21 de julio de 2013
Em vitória de Assad, oposição na Síria começa a se auto-destruir em lutas entre rebeldes
O Estado de S. Paulo, Blog,segunda-feira, 15.julho.2013 12:57:44
Em vitória de Assad, oposição na Síria começa a se auto-destruir em
lutas entre rebeldes
Guga Chacra
Existem hoje duas guerras civis na Síria. A primeira é a genérica,
entre o regime e a oposição. Nesta, claramente, as forças de Bashar al Assad
têm sido vitoriosas, embora estejam distantes de restabelecer o status quo
anterior. Mas parece ser suficiente para garantir a permanência do líder sírio
no poder em Damasco e o domínio dos principais centros urbanos do país, menos
partes de Aleppo.
A segunda guerra civil é entre os próprios grupos da
oposição e tem se agravado nas últimas semanas nos territórios controlados
pelos rebeldes. Sabemos que existem mais de mil facções armadas dos opositores.
Para simplificar, as dividirei em três subgrupos.
O primeiro é o dos curdos. Eles não almejam derrubar Assad. Querem
apenas autonomia na áreas controladas por eles. De uma certa forma, atingiram
este objetivo e até mantêm uma coexistência com o regime, que não os incomoda.
Inclusive, joga o problema para a Turquia, onde o governo de Recep Tayyp Erdogan
apoia os opositores sírios, mas reprime os curdos.
O segundo subgrupo seria o Exército Livre da Síria. Existente
quase que exclusivamente no nome, congrega facções defensoras da queda de
Assad, mas não do estabelecimento de um Estado islâmico no país, mesmo sendo
formada majoritariamente por sunitas religiosos – os sunitas seculares costumam
ficar ao lado do regime e dos cristãos, alauítas e drusos. Seu comandante é o
general Salim Idris. Homem respeitado, porém com pouca autoridade sobre esta
própria organização que lembra uma colcha de retalhos. O principal suporte a
eles vem da Arábia Saudita e Jordânia.
O terceiro subgrupo é composto por uma série de organizações
extremistas, sendo a mais conhecida delas a Frente Nusrah, considerada
terrorista pelos Estados Unidos e ligada à Al Qaeda. Eles não querem apenas a
queda do regime secular de Assad. Defendem um Estado radical islâmico similar
ao Afeganistão do Taleban em uma nação mediterrânea de tradição liberal como a
Síria. O principal apoio vem do Qatar, da Líbia e de jihadistas ao redor do
mundo.
A guerra civil entre a oposição se dá entre estes dois últimos
subgrupos – Exército Livre da Síria e as organizações extremistas como a Frente
Nusrah. Hoje, os radicais são bem mais poderosos.
Os Estados Unidos, ao armarem o Exército Livre da Síria, não visam
a queda de Assad neste momento. Querem, na verdade, mudar a balança de poder
entre os rebeldes. Isto é, o ideal seria deixar as forças de Idris mais fortes
do que as da Frente Nusrah. A partir deste momento, a próxima etapa seria um
diálogo como o regime para uma transição em direção à democracia, por mais
utópico que isso possa parecer.
O cenário otimista seria até as eleições previstas em 2014. Neste
caso, Assad concordaria em deixar o poder não concorrendo a uma reeleição,
encerrando o mandato e podendo permanecer na Síria. Membros do regime poderiam
disputar eleição contra o general Idris ou outros opositores moderados, por
exemplo.
Para os americanos, o pior não é Assad, mas a Frente Nusrah.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e
do programa Globo
News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela
Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S.
Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da
Folha em Buenos Aires
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