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O crepúsculo dos políticos
Estranho fazer uma revolução com dia, hora e local previamente marcados? Concordo. Mas leia o programa e a agenda da concentração de hoje e diga se não é uma proposta revolucionária: "Cercar o Congresso indefinidamente, exigir sua dissolução, provocar a demissão do governo e do chefe de Estado [o rei], abrir um período constituinte e convocar novas eleições".
A agenda é de um segmento do 15M (15 de março de 2011, a data em que começaram as manifestações dos que se diziam "indignados").
Duvido que a moçada alcance seus objetivos, mas, pelas dúvidas, o governo destacou um forte contigente policial, formado por 1.350 homens, para proteger o Congresso, além de ter estabelecido cordões de isolamento que, em tese, impedirão que os manifestantes abracem o prédio como pretendem.
Além disso, reservou para o que os manifestantes chamam de "assembleia geral" (prevista para durar cinco dias) a praça de Cibeles, 700 metros ladeira abaixo do "Palácio de las Cortes", o neoclássico edifício que abriga o Congresso de Deputados da Espanha.
A "assembleia geral" na Espanha é apenas um dos incontáveis sintomas de que os políticos convencionais estão vivendo seu crepúsculo.
Na semana passada, em Portugal, colossal manifestação da mesma índole não chegou a derrubar o governo, mas derrubou, sim, mais um corte, na forma de um aumento de 7% na contribuição dos assalariados para a Previdência Social, o que, como é óbvio, talharia os salários na mesma proporção.
Mais informações sobre o crepúsculo:
1 - Pedro Passos Coelho, eleito primeiro-ministro de Portugal em junho de 2001, é um ano depois o último colocado entre os políticos locais, em termos de aprovação (nota 6,3 de 20 possíveis), conforme pesquisa do jornal "Diário de Notícias".
2 - Mariano Rajoy, seu colega espanhol, eleito mais recentemente (novembro), tem seu prazo de validade já vencido: pesquisa de "El País" do dia 9 mostra que 84% dos espanhóis têm pouca ou nenhuma confiança nele.
3 - Pesquisa divulgada domingo na França informa que apenas 43% dos franceses estão satisfeitos com o presidente socialista François Hollande, 11 pontos percentuais menos do que quando assumiu, em maio, faz apenas quatro meses.
É bom lembrar que 14 governos europeus foram "derrubados" nas urnas desde que a crise se reinstalou, em 2010. Onde governava a esquerda, ganhou a direita e vice-versa.
Portugal, Espanha e França se incluem nesse troca-troca. O desgaste de seus novos governantes explica os ensaios de revolução convocados por fatias mobilizadas da sociedade, como ocorre hoje na Espanha.
É razoável supor que Mariano Rajoy sobreviverá, mas não é razoável imaginar que possa durar muito tempo (tem, em tese, mais 3,5 anos de mandato) ante tamanha desconfiança do público, seja do que vai ao encontro marcado pela revolução, seja dos que preferem curtir em casa sua desconfiança.
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