25 de agosto de 2013

O fim do sonho americano

O fim do sonho americano

Se EUA quiserem recuperar seu poder, precisam investir nas crianças
16 de agosto de 2013 | 2h 09

Fareed Zakaria * - The Washington Post - O Estado de S.Paulo
Se existe um problema sobre o qual direita e esquerda concordam, é a crise da baixa mobilidade social. Na sua essência, o sonho americano é aquele que qualquer pessoa, não importa a origem, conseguirá realizá-lo.
Há algumas semanas, quatro economistas das universidades de Harvard e da Califórnia divulgaram um estudo sobre a mobilidade social nos EUA. Na semana passada, o Journal of Economic Perspectives publicou uma série de ensaios sobre a questão de uma perspectiva internacional. A pesquisa aponta para uma direção clara. A questão é saber se Washington seguirá essa direção.
Há mais de uma década foi documentado que os países do norte da Europa foram mais bem-sucedidos em termos de ascensão social do que os EUA. Algumas pessoas rejeitam essa conclusão, observando que os EUA não podem ser comparados com a Dinamarca, etnicamente homogênea e com 5,5 milhões de habitantes. Miles Corak, da Universidade de Ottawa, porém, afirma que o Canadá é um país com o qual a comparação pode ser feita, já que é parecido com os EUA. Uma pesquisa recente concluiu que canadenses e australianos têm duas vezes mais possibilidade de ascender economicamente do que os americanos.
O interessante é que muitos dos fatores que parecem explicar a variação entre os países também ajudam a explicar a variação dentro dos EUA. A correlação mais importante no estudo de Harvard e Califórnia está no capital social. Cidades com famílias com vínculos consistentes, grupos de apoio cívico e voltadas para serviços comunitários têm desempenho melhor em mobilidade social.
Exceção. É por isso que em Salt Lake City, dominada pelos mórmons, os níveis de mobilidade social e econômica podem ser comparados aos da Dinamarca. E também explica porque os EUA têm um desempenho medíocre: o país tem muito mais famílias desfeitas do que Canadá e Austrália.
Outro elemento notável do estudo é o projeto urbano das cidades. Áreas segregadas - onde os pobres vivem distantes da classe média - estão em situação muito pior do que aquelas onde há uma convivência maior entre as classes sociais. Isso tem a ver com a geografia: é difícil ir para o trabalho quando a pessoa vive longe. Significa que aqueles que moram em bairros pobres acabam caindo no círculo vicioso de escolas sem financiamento e altas taxas de crime.
Seja como for, esses fatores serão difíceis de mudar no curto prazo. Capital social não pode ser construído em cinco anos. As cidades não podem ser rapidamente redesenhadas para serem integradas. O que nos leva ao último e grande fator que explica a baixa mobilidade: as políticas públicas.
No geral, os EUA aplicam rios de dinheiro na educação, mas a maior parte do dinheiro vai para o ensino superior ou é direcionada para os já favorecidos em vários aspectos. Os ricos no país gastam em média US$ 9 mil anuais em livros, computadores, cuidados infantis e acampamentos de verão - quase sete vezes mais do que 20% das famílias com baixos salários gastam. Na verdade esse é um fator que contribui para a baixa mobilidade.
O país gasta bem menos em educação e no bem-estar dos pobres, especialmente de crianças, do que qualquer outra nação rica. Está claro que países que investem em saúde e educação infantil têm uma ascensão social mais vigorosa. Isso é algo que os EUA podem mudar. Se o país deseja resgatar o sonho americano, já tem o ponto de partida.
* Fareed Zakaria é analista político
TRADUÇÃO TEREZINHA MARTINO


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