12 de septiembre de 2014

Catalunha quer pegar carona no plebiscito de separação escocês

Catalunha quer pegar carona no plebiscito de separação escocês

Manifestação toma as ruas de Barcelona para cobrar uma consulta popular sobre independência da Espanha

Protesto ocorre todos os anos, mas este ano foi mais intenso; consulta não seria reconhecida pelo Estado espanhol

DIOGO BERCITO EM BARCELONA

FOLHA DE SÃO PAULO, 12-09-2014

Uma multidão foi às ruas de Barcelona nesta quinta (11) em uma aglomeração com formato de "V" de "vontade de votar" e de "vitória".

Vestidos de vermelho e amarelo e balançando bandeiras separatistas, apoiavam uma consulta popular à independência da região espanhola da Catalunha.

A manifestação separatista tradicionalmente ocorre todos os anos, mas se tornou mais intensa agora, em parte inflamada pelo plebiscito que ocorrerá na Escócia na semana que vem.

Espera-se que o líder regional catalão, Artur Mas, aproveite o apoio popular e formalize no dia 19 deste mês a consulta popular, que seria realizada em 9 de novembro.

A polícia municipal estimou 1,8 milhão de pessoas presentes ali, em uma cidade de 1,6 milhões de habitantes, o que parece pouco realista. O governo espanhol, por sua vez, falava em 520 mil.

Diferentemente da consulta escocesa, porém, que é prevista em lei, um plebiscito catalão enfrentaria barreiras legais. O Tribunal Constitucional espanhol deve declará-la inválida.

A votação, se de fato celebrada, não significará a automática independência catalã. Mas imagina-se que uma vitória do "sim" estimule o fervor separatista ali.

A região catalã, com capital em Barcelona, é marcada por uma forte identidade cultural e pelo uso da língua catalã ao lado da espanhola.

A ideia de separar-se da Espanha não é nova, mas tem sido apresentada nas últimas décadas não mais apenas como uma questão de identidade, mas econômica.

Catalães contribuem com uma larga fatia da arrecadação espanhola, mas recebem do governo um repasse que consideram injusto. Em Madri, o argumento é de que falta a catalães a solidariedade com regiões mais pobres.

"O que não queremos é que nos forcem a sermos solidários", diz à Folha Alejandro Ribó, professor de negociação europeia e um coordenador internacional da Assembleia Nacional Catalã.

"O povo catalão queria um Estado que entendesse a região. Mas, hoje, a democracia não respeita os direitos democráticos em temas como investimento e língua."

FORÇA

O "V" foi formado com eficaz organização. As fileiras eram mantidas sob calor e umidade. Bares e restaurantes ao redor estavam lotados
.

A reportagem da Folha encontrou, nas ruas de Barcelona, o cãozinho Leo --vestido com uma camiseta amarela e vermelha. Seu dono, Juan Gomez, 65, apoia a consulta de novembro e a independência.

"Dar a nossa opinião é a ação mais democrática possível", diz. "A Espanha nos quer pelo que produzimos, mas eles não nos aceitam."

O feriado da Diada, celebrado nesta quinta, é uma data histórica na região. Neste ano, foram celebrados os 300 anos desde a derrota dos soldados catalães diante do Exército da monarquia Bourbon, em 1714, e a dissolução de suas instituições.

Houve também uma breve manifestação contrária à consulta de soberania catalã. Um ato foi realizado em Tarragona. "Somos unionistas", afirma Lucio Peñacoba, do partido Democracia Nacional.

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