tomás, rogando-lhe que desse seu parecer na primeira hora do dia
seguinte. O santo cumpria fiel e escrupulosamente esses encargos”.(3)
Pois
“o Santo de Aquino não é um expectador frio dos
acontecimentos de sua época; pelo contrário, vive suas lutas, é
beligerante no mais nobre sentido da palavra, em uma época na qual
florescem os espíritos combativos. É um convencido de sua vocação
apostólica, a qual vive com entusiasmo juvenil e o fogo que lhe
comunicou a alma ardente e dulcíssima do patriarca São Domingos”.(4)
Não cabe nesta breve síntese narrar todas as lutas de Santo Tomás
contra os hereges e heretizantes da época, nem a sublime santidade que
atingiu. Basta dizer que ele faleceu santamente no dia 7 de março de
1274, com apenas 49 anos de idade, sendo canonizado no dia 18 de julho
de 1323.
Entretanto, vale a pena ressaltar sua extremada devoção ao Santíssimo Sacramento. O Ofício que ele elaborou para a festa de
Corpus Christi, o sermão que pregou diante do Consistório, e o celeste hino
Pange Lingua Gloriosi,
que compôs para aquela festa, são
“os mais ternos, devotos e profundamente teológicos que se conhece na sagrada liturgia”.(5)
Sua devoção a Nossa Senhora, como não podia deixar de ser, era
terníssima, como terna era a que devotava aos anjos e aos santos.
A magna obra de Santo Tomás de Aquino
Como surgiu a grande obra filosófica e teológica de Santo Tomás? Como
discípulo de Santo Alberto Magno, os dois santos se deram conta da
dificuldade que havia naquela época em canalizar os estudos filosóficos,
corrigindo e depurando Aristóteles, para que sua filosofia pudesse
servir eficazmente à Teologia. Para eles,
“a Filosofia deveria ser
cultivada sobre bases mais amplas, não se contentando somente com
Aristóteles, nem com Platão, mas procurando harmonizar entre si, numa
síntese nova e superior, o verdadeiro existente em ambos”.(6) Do mesmo modo,
“a
própria Teologia deveria também ampliar suas bases, servindo-se da
Filosofia já depurada e mais bem cultivada, além do argumento
tradicional de autoridade”.(7)
Essa obra magna foi encomendada pelo Papa a Santo Tomás, que a levou a
cabo com toda a força de seu talento e de sua piedade, sobretudo com a
monumental
Suma Teológica. Tal era seu domínio sobre a matéria,
que ele realizou esse imenso trabalho ditando ao mesmo tempo a três ou
quatro amanuenses.(8)
Título de Expositor por excelência
Com a sua assombrosa capacidade de trabalho, Frei Tomás pôs mãos à obra. E,
“em vez de trabalhar sobre Aristóteles, transmitido em traduções infiéis e glosado por árabes e judeus, como fez seu mestre [Santo Alberto Magno]
,
procurou isolá-lo de todas suas aderências, e purificá-lo de todas as
incorreções, graças a uma tradução direta e fiel de seu amigo Guilherme
de Moerbeke, feita a partir dos melhores manuscritos gregos. E, sobre
tal base, empreendeu um comentário literal de suas obras principais,
verdadeiro modelo em seu gênero por sua sagacidade e exatidão, que lhe
mereceu o título de Expositor
por excelência”.(9)
“Ascensão do pensamento humano”
Pelo que
“a Filosofia de Santo Tomás é o ponto culminante de uma lenta e laboriosa ascensão do pensamento humano”,(10)
“a síntese filosófica mais perfeita que o engenho humano criou”,(11) e
“a síntese de uma filosofia perene”.(12)
Por isso,
“com Santo Tomás começa verdadeiramente uma nova época
da Filosofia e da Teologia; a mudança sofrida por elas foi, em
realidade, profunda e gigantesca. A colaboração da fé e da razão na obra
mancomunada da ciência teológica ficava assegurada para sempre, por
estar fundada sobre bases inamovíveis”.(13)
“Homem mais sábio até o fim do mundo”
Santo Tomás com o Papa Urbano V na definição do Dogma da Transubstanciação
Santo Alberto Magno, que foi seu mestre e o conhecia muito bem, dizia de seu discípulo
“que
era a flor e a honra do mundo, o homem mais sábio do seu tempo até o
fim do mundo, sem temor de ser superado por ninguém, cujos escritos
brilham sobre todos os demais por sua pureza e sua veracidade”.(14)
E o futuro Papa Clemente VI, fazendo o panegírico do santo na
primeira vez que se celebrava sua festa na Universidade de Paris (7 de
março de 1324),
“compara sua sabedoria à de Salomão; porque, assim
como o Rei sábio superou nela todos os hebreus, egípcios e orientais,
assim Santo Tomás excedeu em saber a todos os filósofos e teólogos,
havidos e por haver, na Universidade parisiense. E acrescenta que sua
doutrina é verdadeira, sem contágio algum de falsidade, clara sem sombra
alguma nem enfado de obscuridade, útil e frutífera sem deixar-se levar
de uma curiosidade excessiva nem de vãs sutilezas, é copiosa e abundante
por sua variedade e universalidade”.(15)
Por sua vez, o Beato Urbano V o chama
“Doutor egrégio que, com
seus ensinamentos saudáveis e transparentes, iluminou a Igreja
universal, pondo de manifesto os enigmas da Escritura, desatando os nós
de suas dificuldades, elucidando suas obscuridades e aclarando as
dúvidas que surgem em seu estudo”.(16)
“Não há erro que não tenha demolido”
Bem-aventurado Pio IX
Já o Beato Pio IX
“celebra seu gênio sobre-humano, que lhe
permitiu escrever insuperavelmente sobre as coisas divinas e humanas,
merecendo a aprovação do próprio Deus. Porque, na realidade, deduziu
toda a ciência de princípios incontestáveis e invulneráveis, e a
organizou em um corpo de doutrina claramente disposto com tal arte, que
não há verdade que não tenha captado, nem erro que não tenha demolido”.(17)
O célebre convertido inglês, cardeal Manning, analisando a situação
em que estava o mundo em seu tempo, isto é, em meados do século XIX,
afirma:
“A moderna Filosofia quis fazer do homem um Deus, mas um Deus
que tem olhos e não vê, que tem ouvidos e não ouve. Duvida de tudo, não
admite nada, agita-se desesperadamente em um agnosticismo universal. Só
se pode curar tamanha doença com a clara Filosofia do Doutor de Aquino”.(18)
Como desde então o mundo não fez senão decair, pois muitos filósofos e
teólogos se tornaram praticamente ateus e até subversivos, daí a
necessidade premente de se voltar à escolástica e à sua mais alta
expressão, o tomismo.
“Reconduzir pelo Rosário a humanidade extraviada”
Mais tarde Leão XIII, que foi cognominado o Papa de Santo Tomás e do Santo Rosário,
“expressa
sua convicção profunda e sua vontade decidida de dirigir as
inteligências pela doutrina de Santo Tomás, e os corações pelo Rosário;
quer dizer, de reconduzir a humanidade extraviada aos caminhos da
verdade e da verdadeira vida por esses dois meios eficacíssimos de
salvação”.(19)
Na encíclica
Aeterni Patris, esse Pontífice trata da
“necessidade
e utilidade de uma Filosofia sã e robusta, que possa servir
convenientemente à fé sem menoscabo de sua própria dignidade de ciência
humana”. Ora,
“a Filosofia de Santo Tomás possui eminentemente essas qualidades”. Pois,
“dotado
de um engenho aberto e penetrante, de uma memória fácil e retentiva, de
uma vida sem mancha, sem outro norte que a verdade, e imensamente rico
em conhecimentos divinos e humanos, foi comparado justamente ao sol que
fecunda a terra com o calor de suas virtudes, e a enche e ilumina com o
resplendor de sua ciência”. Pelo que
“é necessário voltar à Filosofia de Santo Tomás, segui-la fielmente, e propagá-la por todos os meios”.(20)
E o mesmo Papa assim sintetiza a razão pela qual declarou solenemente Santo Tomás
Santo Doutor e Patrono de todos os Estudos católicos em todos os seus graus:
“O
Angélico se destaca eminentemente, sobre todos os demais, sendo o
modelo que os sábios católicos devem imitar em seus diversos estudos.
Ele possui, certamente, as melhores e mais brilhantes qualidades de
coração e de inteligência que arrastam à sua imitação: uma doutrina
riquíssima de conteúdo, saníssima, perfeitamente organizada,
admiravelmente de acordo com as verdades reveladas por Deus e, portanto,
sinceramente obsequiosa com a fé; acrescente-se a tudo isto uma vida
integérrima e sem mancha, ilustrada com as virtudes mais excelsas”.(21)
“Afastar-se de Santo Tomás leva à apostasia”
Papa São Pio X
Para não nos alongarmos mais, citemos finalmente o imortal São Pio X, que no Motu Próprio
Doctoris Angelici, de 29 de junho de 1914, declara que
“os
princípios básicos da Filosofia de Santo Tomás não devem ser
considerados como meramente opináveis ou discutíveis, mas como
fundamentos em que se apoiam todos os nossos conhecimentos do humano e
do divino”. Pelo que,
“rechaçados ou alterados de qualquer modo
esses princípios, os jovens estudantes eclesiásticos acabarão por não
entender nem sequer a terminologia empregada pela Igreja na proposição
dos dogmas de nossa fé”.(22)
Por isso o santo Pontífice alerta que
“abandonar Santo Tomás, sobretudo em questões de Metafísica, é um gravíssimo perigo”. E acrescenta:
“O que digo de sua Filosofia deve entender-se a fortiori
de sua Teologia, na qual não é só o príncipe, mas o mestre e guia de todos”,(23)
“como honra do orbe cristão e luminar da Igreja”,
“que vale para todos os tempos e não envelhece nunca”.(24)
Como consequência,
“nada é tão útil à Igreja como formar o clero na doutrina do Angélico”,(25)
“para
arrancar o fermento de tantos erros como circulam por todas partes
sobre o divino e o humano, e para que a verdade católica, devidamente
conhecida, se incruste indelevelmente nas almas de todos”. São Pio X conclui com esta terrível advertência: Afastar-se da doutrina de Santo Tomás leva à apostasia.
“Uma
triste experiência ensina que, particularmente em nossos dias, os que
se separam de Santo Tomás acabam finalmente por apostatar da Igreja de
Cristo”.(26)
Que a Santíssima Virgem, Sede da Sabedoria, nos obtenha a graça de
assistir a um verdadeiro renascer da doutrina de Santo Tomás — cuja
festa é celebrada em 28 de janeiro — para honra e glória da Igreja.
_______
Notas:
- Utilizamos para este artigo a excelente Introducción General escrita pelo Pe. Santiago Ramírez, O.P. na Introdução da Suma Teologica de Santo Tomas de Aquino, da Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1957, tomo I, referindo o número da página em que aparecem as citações.
- Ramírez, p. 15.
- Guillelmus de Tocco, O.P., Vita S. Thomae Aquinati, apud Ramírez, p. 28.
- Fr. José Maria de Garganta, O.P., Introducción General, p. 8, Suma Contra los Gentiles, tomo I, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1952.
- Juan de Colonna, O.P., De Viris Illustribus, apud Ramírez, p. 57.
- Metaphysica, l. 1, apud Ramírez, p. 79.
- Ramírez, p. 79.
- Cfr. Ramírez, p. 38.
- Luis de Valhadolid, Brevis historia…, apud Ramírez, p. 80.
- Cardeal C. Laurenti, San Tommaso Dottore e Santo, apud Ramírez, p. 82.
- O. Mazzella, San Tommaso e Aristotele, apud Ramírez, p. 82.
- Id.ib., apud Ramírez, p. 82.
- Ramírez, p. 82.
- Bartolomé de Capua, Processo napolitano de canonização, apud Ramírez, p. 87.
- M.H. Laurent, O.P., Pierre Roger et Thomas d’Aquin, apud Ramírez, 98-99.
- J. Berthier, O.P., S. Thomas Aquinas, Doctor Communis, apud Ramírez, p. 103.
- Id., apud Ramírez, p.108.
- Id., apud Ramírez, p. 119.
- Carta de 20 de setembro de 1892 ao Geral dos Dominicanos, André Fruhwirth, apud Ramírez, p. 112.
- Apud Ramírez, pp. 113 a 117.
- Id. ib., apud Ramírez, p. 127.
- Motu próprio Doctoris Angelici, AAS 6, apud Ramírez, p. 137.
- J. Berthier, op.cit., apud Ramírez, p. 135.
- Epístola ao P. Em Hugon, O.P., 16 de julho de 1913, apud Ramírez, p. 135.
- Id. ib., apud Ramírez, p. 136.
- Epistola ao P. Tomás Pègues, O.P., 17 de novembro de 1907, em Berthier, Ramírez, p. 136.
=======