22 de septiembre de 2014
A democracia fragilizada
A democracia fragilizada
RÔMULO BINI PEREIRA - O ESTADO DE S.PAULO
17 Setembro 2014 | 02h 05
Mais uma vez
uma grande decepção se delineia para o povo brasileiro. Em depoimentos à
Polícia Federal, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa declarou que
políticos da base de apoio ao governo central participavam de um esquema de
corrupção envolvendo aquela empresa e grandes empreiteiras. O fato implica
nomes de expressão no cenário político atual e põe o nosso governo no centro de
um escândalo idêntico ou até maior que o "mensalão".
Advogados
renomados e regiamente pagos certamente entrarão nesse processo e, com base em
trâmites jurídicos longos, prolongarão no tempo os possíveis julgamentos
finais. O povo brasileiro, conforme experiências vividas no passado, já se
manifesta com a costumeira assertiva: "Não vai dar em nada!" - selo
de descrédito em nossas instituições. É neste ambiente conturbado que a eleição
presidencial e as legislativas se aproximam. Com o auxílio de marqueteiros e
homens de comunicação social, prevê-se um verdadeiro "vale-tudo",
recomendado até mesmo por lideranças políticas que nos governam.
A propaganda
eleitoral mostra ainda o nível daqueles que comporão o nosso Congresso e as
Assembleias Legislativas. Com exceções, são participações hilárias em que
predominam excentricidades, direitos inatingíveis e assistencialismos
exacerbados. São representantes de 32 partidos com os costumeiros objetivos de
aproveitamento de futuros cargos públicos ou de benesses dos governos central
ou estaduais. Agora, com este novo escândalo, está bem claro que a "base
governamental" sempre teve como objetivo evidente o apoio ao governo
central em troca de favores e dinheiro público. Fatos que causam indignação e
revolta no nosso povo, que não merece um Legislativo encabrestado pelo Executivo.
Assim, a pobreza política do nosso país continuará!
E o que se
pode dizer do nosso Poder Judiciário? Com o êxito alcançado nos julgamentos do
"mensalão" e da atuação ímpar de seu antigo presidente, tornou-se uma
esperança para os brasileiros. Entretanto, a presença ideológica e partidária
em todos os seus níveis, uma execução penal complexa e prolixa, ininteligível
para a maioria do povo, são alguns dos aspectos que comprometem a sua
credibilidade. Sem contar o predomínio da ab-rogação do mérito e as inúmeras
indicações políticas que ferem o artigo 101 da Constituição da República. Neste
país continental, com 200 milhões de habitantes, onde imperam a permissividade
e a impunidade, necessitamos de um Judiciário que marque sua presença não só
com justiça e isenção, mas também com celeridade e punições mais severas no
rigor da lei.
Talvez em
razão dos fatos apresentados, as indagações quanto às posições das Forças
Armadas no atual sistema democrático em que vivemos se avolumam nas redes
sociais. "Só Deus e os militares nos poderão salvar!" é o que se lê e
se ouve nestes tempos de descrédito. E isso se repete agora, como já ocorreu em
épocas pretéritas.
O desmando
dos governos, a corrupção em todos os níveis das instituições, a situação
econômica frágil, a Justiça comprometida, o nepotismo, as mordomias, a falta de
segurança são aspectos que, entre outros, fazem o povo clamar. Aliás, tal
clamor não vem somente da "zelite", como diz um político e filósofo
popular. Vem também das classes mais simples do povo.
Mesmo com uma
campanha difamatória conduzida por alguns órgãos de imprensa, ideólogos e
intelectuais de esquerda e ainda integrantes do mundo artístico, os militares
continuam com a sua credibilidade em alta, acima até de entidades religiosas; e
estão se transformando em "válvula de escape" do clamor popular, fora
e dentro dos quartéis. Como fazem parte da sociedade, os militares tudo ouvem,
pelo menos, por enquanto, permanecendo o silêncio obsequioso que adotaram. Esse
silêncio, entretanto, está provocando situações preocupantes. Nos programas dos
candidatos presidenciais pouco se diz a respeito das Forças Armadas.
Como se não
fossem bastantes as ações unilaterais da Comissão da Verdade, agora surge o
parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da
República defendendo a revisão da interpretação atual da Lei da Anistia. Quanto
a esta nova interpretação - contrária à definição propalada pelo STF em 2010 -,
é de perguntar se ela também abrangerá os diversos crimes praticados pelos radicais
de esquerda, muitos deles imprescritíveis.
A continuarem
essa exclusão e atitudes revanchistas flagrantes, as Forças Armadas, em 2015,
também poderiam participar da Marcha dos Excluídos, realizada em várias
capitais do País logo após os desfiles do 7 de Setembro. Poderiam expor suas
apreensões, seus anseios e vindícias, como protesto contra as ações deletérias
que vêm sofrendo.
É ainda
pertinente falar do controverso Decreto 8.243/2014 - também chamado de
bolivariano -, elaborado pelo atual governo e que será analisado pelo
Congresso. Ele abre as portas para o ingresso de reais "sovietes" no
Ministério da Defesa e, em consequência, em nossas Forças Armadas. O citado
decreto consta dos programas das duas candidatas que lideram as pesquisas e é
uma das principais orientações dos intelectuais gramscistas do Foro de São
Paulo.
Em nosso
país, para aqueles que não viveram o período que antecedeu o movimento de 1964,
políticos inescrupulosos fomentaram a divisão entre oficiais e praças de nossas
Forças, objetivando ferir frontalmente os princípios basilares das instituições
militares: a disciplina e a hierarquia. Essas ações desagregadoras foram
decisivas para a atitude adotada pelos líderes militares da época.
Espera-se que
nossas autoridades políticas estejam atentas para os fatos assinalados e que
atendam aos clamores de nosso povo. Ou, então, tempos incertos e de descrenças
estarão presentes em nossas instituições. E aí a nossa democracia estará
inexoravelmente fragilizada.
*Rômulo Bini Pereira é general de Exército. Foi
chefe do Estado-Maior de Defesa
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