15 de octubre de 2013

MAIS DOIS PRÊMIOS NOBEL, MAS COM COMEMORAÇÕES PELA METADE

RUA JUDAICA
Edição 330    Diretor / Editor: Osias WurmanSexta, 11 de Outubro de 2013

Por Daniela Kresch
Jornalista
direto de Israel
MAIS DOIS PRÊMIOS NOBEL, MAS COM COMEMORAÇÕES PELA METADE 
TEL AVIV – Os israelenses não conseguem comemorar nada até o fim. Sempre tem que ter um “mas” na alegria. Por exemplo, semana passada dois israelenses ganharam o Prêmio Nobel de Química. Bom, né? Ótimo! Mas não por aqui. A premiação de Arieh Warshel e Michael Levitt, que dividem o Nobel de Química deste ano com o austríaco Martin Karplus, levou a uma enxurrada de reclamações na imprensa porque os dois cientistas deixaram Israel e hoje moram nos Estados Unidos. Warshel nasceu em Israel, estudou no Instituto Weizmann, em Rehovot, e no Technion, em Haifa, depois foi para América. Levitt nasceu na África do Sul, imigrou para Israel aos 35 anos, casou com uma israelense, foi chefe do Departamento de Química do Weizmann, e acabou também indo para os EUA.

Certo, seria melhor se os dois tivessem continuado em Israel, como professores e pesquisadores. Mas o fenômeno de fuga de cérebros não é apenas israelense. Quantos cientistas brasileiros deixaram o país para alguma das grandes faculdades americanas? Eles querem aproveitar a infraestrutura da maior potência mundial, já que em seu próprio país não dispõem de condições para fazer o que sabem fazer melhor: pesquisar.
Da esquerda para a direita, Martin Karplus, Michael Levitt e Arieh Warshel (Foto: AFP PHOTO / TT NEWS AGENCY / CLAUDIO BRESCIANI)
a esquerda para a direita, Martin Karplus, Michael Levitt e Arieh Warshel , todos judeus, sendo Warshel nascido num kibutz.
Mas, para os israelenses, se trata apenas de um fenômeno local. Israel (incrível!) perde seus melhores cérebros para os americanos! Só Israel! No Canal 10 da TV, por exemplo, um repórter apresentou dados impressionantes (e mais do que duvidosos...). Segundo ele, enquanto que 29% dos pesquisadores israelenses deixam o país, na França, só 3% fazem o mesmo. No Canadá, só 7%. UAU! Israel é um horror, segundo esse repórter, que segue a tendência local de comparar Israel apenas ao Canadá, à França e, às vezes, à Inglaterra, países ricos, estáveis e que existem há centenas de anos.

E outros países que perdem cérebros, como o Brasil, Índia, Rússia, China, Espanha... E o fato de que Israel tem apenas 7 milhões de pessoas e poucas universidades devido a seu tamanho? É verdade que, atualmente, 5.800 cientistas israelenses estão no exterior. Mas e quanto aos cérebros de fora que estão aqui? Inúmeros doutores russos imigraram para cá, além da “aliá” de judeus de todos os países do mundo, desde a criação do país.
A descoberta de como ocorre o transporte celular deu aos cientistas norte
Os judeus norte-americanos James E. Rothman e Randy W. Schekman, além do alemão Thomas C. Südhof, conquistaram o “Prêmio Nobel de Medicina”
Israel se consolida como uma indústria de prêmios Nobel, com 12 ganhadores até hoje. Teve Nobel da Paz (Menachem Begin in 1978 e Shimon Peres e Yitzhak Rabin in 1994), de Economia (Daniela Kahneman em 2002 e Robert Aumann em 2005), de Química (Daniel Shechtman em 2001, Ada Yonath em 2009, Aaron Ciechanover e Avram Hershko em 2004 e de Literatura (Shai Agnon em 1966). Agora foi a vez de Arieh Warshel e Michael Levitt (o terceiro ganhador, aliás, também é judeu e deu aulas no Instituto Weizmann).
É claro que seria ótimo se Israel investisse mais em locais de pesquisa para todos os seus brilhantes cientistas. Mas é utópico em se tratando de uma pequena nação que enfrenta problemas sociais e de segurança. Num mundo perfeito, todos pesquisariam por aqui, ganhando ótimos salários e doações para estudos. Mas não vivemos no mundo perfeito. E o “brain drain” não é um fenômeno apenas azul e branco.

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