22 de enero de 2015

A Era Bibi em Israel


 
OP-ED COLUMNIST
 David Brooks                                                                                                                     
A Era Bibi em Israel
Metula, Israel - Se eu fosse um escritor sobre política, eu tentaria escrever um romance sobre Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel.
A história seria parcialmente Nixoniana. Netanyahu é incomparavelmente brilhante, como até mesmo os seus adversários reconhecem. Ele conhece as entranhas da política israelense e profundamente a sua grande história e suas estratégias vencedoras. Ele também é considerado como desconfiado, solitário e insular. É difícil se dar bem com ele, seja um membro da sua equipe, ou um aliado mais próximo da sua nação.
A história que escreveria seria parcialmente Kennedysiana. O clã Netanyahu teve como brilhante chefe o seu pai Benzion, o grande historiador sobre a era medieval. O seu irmão mais velho Jonathan era o menino de ouro. Quando Jonathan morreu no ataque em Entebbe em 1976, as esperanças se deslocaram para Benjamin, que é conhecido como Bibi. Analistas políticos passaram décadas psicoanalizando a dinâmica familiar, com resultados diversos, mas um escritor que também tenha estudado Sófocles ou Tolstoi poderia ser capaz de chegar a algum resultado.
A história seria parte de Churcheliana. Netanyahu vê a si mesmo em termos históricos mundiais, e admira Theodor Herzl e Winston Churchill - dois homens que enxergaram os perigos antes das outras pessoas. Netanyahu, obviamente, não tem algumas das qualidades de Churchill, como o charme brincalhão, mas ele tem uma profunda paixão nacionalista e uma consciência histórica que o consome. Como Churchill, ele é mais sábio quando as coisas vão mal. Ele tem sido um pessimista em relação ao mundo árabe. À medida que a primavera árabe se deteriorou, quando a democracia palestina conduziu ao Hamas, com os extremistas perdendo terreno para o Estado islâmico, os instintos de Bibi têm se mostrado basicamente corretos.
A história seria parte de Shakespeariana. Quase todo líder político tem um amigo ou cônjuge, muitas vezes, do sexo feminino, que é amplamente odiado. As pessoas não podem culpar o líder, de modo que culpam a este outro ou outra. Em Israel, este papel é desempenhado pela esposa de Netanyahu, Sara, que tem sido objeto de fascínio e desprezo por décadas: Ela é frequentemente descrita como a Lady Macbeth. Poucos sabem exatamente o papel que desempenha, mas, diz-se, que ela afasta os desleais, modela a sua política, maltrata seus empregados e desvia a sua atenção quando ele deveria estar dirigindo o país. Obviamente, qualquer livro sobre Netanyahu e sobre o Israel moderno teria que ser escrito a partir do ponto de vista previlegiado dela. A narrativa através da sua voz seria eletrizante.
A história seria parte "Cidadão Kane". Netanyahu chegou à fama via CNN. Sua ascensão e sobrevivência estão entrelaçadas com as mudanças na mídia, com o declínio dos jornais tradicionais que lhe são geralmente hostis, e o surgimento de novas redes na mídia que muitas vezes são suas aliadas. Ferozmente cuidando da sua imagem, suas guerras com seus inimigos na imprensa israelense têm sido épicas.
Por fim, a história seria parte Maquiavélica. O grande filósofo renascentista argumentou que é melhor ser amado e temido, mas se você tiver que escolher apenas uma delas, é melhor ser temido. Netanyahu não é amado, especialmente por aqueles em seu partido. Mas ele é temido e reconhecido, e como grande líder é eficaz, temido e respeitado.
Eu estou visitando Israel pela 18ª ou 19ª vez (o meu filho é atualmente membro do Programa ‘Lone Soldiers = Soldado Solitário’, que permite que pessoas de todo o mundo possam servir no exército israelense). Perguntei a um casal de intelectuais israelenses o que estas próximas eleições significam para eles. Eles disseram que as eleições são sobre uma só coisa: O que você acha de Netanyahu? Esse é o papel descomunal que ele desempenha na consciência desta nação.
Ninguém tem uma visão simplista sobre ele. Para alguns, ele é um monstro que ampliou os assentamentos na Cisjordânia, que são uma mancha moral e causa um dano calamitoso para os esforços de Israel para conquistar o apoio de outros países. Para outros, ele é o homem necessário em tempos difíceis, o guardião vigilante enquanto o resto do Oriente Médio enlouquece.
Ambos os pontos de vista têm alguma verdade. Para mim, a cautela é a mais fascinante. Apesar de toda a sua retórica retumbante e belicosidade, ele tem sido um líder defensivo. Ele parece compreender os riscos envolvidos. Os custos de um erro poderiam ser maiores do que os benefícios da sua realização. Assim, ele é relutante em assumir riscos. Ele não faz algumas coisas inteligentes, como melhorar a vida dos palestinos na Cisjordânia, mas ele não faz coisas estúpidas e imprevisíveis, como prematuramente bombardear o Irã. Ele discute tudo em profundidade, e suas decisões podem mudar enquanto as discussões evoluem.
Se você acha que as atuais tendências no Oriente Médio irão causar um desastre para Israel, a menos que ele aja então esta atitude defensiva é um desastre. Se você achar que, como eu, que Israel tem que esperar o espasmo atual do radicalismo islâmico, então essa cautela tem utilidade.
Os eleitores israelenses não têm gostado muito de Netanyahu durante o último quarto de século. No entanto passaram a pensar mais como ele, aceitando que este conflito vai durar, e levando a uma luta obstinada. Para o bem e mal, ele remodelou a mente nacional israelense.                                                                                                                       (ESTE ARTIGO FOI PUBLICADO ANTES DOS ATENTADOS EM PARIS)

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