Autor principal:
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Orientador
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Grau acadêmico
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Mestrado
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Idioma:
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Português
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Instituição
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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Ano de defesa:
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2013
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Assuntos:
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13 de mayo de 2015
O conservadorismo de matriz católica representado no Brasil pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP)
UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA
JÚLIO
DE MESQUITA FILHO
NR: em São Paulo, para debater
sobre as “contradições da direita contemporânea: diferentes linhagens do pensamento conservador brasileiro em sua história recente”, o CEDEM, Centro de Documentação
e Memória da Unesp –
Universidade de São Paulo,
patrocinou evento na quinta-feira, dia 30 de abril de 2015, em sua sede
na Praça da Sé, 108, 1º andar.
Segundo o anúncio, “o afloramento dos conflitos sociais que o
último período eleitoral brasileiro trouxe a tona desperta o interesse e, ao
mesmo tempo, faz com que o momento seja propício para discussão das
diversas linhagens que foram
constituindo o pensamento
conservador brasileiro ao longo do século XX.
Ao recuar
para as décadas passadas esse debate
pretende refletir sobre como foram geradas essas formas de encarar o mundo e
como diversos desses conceitos continuam a informar todo um conjunto social que
se bate em defesa da ordem constituída e na busca de reverter mesmo os avanços
sociais conquistados dentro dessa ordem.
Para isso os pesquisadores convidados
abordarão três vertentes com importantes diferenças entre si, mas que
ajudaram a formar um mesmo caldo cultural hoje presente na sociedade
brasileira:
·
a regressividade representada pelo Integralismo,
·
o conservadorismo de matriz católica representado no Brasil pela Sociedade
Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP)
·
e o arcabouço jurídico de manutenção
de ordem forjado pelo ex-ministro da justiça Alfredo Buzaid”.
CEDEM
Centro de Documentação
e Memória
DEBATEDORES
Antonio
Rago Filho
Professor,
Doutor do Departamento de História da PUC-SP e do Centro de Ciências Sociais da
Fundação Santo André. Coordenador do
Núcleo de Estudo sobre Trabalho, Ideologia e Poder da PUC-SP (NETIPO).
Luis
Felipe Loureiro Foresti
Mestre em
História Social pela PUC-SP e Pesquisador
do Núcleo de Estudo sobre Trabalho, Ideologia e Poder da PUC-SP
(NETIPO).
Rodolfo
Costa Machado
Mestrando
em História Social, Bacharel em Direito, ambos pela PUC-SP e Pesquisador do
Núcleo de Estudo sobre Trabalho, Ideologia e Poder da PUC-SP (NETIPO).
Mediadora
Sonia
Maria Troitiño Rodrigues
Professora
Doutora do Departamento de Ciências da Informação na UNESP Marília/SP.
Ex-Diretora do Centro de Arquivo Permanente do Arquivo Público do Estado de São
Paulo, com experiência na área de Arqueologia.
É Coordenadora do CEDEM – Centro de Documentação e Memória da
UNESP. http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,748580,Contradicoes_da_direita_contemporanea,748580,8.htm
O
evento – com vagas limitadas para 60 pessoas, o
auditório estava lotado de toda espécie de “ativistas de esquerda”, como os
qualificou o Prof. Rago, em suas palavras iniciais de boas vindas. Eram
professores, líderes comunitários, universitários de ambos os sexos etc.
Na parede
atrás dos conferencistas, durante toda a sessão, ficou projetada a foto abaixo,
da passeata de 1964, com faixa onde se lê:
O
BRASIL NUNCA SERÁ
UMA
NOVA CUBA.
Os
conferencistas fizeram paralelo com as manifestações dos dias 15/3 e 12/4/2015,
na Avenida Paulista, onde populares levavam cartazes com dizeres similares.
A seguir,
transcrição do áudio de vídeo gravado por participante.
Mediadora:
(...) “Reações diversas que vem acontecendo nos últimos meses, mais que doze
meses por assim dizer e cuja discussão se faz necessária, porque essas reações atuais, esse momento
conturbado, ele não nasce simplesmente
hoje. Ele tem algumas raízes anteriores.
O Prof. Antonio Rago Filho,
o Luis Felipe Foresti , o Rodolfo
Machado, eles vem recuperar, esclarecer para a gente um pouquinho, das origens e das diferenças
dessas diversas vertentes do pensamento
conservador brasileiro, ao longo
de todo o século XX.
Um dos objetivos principais
da mesa é justamente é refletir como
foram geradas e como permaneceram esses resíduos ao longo de toda a história
de o século XX e que hoje acabam
desembocando no que a gente tem presenciando, no que a gente tem vivendo.
Cada dos palestrantes da
mesa vai apresentar uma vertente diferente do pensamento. O Prof. Rago vai
iniciar sua fala , iniciar esse debate, apresentando , sobre a regressividade, representado pelo
movimento , pelo integralismo .
O Luis Foresti que vai sobre
o conservadorismo de matriz católica,
representanda no Brasil, especialmente
pela Sociedade
Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a conhecida
TFP e
o Rodolfo vai finalizar discutindo um
pouco sobre o arcabouço jurídico de manutenção da ordem forjada especialmente pelo ex-Ministro de Justiça
Alfredo Buzaid ”. (...)
(NR: passa a fazer a
apresentação dos debatedores)
(...) Prof. Dr. Luis Felipe Foresti: Ao fazer
a pesquisa, ao procurar entender essas formas conservadores de pensamento e de atuação,
ele facilitou um pouco o meu trabalho.
Eu vou falar agora de outro Plínio. O Plinio Corrêa de
Oliveira, líder, pensador católico bastante importante no Brasil e
não só no Brasil. Ele é um cara que vai ter uma difusão internacional bastante
forte, né, e é o fundador da TFP. Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade, mais conhecida como TFP.
E a primeira coisa legal de
trazer o Plínio
Corrêa aqui para essa mesa, trazer a própria TFP. É porque a percepção... a TFP acabou virando uma espécie de marca, uma espécie de grife, como rótulo para certos
conservadorismos.
Eu não sei se vocês, aquela
música , a música é velha, antiga, da
década de 80, aquele samba-enredo da TFP, que
óbvio eu não vou me aventurar aqui a cantar, mas é aquela associação à TFP de
todos os conservadorismos. Inclusive do conservadorismo integralista.
A música brinca uma hora,
fala de Plinio
Corrêa fazendo Anauê. E o
Plínio nunca foi integralista. Muito pelo contrário. Tem uma condenação tanto
ao integralismo. Não que o absolva de nada. Tem uma condenação tanto ao
integralismo , ao fascismo, quanto ao nazismo
que é de primeira hora.
Porque que eu estou falando
isso? É muito importante que a gente consiga entender isso. Entender a real
configuração de cada um desses conservadorismos que a gente está apresentando
aqui hoje, para que a gente consiga para a gente entender como eles mobilizam
certos setores sociais. Ou seja, que função essa visão de mundo vai cumprir.
Eu defendo que o Plínio
tinha uma visão de um mundo, articulada,
coerente, defendo porque acho que a
realidade me mostra isso. Me permite afirmar isso. Que foi capaz e ainda é
capaz de mobilizar, tanto na sua totalidade a ação de certos grupos sociais , quando
vetores desse pensamento estão presentes na ação desses conservadorismos
contemporâneos.
Não é a toa que a gente escolheu para o debate essa imagem . Essa imagem é das manifestações
da década de 60. A última vez que a
direita esteve tão forte na rua antes de agora. E é um cartaz que a gente viu
agora em manifestações coetâneas.
Para eu tentar não me
alongar aqui, o pensamento do Plínio. Plinio Corrêa
de Oliveira , ele é um pensador católico, que começa a atuar lá na
década de trinta. Com uma visão bastante regressista num sentido diferente do que a gente usa no integralismo,
de uma visão de volta ao passado, que no
começo ele está atuando ali em sintonia com Alceu de Amoroso Lima, com aqueles pensadores do Centro Dom Vital, de um
grupo conservador católico forte, e depois vai
romper, parte por mudança de posição da Igreja, parte por mudança de
posição desses outros pensadores, o Alceu,
o Tristão de Athayde é um cara que ... uma figura fascinante que vai ter várias mutações ao longo do seu percurso. E
se torna um dos principais líderes católicos no Brasil e depois toma uma vertente muito liberal.
Plinio
começa muito alinhado com ele, mas vai ser um cara conservador até o final. E o que
constitui o conservadorismo do Plinio? Ele defende uma volta ao passado. Volta ao
passado nos seguintes termos. Ele tem uma idéia de Idade Média, que seria aquilo
que normalmente ... hoje, comparado com aqueles historiadores muito século XIX
que identificaram a Idade Média como idade das trevas . Só que para o Plinio, isso que muitos leram como
idade das trevas, era o paraíso na terra. Paraíso na terra,
Porque? É o momento que ele
indica na história mundial a maior sintonia entre o elemento divino e o
elemento terreno. Em outras palavras. É o momento em que ele identifica na
história mundial, a maior concordância
entre do que estaria ... do que seria uma pré-disposição divina de como esse
mundo se configurou.
Um mundo hierarquizado.
Dividido naturalmente entre grupos
sociais, que tem essa função, num plano terreno, advinda de um plano
espiritual, no caso, advinda de Deus, um
mundo plenamente hierarquizado, onde
você tem dominantes e dominados. Senhores e servos.
E ele enxerga que essa
ordem terrena que chegou mais próxima
da perfeição na Idade Média começa a ser rompida com o que ele chama de Pseudo-Reforma. Que na
verdade é a reforma protestante. Ele tem uma visão de mundo que enxerga três
grandes rupturas num processo uno que ele vai denominar de A Revolução.
A primeira que ele chama, a
reforma protestante , que chama de pseudo-reforma, que seria o igualitarismo no
plano teológico, ou seja, a idéia de que
é possível ao homem, a qualquer homem, interpretar os desígnios de Deus.
O segundo momento dessa
Revolução ele associa com a Revolução
Francesa. Que é esse igualitarismo
descendo ao plano , legislar, ao plano jurídico. Ou seja, a idéia de que
perante a lei os homens podem ser iguais. Coisa que ele obviamente ele
discorda.
E o terceiro momento desse
processo uno que ele vai dizer aqui que é a Revolução, se dá em 17, para ele é
a Revolução russa. Onde esse igualitarismo teria descido ao plano social. Que aí seria a idéia de que os homens
são iguais. Ele acha isso evidentemente, não é força de expressão, acha isso o
inferno na terra. Ele acha que isso é a
corrupção completa da ordem divina.
Nesse sentido, o Plinio
vai empreender toda uma luta, que vai
desde sua militância na década de 30, até a fundação da TFP,
até a publicação
do livro chave, que é esse aqui, chamado Revolução e Contra-Revolução. Em
1959. Que é o manifesto da fundação da TFP.
Até a fundação da TFP na década de 60, toda a
militância dessa organização, que hoje se transmutou em outra coisa, depois da
morte dele, mas está viva. Está aí atuando em diversos grupos. Para defender essa volta ao passado.
Aí retomando aquilo que o Rago falou.
O que interessa aqui é
entender como essa volta ao passado , como essas idéias mobilizam certos
setores. A volta ao passado ,
embora o Plinio
defenda, e vá dizer da estrutura
medieval, o medievo vai ser sempre o
teto, o objetivo dele.
Conforme você vá descendo a
leitura dos textos plinianos, você
percebe que essa volta ao passado não é exatamente uma volta ao passado
medieval. Sob a égide dessa volta a esse passado medieval, uma defesa da sociedade atual, do status
atual . De que maneira? Com uma sociedade onde você vai ter um grupo dominante
e um grupo dominado.
O Lukács (NR:
filosofo húngaro György (ou
Georg) Lukács. Essas idéias estão expostas (entre outros) em seu livro
"Existencialismo ou Marxismo" na parte em que o autor trata do
declínio da filosofia burguesa) quando ele fala do declínio da
filosofia burguesa, ele tem uma frase de que eu gosto muito, em
que ele fala : a partir da consolidação do capitalismo,
aqueles primeiros filósofos liberais que eram radicais, que militavam por uma
transformação radical, num período onde o capitalismo não estava
consolidado, eles não tem mais chão
social para existir, então os filósofos liberais da época , do declínio da
filosofia burguesa, ele usa essa expressão, eles vão ser os guardas de
fronteira do liberalismo.
Ou seja, é aquele pensamento
que não vai mais se impor porque senão vai acabar, superando aquela própria
ordem, então ele é um pensamento que
inverte, inverte o que aqueles primeiros
filósofos liberais fizeram, não invertem, muda a entonação do que aqueles
primeiros filósofos liberais fizeram e vira um pensamento de manutenção da ordem.
E é exatamente isso que o Plinio
faz. Sobre a argumentação da volta ao passado medieval, ele vai sempre cumprir
a função social de manutenção dessa ordem de exploração do homem pelo homem.
Essa manutenção dessa ordem onde você tem dominantes e dominados.
O Plinio vai fazer essa leitura por
uma ... e aqui é até legal marcar a diferença dele com o integralismo ou com o
nazis-fascismos. Porque que o Plinio, desde a década de 30, um crítico – isso
chega até a ser engraçado – porque o Plinio durante a década de 70, um grande antagonista dele vai ser o Dom
Helder Câmara. E ele não vai perder chance de fustigar o Dom Helder,
porque o Dom Helder ali na década de
30, transitou ali, mais do que isso até,
estava ali no meio dos integralistas. E o Plinio,
nunca!
Só que porque o Plinio
nunca se juntou a esses conservadorismos? Porque o que sempre o assustou ,
tanto no nazismo quanto no integralismo
é o componente plebeu. O componente de massas.
Plinio advogou desde seu primeiro livro, lá sobre a
Ação Católica, na década de 40, que as massas não tem condição de fazer
história. Não tem condição de agir no mundo. Tanto que a primeira grande
intervenção pública do Plinio é um debate com Alceu, não é a primeira, mas é a que rompe as barreiras ... que rompe a
barreira do internacional, a que tem
aprovação do Vaticano, do Pio XII, é o livro que ele escreve em 43, sobre a
Ação Católica, onde ele vai, ele tem uma disputa com o Alceu Amororo Lima, que
o Alceu muito apoiado na filosofia do Jacques Maritain, defendia que os leigos
deviam estar mais inseridos no comando da Igreja.
E o Plinio entende que só um grupo de
elite pode estar inserido no comando
da Igreja. Não só da Igreja. Mas da Ação Católica. No comando de qualquer associação. Esse
primeiro grande debate dele, ou seja, defendendo uma elite por natureza, uma elite de bens
nascidos, como os circuladores da vida no mundo, vai se manter
até o fim da vida dele.
O último livro que o Plinio
escreve chama Nobreza, na verdade o livro chama Nobreza e Elites Análogas nas Alocuções de Pio XII. É um livro
enorme. Mas para você ter uma idéia, é a
época em que João Paulo II tinha adotado
com o signo do episcopado latino-americano, da opção preferencial pelos
pobres, e o Plinio
vai lançar a dele, que é a opção preferencial pelos nobres.
É um chiste com ... antipapal,
mas que dá bem a forma como ele vê essa divisão do mundo. E é, para a gente entender o percurso desse
conservadorismo na década de 60, é importante notar... eu estou dando só
algumas pinceladas, eu sei que a gente
vai ter um debate depois, senão o tempo não vai dar ´para falar tudo que eu queria... mas outra coisa que eu gostaria de chamar a
atenção é como isso vai gerar afastamento do Plinio com a própria Igreja
Católica.
Porque se no começo da
militância dele, ali na década de 30, você pode dizer que tirando um ou outro
ajuste pontual, ele está plenamente afinado com os ditames advindos do Vaticano, pós João XXIII e
notadamente pós Concílio Vaticano II,
começa a haver uma ruptura. Uma ruptura que na leitura da TFP, dá
em coisas muito interessantes.
A Igreja para ele, [e[ a
interprete autorizada da vontade... [e o Papa o interprete da vontade de Deus
na terra. Isso funcionava muito bem at[e Pio XII. Pio XII aprova um dos livros do Plinio. Chama ele de especialista no
tema. Esse livro que eu falei sobre a Ação Católica . Diz que o livro
merece ser lido por todos.
Com João XXIII não há grande conflito. Não
há grande conflito com a figura do
João XXIII. Há uma enorme ruptura
com o Concilio Vaticano II. Com Paulo VI, Plinio tem conflitos a ponto de em 1974 chegar a
publicar uma declaração de Resistência ao Papa.
Como para a TFP era impossível
romper com a Igreja, ele faz uma declaração , baseada num episódio
bíblico, que ele cita de quando Paulo resistiu a Pedro. Que seria mais ou menos
o que ele faria. Ele como se ele fosse o
único interprete autorizado. Ele jamais
romperia com a Igreja.
Era como se Paulo VI tivesse
rompido com a Igreja. Claro que ele não
pode afirmar isso textualmente do Papa. Então ele vai por o Papa como um
interprete menos autorizado que ele, por conta dos erros que comete, não vai dar
tempo de falar de todo debate de Plinio com Paulo VI, a gente pode voltar também nos debates, porque eu queria trazer o que são
os resgates desse pensamento pliniano , hoje,
na atualidade.
Como eu falei, o Plinio é
e um líder, que começa a militar na década de 30. Funda a TFP , que é um grupo de atuação
muito presente nas décadas de 60, muito presente na Marcha da Família com Deus,
muito presente na década de 60, década de 70, década de 80, esse grupo começa a
minguar um pouco ... na década de 80.
Você acaba tendo dois
fatores, desde da derrocada daquilo que alguns autores... eu acho até um termo péssimo, só para ficar claro, alguns autores chama de
comunismo real, desde a derrocada do comunismo do bloco soviético, até a questão
da própria redemocratização do Brasil.
Então a TFP... aquele discurso eminentemente político , eminentemente anticomunista – o Brasil não será uma nova Cuba
– ele perde um pouco de força ao longo década de 80 . Na década de 90, o Plinio
morre . Isso acaba por gerar algumas cisões na organização.
E é assustador
ver como esse discurso é
resignificado hoje em dia! Eu
comecei a estudar o Plinio Correa de Oliveira ,
comecei a ter contato com isso, lá para
2010. E a primeira vez que eu tive contato com o Plinio...
Eu esqueci de falar isso: o Plinio
foi colunista da Folha de São Paulo,
durante ... ele foi o colunista mais longevo da Folha de São Paulo, acho que até hoje. Durante quase 30 anos.
Eu
tinha impressão que existem permanências do pensamento pliniano
hoje dissiminadas, mas o pensamento dele , in totum, não é
reivindicado por ninguém.
E nos últimos anos a gente
tem visto, uma retomada
assustadora desse pensamento dele, inclusive na sua totalidade, em diversos
segmentos. Existe um Instituto chamado Instituto Plinio
Correa de Oliveira, que é liderado pelo Adolpho Lindenberg, que é um primo , empreiteiro né, um primo do
Plinio
Correa, que busca hoje a difusão desse pensamento.
Talvez seja hoje o grupo maior que reivindica diretamente a
divulgação do pensamento do Plinio. Agora se você pegar por exemplo, grupos religiosos observadores que fazem muito barulho . No
Legislativo, por exemplo. Não sei se
vocês já se depararam com aquele padre
Paulo Ricardo. O Padre Paulo Ricardo (risos) , que é um religioso que
bate ponto por exemplo na Assembléia Legislativa aqui de São Paulo, que é um
cara que busca ditar uma agenda conservadora. Ele é uma
releitura do Plinio
de batina.
Ele tem... tirando aquela parte da cisão... que agora ,,, até aparte da
cisão com a Igreja está surgindo com a
ascensão do Francisco. Ele é um Plinio de batina! Tirado aquela parte da cisão com a Igreja. Até
a parte da cisão com a Igreja está surgindo com a ascensão do Francisco.
As argumentações do Reinaldo
Azevedo ou do Rodrigo Constantino quando escreveu aquele artigo dizendo que o
Papa Francisco não era economista. Um artigo amalucado. Que o Papa
Francisco não era economista. Logo não
deveria comentar economia.
Aquilo é uma argumentação tipicamente
pliniana. Típico. O artigo poderia ser dele. Com alguma reverência a mais para falar do
Papa, mas o artigo podia ser dele.
O que eu acho interessante
de trazer o Plinio
para essa mesa – claro que ficou aqui um pouquinho rápido – mas é mostrar como esse
discurso dele , volta ao passado, serve para mobilizar um grande grupo social,
mas como essa volta ao passado, mais do que um retrocesso puro e simples, acaba
sendo uma busca de legitimização de uma
ordem social constituída, nessa exploração: de um grupo dominante , que
naturalmente deve ser dominante, e um grupo submetido que naturalmente deve ser
submetido. Por hora é isso. A gente conversa mais daqui a pouquinho.
Mediadora:
Muito
obrigada Felipe. Representantes simbólicos, não sei, talvez até eu esteja
forçando demais chamar de ícones, desses
pensamentos que foram Plinio Salgado, Plinio Correa e Alfredo Buzaid, que em
comum, são três posições conservadoras, todas de matriz católica, que se
diferenciam na sua construção, por assim
dizer.
Eu
gostaria que vocês comentassem o que hoje em dia a gente ainda consegue
perceber , o que é possível reconhecer, nos discursos atuais, em relação as
permanências desses pensamentos. Cada um em relação ao seu autor. E que ainda
resiste. Que a gente percebe que está por aí circulando.
Luiz
Felipe Loureiro Foresti: Começo eu. Eu tentei falar rapidinho
dessas permanências ...no caso do Plinio.
Você tem desde um grupo que
reivindica , de alguns grupos que reivindicam textualmente todo o pensamento
dele, mas o que mais chama a atenção , são essas reivindicações de segmentos
específicos do pensamento dele.
Quando o Plinio
está falando de como deve ser a transmissão e a gestão de conhecimento para
qualquer grupo social, ele dá um exemplo
da Suma Teológica, ele fala: São Tomás de Aquino falava que é melhor que você
tenha leis. As leis tem que ser estabelecidas. Porque? Numa situação
que haja uma quebra, você nunca vai ter homens sábios o suficiente para
julgar e muito menos homens sábios para
fazer a lei.
É muito aquilo que o
Rodolfo trouxe. Há uma elite, há uma
casta, e aí o caso desse pensamento de matriz religiosa, isso está dado fora do
espectro social, a posição que cada um
tem está dada de fora, há uma elite que é capaz de ter essa capacidade formulativa
que é a grande capacidade, desculpe, que a grande maioria da população não
tem.
Você tem hoje na grande mídia
por exemplo, uma reivindicação , uma interpretação tomista, você vai ver no Jornal Nacional? Não. Claro
que não. Mas essa linha de
raciocínio está presente em grande parte dos comentaristas
políticos hoje em dia. A idéia de entendimento político , ela continua tão
elitista como em São Tomás de Aquino.
Isso é muito reverberado,
aquele pensador que escreveu “A cabeça
do brasileiro” e ele tem um truque
que é ótimo. Ele pega na hora. As
pessoas mais informadas, mais educadas,
votam de tal maneira. Quem é que está aí
completamente... as pessoas mais educadas e por educação ele está chamando a
instrução formal, são aquelas de uma
classe social que lhes possibilita a instrução.
Então, tal qual São Tomás de
Aquino, e tal qual o Plinio, ele está
fazendo tábula rasa de todas as questões de classe, de como essas
classes sociais se estruturam na sociedade, para pegar isso por fora do mundo.
Há uma reivindicação textual? Não há,
mas isso está presente.
Se eu fosse desdobrar vários
outros indicadores
plinianos, a própria interpretação bastante conservadora do
catolicismo. A gente está pondo aqui pensamentos de matriz cristã, conservadora
... eu até falei do Alceu aqui, de toda
uma outra linha de pensamento de matriz progressistas
também, calcadas no cristianismo.
Essa interpretação
conservadora por exemplo... sempre que se usa ... ou a própria interpretação
naturalista ... quando você vê hoje muitos falando contra uniões homoafetivas
por um princípio de que isso não
constituiria uma sociedade, se só existissem homossexuais, isso impossibilita
de construção de sociedade, a referência vai ser sempre religioso.
Porque você está partindo
vai partir de um referencial naturalista
de sociedade e por natural ser melhor do que o histórico e socialmente
construido, é porque o natural é dado de
fora por uma figura divina.
De novo, não há uma
reivindicação explicita desses
referenciais . Mas ele está completamente imbricado. Então é muito assim que eu
vejo a permanência, que é mais do que uma permanência. É um elemento
constitutivo desse conservadorismo coetâneo.
Mas se você vê um artigo
desse Reinaldo Azevedo que ele fala:
saiam as ruas no dia tal. Mas como um cronista, um comentarista põe o dia que
você tem que sair na rua para derrubar a Dilma! Porque agora é chegado o momento.
O que ela pode causar é um confronto.
Aí, nos confrontos você sabe o que é uma luta, que que é guerra
civil (...) .
Então tomem cuidado!
Porque a ditadura criou o
DEOSP, para entrar nos movimentos sociais , mas também nos movimentos
militares. Então quer dizer que desde a
década de vinte, os operários e as operárias, os estudantes , são controlados
por essa gente que tem essa tradição.
Você falou corretamente. Somos o país, o estado, que no país preside o conservadorismo contra a classe trabalhadora . Porque
sabem dos riscos que a classe trabalhadora pode trazer (...)
Luiz Felipe Loureiro Foresti:
Para qualquer que esteja tentando seriamente entender o que está acontecendo
hoje, é essencial. Na última manifestação que teve na Paulista, eles foram para
rua e fizeram pesquisa qualitativa e quantitativa do que está pensando aquela
galera que está lá.
Para você se entristecer eu
vou dizer o que que essa galera citou
como os grandes intelectuais, os grandes formadores de opinião. A gente tem
aqui uma seleção sensacional. Reinaldo Azevedo, Raquel Sherazade, Olavo de
Carvalho. Marco Antonio Villa, Alexandre Garcia, Datena, Miriam Leitão, Jabour,
William Wack. William Bonner, Diogo
Mainardi. A lista fala por si.
Algum desses aqui é um
grande pensador? Não. Isso é a fina flor da mediocridade. (...) Existem até alguns pensadores de direita
interessantes. Eles não tem reverberação
social. Para pegar um pouco o gancho que
o Rodolfo falou, o que é assustador hoje
... claro existe esse rebaixamento do nível ...
Essa semana por exemplo, só
para dar uma certa coerência, teve uma briga do Villa com Olavo de
Carvalho. Villa chamou Olavo de Carvalho
de medíocre. O Olavo de Carvalho por sua vez, chamou o Dom Odilo, Reitor da
PUC, de comunista! Quem vem da PUC sabe que
isso é impossível. Ele é um arquiconservador. (...)
O Gramsci falava que devemos
ser pessimista na análise e otimista na ação. Tentar analisar pelo pior
cenário, mas tentar agir para mudar isso. Eu acho que a gente consegue, a
esquerda ... eu acho que se é assustador
que toda essa direita tenha ido para a
rua, e de fato a direita nunca esteve tão forte na rua quanto nessa
época, comparando hoje, é a primeira vez
que ela tem uma vinda para a rua , tão grande quanto nessa época. Agora, você
tem momentos , você tem um momento de ruptura, e isso não é só no quadro
nacional.
Nós vivemos numa sociedade,
num mundo, que é horrível, que é desumano, e essa desumanização cada vez se acelera mais. Você tem um
aprofundamento dessas desigualdades . Do mesmo jeito que esse sistema do
capital gera potencialidades como nunca antes gerou (...) você tem a aprofundamento dessas
desigualdades. Eu também quero quer que essas crises , esse ponto de
inflexão podem gerar saídas alternativas
(...)
Nós não podemos esperar. Nós temos que trabalhar para que a gente exatamente consiga . É ir para a rua. E se por contra essa ofensiva conservadora , na rua. Não há outro jeito.
Não há uma confiança na
política constitucional. Não vai. Não é possível barrar esses avanços conservadores se a gente acreditar... e o PT, errou
redondamente nisso ... Assumindo a política institucional , como se não houvesse amanhã. Assumindo o
resultado da urna como se não houvesse outros condicionantes . Como se essa
democracia burguesa de fato representasse de fato uma democracia real, vai, para usar um termo pouco preciso.
Então eu acho que a saída é essa. É ir para a rua.
A
esquerda vai ser o que a gente conseguir
mobilizar. Na rua. E só aí.
Então
é bom que a gente faça isso rápido”. (...) _______________________________________________________
NR: para
se avaliar o ambiente e o que é esse núcleo de formação de ativistas de
esquerda, aqui segue exemplos de temas das
conferências quinzenais que são promovidas pela UNESP. Todas
são feitas por catedráticos, sociólogos etc, inclusive com convidados da
Universidade de Cambridge e outras.
As origens do facismo
Trotsky e o
centenário da Revolução mexicana
A história
militar do Brasil
Brasilidade
Revolucionária
Quilombos e
Quilombolas
O Trotskismo no
campo em Pernambuco
Paulo Freire
A revolução
cubana: 50 anos
Gramsci:
filosofia, história e política
Consciência
negra
Direitos
humanos: anistia e reparação
Marxismo no
Brasil
A luta pela
terra dos posseiros no interior de Goiás
Marxismo e a
sua história no Brasil
Cuba e Brasil:
revolução e comunismo
Revoluções
Boliviana e Russa
O Camponês e
sua história
A luta dos
familiares dos mortos e desaparecidos políticos
MST e participação feminina na luta pela
terra
70 anos da Revolução Espanhola
A Revolução Cubana e a Questão Nacional
Centenário da Revolução Russa
Os Prismas de Gramsci: a fórmula política
da Frente Única
*
* *
NR: ao longo de
262 páginas, Luis Felipe Loureiro Foresti, apresenta Dissertação à Banca Examinadora da Pontíficia
Universidade Católica de São Paulo, para
obtenção do título de Mestre em
História Social,
acompanhando a vida do Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira, desde
seus 20 anos até 1995.
O arauto da
contra-revolução: o pensamento conservador de Plinio Corrêa de Oliveira (1968 – 1976)
RESUMO - A presente
dissertação busca empreender – por meio da análise imanente de sua produção –
um estudo sobre o discurso do fundador da Sociedade
Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), Plinio Corrêa de
Oliveira, dos anos de 1968 a 1976, período de maior fechamento da ditadura
iniciada no Brasil em 1964.
Polemista de vasta
produção, Oliveira teve a partir de
1968 uma coluna semanal no jornal Folha
de São Paulo, que serviu como veículo de divulgação de suas ideias para um
público substantivamente maior do que o até então atingido por seus escritos.
Antes disso, ele já
batalhava desde a década de 1930 pela afirmação de um pensamento católico de
viés conservador capaz de reconfigurar a sociedade, e adequá-la ao modo
“medieval” de vida.
Todavia, na defesa
desses princípios o autor acaba por sancionar a manutenção do status quo da
sociedade existente. Inserido dentro desse campo conservador de pensamento, o
autor formulará julgamentos sobre os grandes temas nacionais e internacionais
de seu tempo, emitindo indicações de um modo de agir único e correto que se
enquadraria na sua leitura dos valores cristãos. Desta forma buscamos
compreender o papel de Plínio Corrêa como ideólogo
conservador, bem como as estratégias de intervenção social da organização por
ele fundada .
NR:
para obter a íntegra da Dissertação (262 páginas)clique
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