Plinio Corrêa de Oliveira
Falsa alternativa
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14 de julio de 2014
Falsa alternativa - Legionário, Nº 723, 16 de junho de 1946 - Plinio Corrêa de Oliveira
NOTA DEL BLOG: Este artículo fue escrito un año y poco después de haber terminado la Segunda Guerra Mundial. Parece escrito para los días de hoy, cosa muy frecuente en los escritos de Plinio Côrrea de Oliveira, en que a menudo lo presente sabía proyectarlo para el futuro. Creemos que el artículo habla por si mismo y no necesita de ninguna explicación.
Toda a luta da Igreja contra os liberais no
século passado pode, ao menos de certo ponto de vista,resumir-se em algumas
linhas. Receosos dos excessos do poder público, eles diminuíam de tal maneira
as atribuições da autoridade, que a tornavam impotente, não só para conter
ilegalidades, mas até para manter a ordem pública. Isto é um mal, ensinava a
Igreja. Ninguém tem o direito de praticar o mal. Assim, toda a constituição
política que tire ao Estado o poder de reprimir pronta e completamente o mal,
está errada em sua própria base. Os fatos comprovaram, com trágica eloquência,
o ensinamento da Igreja. É só ler as cartas políticas da maior parte das nações
ocidentais no século passado, e ainda nas primeiras décadas deste século: todas
elas atavam de tal maneira o poder público que este, impotente para conter a
maré montante da anarquia, não tinha outro remédio senão assistir de braços
cruzados o naufrágio lento e inexorável da ordem social. Bem apurada
a causa deste erro, ela se reduz à idéia de que não é possível
organizar tão bem o Estado que ele reprima o mal, sem ao mesmo tempo sacrificar
a liberdade de fazer o bem. E, diante desta afirmação inicial, os
liberais, preferindo a anarquia ao despotismo, deixaram deslizar os interesses
públicos pela rampa do liberalismo e da dissolução de toda a vida social.
Penso que nunca se atentou bem para este
ponto, que é o verdadeiro nervo das questões suscitadas entre católicos e
liberais. Muitos há que têm pensado que diante da inevitável alternativa
entre o excesso da liberdade ou o abuso de autoridade, o liberal era partidário
do primeiro e a Igreja do segundo.
De fato, porém, a tese da Igreja é outra.
Ela contesta o valor científico da alternativa anarquia-despotismo. Desde que
Deus dispõe com tão admirável sabedoria a ordem universal, no que diz respeito
aos seres inanimados e irracionais, seria monstruoso imaginar que Ele a
houvesse organizado de modo imperfeito no que diz respeito ao homem. Há de
haver no homem qualidades em estado potencial, que o habilitem a constituir a
sociedade humana de modo ainda mais perfeito do que o que se observa entre os
seres irracionais, entre as abelhas ou as formigas, por exemplo. Do contrário,
o homem não seria a obra prima de Deus.
Isto posto, não é possível que a condição
normal da sociedade humana só se possa encontrar dentro de uma destas trágicas
alternativas: caminhar para a anarquia, ou jazer sob o peso do
despotismo. Há de existir, existe a possibilidade de organizar
estavelmente, duravelmente, normalmente, a sociedade humana, em um ponto de
equilíbrio que não tenda para qualquer destes dois extremos.
E precisamente por isto é que a
Igreja condena os liberais que preferem o caminho da anarquia. Ela se
recusa a escolher entre as duas vias de perdição: entre os abismos que se abrem
de um lado e do outro, Ela aponta à humanidade o caminho certo, que não
tende nem para a anarquia nem para o despotismo. Este caminho é a ordem
cristã.
*
* *
Durante muitos decênios o liberalismo procurou
iludir a Igreja. O monstro liberal tinha mil faces para todos os gostos. Uma
delas sorria à Igreja, procurando aliciar e fascinar seus filhos ingênuos. Outra olhava
a Igreja com uma fisionomia apreensiva e de cenhos cerrados, com o intuito
de paralisar os católicos medrosos.Outra, ainda, fitava a
Igreja com a suspicácia, o tédio, o mau humor com
que o filho pródigo correu os olhos pela casa paterna no momento da despedida:
pura manobra para desanimar a reação dos católicos autênticos, que temessem uma
apostasia em massa de seus irmãos, os católicos liberais. E dito tudo
isto, não está esgotada a descrição da hidra. Em mil outras cabeças, com
mil outros aspectos, anti-clericalismo, livre pensamento, […] anarquismo, ela
impelia ao assalto das Igrejas, à violação dos tabernáculos, à profanação das
imagens, ao assassínio dos sacerdotes e das virgens consagradas, dos reis e
chefes de Estado, esta turba multa de niilistas, petroleiros, carbonários,
bandidos, que desde 1789 até nossos dias, não têm cessado de operar, aqui ou
acolá.
É claro que, a tão disparatadas atitudes no
campo liberal, haveria de corresponder uma grande diversidade de
tendências no campo católico, quanto ao modo de encarar a hidra e de a
combater.
Raros eram os
que lhe percebiam todas as faces. Destes, mais raros ainda eram
os que compreendiam que esta pluralidade de faces não era a imagem externa de
uma íntima vacilação de tendências da grande hidra. Que tudo quanto era sorriso
era mentira; e tudo quanto era blasfêmia era verdade. Que apesar de suas
aparentes incertezas e contradições, o liberalismo era lógico, inflexível,
invariável, na sua marcha para a anarquia e para o ateísmo.
A tantas faces,
deveriam corresponder outras tantas linguagens diversas. Nem tudo que o
liberalismo propunha era forçosamente condenado, em si mesmo, no campo da pura
doutrina.
Assim, era possível concordar com algumas
reivindicações liberais, sem professar implicitamente doutrina condenada pela
Igreja.
O que fazer? Concordar com o que era possível,
para depois amansar a fera? Ou atacá-la desde logo, de pronto, de rijo, sem
vacilação?
Tentou-se um pouco de tudo. E, no fim,
considerada a evolução da Europa no século XIX, uma só verdade salta
claramente aos olhos. O movimento liberal, a despeito de todas as
tentativas de colaboração católica, tomou conta da Europa, e realizou seus
objetivos essenciais: descristianizou-a, laicizou-a, dissolveu a família e
o Estado, e arrastou o mundo contemporâneo por um caminho em que chegou a dois
dedos da anarquia.
O terror súbito desta anarquia foi o sentimento
de cuja força propulsora nasceu a reação contrária: o fascismo e o
nazismo.
*
* *
Diante da falsa alternativa "despotismo-anarquia",
os totalitários de todos os matizes preferiram o despotismo para reagir contra
a anarquia.
Terão acertado? Está claro que não.
Porque mais uma vez não souberam libertar-se da alternativa errada.
Ficaram dentro dela, e, fugindo do liberalismo, escorregaram do vértice do
dilema, para o fundo do abismo. Não compreenderam que não se tratava de
escolher, entre os dois precipícios, um. Mas de procurar o Caminho que não
conduz para os abismos, mas para o Céu.
De sorte que a reação contra a anarquia,
em lugar de nos levar à Civilização Cristã, nos levou para outro desastre:
o Estado Moloch.
Seja dito isto para se compreender muito bem
que há uma raiz comum entre o liberalismo e o despotismo. Que
despotismo? As questões de cor política não interessam. Seja ele de
bandeira parda, vermelha, preta, é sempre o despotismo. E se este
despotismo for brando, benigno, macio como o despotismo róseo que o governo
trabalhista quer instaurar na Inglaterra, ainda assim, será sempre o
despotismo.
O socialismo de hoje, como o nazismo ontem,
como anteontem o liberalismo, ostenta mil faces, sorri com uma à Igreja,
ameaça-a com outra, e discursa contra ela com outra ainda.
Contra este novo socialismo, como outrora
contra o liberalismo, a atitude dos católicos no mundo inteiro, mas
sobretudo na Europa, só pode ser uma: combate decidido, franco, inflexível,
destemido.
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