11 de enero de 2015
Papa Francisco: Aumenta o perigo de uma queda
Frankfurter Allgemeine
Zeitung, 8 de janeiro de 2015
Papa Francisco
Aumenta o perigo de uma
queda
O Papa Francisco alterou gravemente a marcha das coisas em Roma. Em 2015
o Chefe da Igreja quer acelerar ainda mais o andamento da reforma — observado
por muitos cardeais e bispos com olhares críticos. Isso não vai sem riscos. Um
comentário
03.01.2015, de Daniel Deckers
Há
séculos se diz que Jesuítas não cantam. Em vez disso se veem testas franzidas e
fisionomias indevassáveis. O que também se sabe dos membros da Companhia de
Jesus: quem passou pela escola dos Exercícios
espirituais, que Inácio de Loyola legou à ordem no século XVI, pode
alcançar uma liberdade interior que ultrapassa todos os limites. Jorge Maria
Bergoglio é jesuíta há quase 60 anos. E há quase dois anos ele é Papa. Desde
então ele ultrapassa os pretensos limites da Igreja Católica.
Para o Papa se trata de uma reforma fundamental do Vaticano © DPA
Que ano
foi este! Já no início de 2014 ele alterou o andar romano das coisas. Fim da
supremacia de italianos no Colégio Cardinalício, que tomara dimensões
escandalosas debaixo da chefia de seu antecessor Bento. Francisco preferiu
Haiti a Veneza e as Filipinas a Turim. Renovação da Igreja a partir das
periferias. O encerramento do ano foi
simplesmente furioso. Francisco aproveitou a saudação de Natal aos membros da
Cúria para um sermão penitencial contra o clericalismo, como nunca se ouviu no
Vaticano da boca de um Papa.
Durante
todo o ano, novos tons e ritmos estranhos em série. Na primavera uma foto girou pelo mundo. Mostrava
Francisco politicamente incorreto no muro que impede o acesso a Belém. No
verão a primeira viagem à Coréia, e com isso a um continente em relação ao qual
Bento havia feito um grande desvio. É lá que se decide o futuro da Igreja?
Colateralmente, um que outro apaniguado de Bento XVI é afastado da Cúria e de outras
funções, e Francisco nomeia pessoalmente para sedes episcopais homens dos quais
ele admite que corporifiquem o espírito de seu Pontificado: pastores sensíveis,
não ditadores doutrinários. E, meio à parte, uma inédita reforma fundamental
das finanças do Vaticano. Passo a passo uma rede de relações seculares vai
sendo retalhada, no qual a Igreja é mais vítima do que autora.
Basta de mitos e dupla moral
No
outono realizou-se o primeiro Sínodo desde tempos imemoráveis, no qual cardeais
e bispos tiveram que aprender a discutir livremente na presença do Papa. Para a
sua preparação o povo da Igreja teve que documentar em âmbito mundial a
profundidade do abismo existente entre a doutrina e a vida prática em assuntos
de matrimonio e família. É preciso acabar com os mitos (mentiras da vida) e a
dupla moral. Algumas semanas mais tarde, o Parlamento Europeu, desde a ponta
direita até a ponta esquerda, tributou respeito ao homem vindo do fim do mundo
como a nenhum outro chefe de Igreja até então. Pelo menos um, que ainda não
rifou a Europa e seus valores. Pouco antes do Natal, o presidente Obama teve todas
as razões para um ato de agradecimento ao argentino. Pessoalmente Francisco
intermediou a histórica aproximação entre Estados Unidos e Cuba.
Tanta movimentação provoca tontura. Mais ainda: o
perigo de cair cresce, no sentido próprio como no sentido simbólico. Seus
passos parecem cada vez mais inseguros, mas o ritmo do ano 2015 não deverá
ser diferente do ano que passou, e com passo mais rápido. Com toda a aparência externa de tranquilidade, Francisco dá a impressão
de alguém impelido (que não consegue parar), impelido por algo que o persegue. Há poucas semanas ele completou
78 anos.
Ele
está querendo visitar Sri Lanka, Filipinas, França, África, América Latina e
Estados Unidos. A nomeação de cardeais em fevereiro será mais um passo no
caminho da renovação do pessoal, bem como as nomeações episcopais, e sem
esquecer a reforma da Cúria, e em outubro está prevista a segunda parte, e
presumivelmente decisiva, do Sínodo dos Bispos sobre matrimônio e família.
Desmitificação do Papado
Ele
decide tudo! É o que também pensam os
Cardeais e Bispos, aos quais Francisco parece ser mais um improvisador (relega
tudo ao acaso) do que um inovador, como
alguém que arrasta a dignidade do Papado pela lama e em nome da misericórdia
entrega os pontos centrais do ensinamento da Igreja, como a indissolubilidade
do matrimonio, ao espírito do tempo que tudo corrói. Quantos o são
(cardeais e bispos), é difícil conjecturar. Será que eles devem se dar a
conhecer desnecessariamente, enquanto o
tempo mais trabalha contra Francisco do que contra eles?
A sua
primeira hora soará em outubro 2015. Se tiver que haver uma votação sobre cada
ponto do documento final do sínodo, basta uma minoria de um terço mais um para
vetar e transformar tudo em maculatura (documento sem valor, só serve para
jogar fora), o que se parece bem com (o estilo de) Francisco. No ano próximo,
em dezembro de 2016, Francisco completa 80 anos. Por duas vezes ele já olhou de
esguelha publicamente para a possibilidade
de uma renúncia à la Bento. Segundo seu ponto de vista tal passo será inevitável para desmitificar definitivamente o Papado.
Por isso os seus opositores temem muito
mais uma renúncia do que a desejam.
Se,
porém, o tempo não trabalhar em favor de Francisco, quem ou o que restará?
Certamente muitos jesuítas, muitos. Eles ainda não se deram a conhecer.
Certamente também Bispos e Cardeais. Quase que não é possível reconhecê-los. Restam os incontáveis cristãos, no mundo
inteiro, que dia a dia rezam para que os dias de Francisco, por muito tempo,
ainda não estejam contados.
Tradução de Benno Hofschulte
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