Em política, dois agora é pouco
Exemplos mais recentes: na França, nas eleições regionais de domingo (13), a ultradireitista e xenófoba Frente Nacional introduziu uma cunha na tradicional disputa entre direita e esquerda.
É verdade que a FN não conseguiu ganhar em nenhuma das 13 regiões em jogo, mas ficou com 27,44% dos votos, menos de dois pontos atrás da coalizão de esquerda liderada pelos socialistas (29,3%).
Yves Herman - 13.dez.2015/Reuters | ||
Apoiadores da Frente Nacional na região Nord-Pas-de-Calais-Picardie no dia do segundo turno |
Prova de que a FN quebrou o bipartidarismo é, por exemplo, o anúncio do primeiro-ministro Manuel Valls, após os resultados, de medidas imediatas contra o desemprego, que, na altura de 10,2%, permanece como o primeiro fator de voto na Frente Nacional, segundo o jornal "Le Monde".
Parece ser evidente, pois, que o arranhão severo no bipartidarismo é um filho direto da crise de 2008, por sua vez responsável pela teimosa persistência de um desemprego elevado.
Vale para a França, vale para a Espanha, em que as eleições do próximo domingo (20) mostrarão uma ruptura ainda mais notável do bipartidarismo, que vem desde o fim da ditadura franquista, o que já faz 40 anos.
Se as pesquisas estiverem certas, desabará o voto nos tradicionais Partido Popular (conservador) e Partido Socialista Operário Espanhol (centro-esquerda).
Na eleição imediatamente anterior à crise de 2008, PP e PSOE levaram, juntos, 83,8% dos votos.
Agora, segundo a média das pesquisas, o PP ficará com 27%, e o PSOE, com 21%. Uma sangria conjunta, portanto, de quase 36 pontos percentuais.
Essa cesta de votos foi para dois partidos novos: Podemos (filho direto do movimento dos indignados, que protestavam contra a crise) e Cidadãos, nascido da resistência ao nacionalismo catalão, mas que, nos últimos dois anos, se nacionalizou.
Pierre-Philippe Marcou - 24.ago.2015/AFP | ||
O eurodeputado Pablo Iglesias, do Podemos, fala à imprensa na sede do partido, em Madri |
"Somente é possível entender o labirinto político espanhol à luz da profunda crise vivida a partir de 2008", escrevem, para a revista "Nueva Sociedad", César Renduelas e Jorge Sola, ambos da Universidade Complutense de Madri.
A Espanha viveu cinco anos de lacerante recessão, uma ferida não cicatrizada nem com a recuperação dos dois anos mais recentes: a economia ainda é 4,6 pontos percentuais mais magra do que o teto alcançado em 2008.
Os dois partidos que geriram a recessão perderam metade dos votos que tinham. Ganhe quem ganhe agora, terá que conviver com os novos atores, filhos da crise e nascidos de baixo para cima.
E, no Brasil, em crise igualmente lacerante, não vai acontecer nada em termos partidários? A rua continuará espectadora do desastre?
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