11 de agosto de 2014
Guerra sem fim Da Ucrânia ao Oriente Médio, ainda vivemos à sombra de uma guerra que começou há um século - Jon Meacham
Time, 4 de Agosto de 2014
Guerra sem fim
Da Ucrânia ao Oriente Médio, ainda vivemos à
sombra de uma guerra que começou há um século
Jon
Meacham
Era suposto tratar-se de uma questão de semanas. No verão de
1914, a guerra na Europa, que começou no rescaldo do assassinato de Francisco
Ferdinand desenhou grandes exércitos nos campos, lançou navios de guerra sobre
os mares e despertou ambições e medos imperiais. Houve, no entanto, um
sentimento de otimismo entre vários dos combatentes, uma expectativa de que a
vitória seria rápida. "Vós estarei em casa antes que as folhas caiam das
árvores," disse o Kaiser Guilherme II às tropas alemãs na primeira semana
de agosto.
Claro, que não acabou quando as folhas caíram, e o que veio
a ficar conhecido como a Grande Guerra realmente não acabou até agora. Desde a
derrubada do avião civil da Malásia por insurgentes na Ucrânia, apoiados por
Moscou, até aos combates entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza,
passando pelo Iraque, Síria, Afeganistão e Irã, os problemas do nosso tempo decorrem
diretamente do mundo de 1914-18, a era que inflamou os impulsos étnicos e
nacionalistas e conduziu à criação de novos Estados-nações, especialmente no
Oriente Médio.
Para entender a loucura do momento, então, é preciso ter uma
visão de longo prazo, que começa em 1914 e não, como têm muitos democratas, com
a eleição de George W. Bush, ou, como muitos republicanos pensam, com a eleição
de Barack Obama. O espectro do discurso político de nossos dias é, para usar
uma frase de Abraham Lincoln, inadequado para o nosso presente tempestuoso.
Diz-se que o século XIX terminou em 1914, com a guerra que
se tornou, nas palavras do historiador David Fromkin, "em muitos aspectos,
o maior conflito que o planeta já conheceu." Pode-se argumentar que o
século 20 durou apenas 75 anos, terminando sob a administração de George HW
Bush, com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a morte da União Soviética (ela
própria um produto da Revolução Bolchevique de 1917). Como nos recordam as
notícias deste verão, estamos agora em um mundo muito semelhante ao de 1914, sem
uma ordem verdadeiramente controladora.
Americanos que cresceram acostumados a um equilíbrio em grande
parte estático do poder durante a Guerra Fria deve aprender a pensar em termos de
um caleidoscópio, e não em termos binários. Nossa imaginação nacional ainda é
parcialmente moldada pela retórica FDR-JFK da responsabilidade americana pela idéia
de que somos capazes de suportar qualquer encargo e pagar qualquer preço para
dobrar o mundo aos nossos propósitos. No entanto, temos de ser realistas – não derrotistas,
mas realistas – sobre o nosso poder. Embora nunca devamos abandonar a convicção
de que podemos efetivamente exercer a nossa vontade em todo o mundo, os Estados
Unidos devem também reconhecer que qualquer empreendimento é inerentemente
limitado, um ponto baseado na experiência do presidente americano da época
1914-1918, Woodrow Wilson, que acreditava que a guerra daquela época iria
acabar com todas as guerras. Ele estava errado e muito, lamentavelmente. O
primeiro presidente Bush estava mais perto do acerto, quando afirmava, habitualmente
em particular, que a política externa era mais para "trabalhar o
problema", do que para procurar grandes e abrangentes soluções para
questões intrinsecamente desordenadas.
E essas questões permanecem urgentes e perigosas. No seu
criterioso livro O Último Verão da Europa,
Fromkin escreve que "é preciso dois ou mais para manter a paz, mas apenas
um para começar uma guerra ... Um agressor pode começar uma grande guerra,
ainda hoje e mesmo que outras grandes potências desejam permanecer em paz – a menos
que as outras nações sejam suficientemente poderosas para detê-lo. " Pensar
em outro conflito convencional com a escala da Grande Guerra – de 16 milhões de
mortos e 20 milhões de feridos – desafia a nossa credulidade. Ainda assim, as
forças da ambição, da ganância e do orgulho são perenes na vida dos homens e
das nações, e as guerras de qualquer porte trazem consigo grandes e inesperadas
conseqüências.
Resumindo agosto de 1914, a historiadora Barbara Tuchman
escreveu: "Os homens não poderiam sustentar uma guerra de tal magnitude e
dor sem esperança, a esperança de que sua própria enormidade garantiria que aquilo
nunca mais poderia acontecer e na esperança de que, quando de alguma forma ela
tivesse sido detida, as bases de um mundo melhor ordenada teria sido
implantados. " Sabemos agora que essa esperança era ilusória. Voltou a
ocorrer, 1939-1945, e agora, um século depois, vivemos em um mundo que continua
vulnerável ao caos e à desgraça e à miséria. Essa, porém, é a natureza da
realidade e da história, e não temos escolha a não ser atravessá-la. Enfim, no
final, não há outra alternativa, quer as folhas estejam ou não nas árvores.
From Gaza to Ukraine, the Effects of World War I
Persist
We still live in the long shadow of a war that began a
century ago
It was supposed to be
over in a matter of weeks. In the summer of 1914, the European war that began
in the aftermath of the assassination of Franz Ferdinand drew great armies into
the fields, launched ships of war upon the seas and engaged imperial ambitions
and fears. There was, however, a sense of optimism among several of the
combatants, an expectation that victory would be quick. “You will be home
before the leaves have fallen from the trees,” Kaiser Wilhelm II told the
German troops in the first week of August.
Of course, it wasn’t over
by the time the leaves fell, and what became known as the Great War really
isn’t over even now. From the downing of the civilian Malaysian airliner by
Moscow-supported insurgents over Ukraine to the Israeli-Palestinian combat in
Gaza to Iraq, Syria, Afghanistan and Iran, the troubles of our time directly
descend from the world of 1914–18, the era that inflamed ethnic and
nationalistic impulses and led to the ultimate creation of new nation-states,
especially in the Middle East.
To understand the madness
of the moment, then, one needs to take a long view–one that begins in 1914 and
not, as many Democrats would have it, with the election of George W. Bush or,
as many Republicans think, with the election of Barack Obama. The spectrum of
political conversation in our time is, to borrow a phrase from Abraham Lincoln,
inadequate to the stormy present.
The 19th century has
been said to have ended in 1914, with a war that became, in the words of
historian David Fromkin, “in many ways the largest conflict that the planet has
ever known.” One could argue that the 20th century lasted only 75 years, ending
under the Administration of George H.W. Bush, with the fall of the Berlin Wall
in 1989 and the death of the Soviet Union (itself a product of the Bolshevik
Revolution of 1917). As the news of this summer reminds us, we are now in a
world much like that of 1914, without a truly controlling order.
Americans who grew
accustomed to a largely static balance of power during the Cold War must teach
themselves to think in kaleidoscopic terms, not binary ones. Our national
imagination is still partly shaped by the FDR-JFK rhetoric of American
responsibility and the idea that we are capable of bearing any burden and
paying any price to bend the world to our purposes. Yet we must be
realistic–not defeatist but realistic–about our power. While we should never
give up the conviction that we can effectively exert our will around the globe,
we should also appreciate that any undertaking is inherently limited, a point
supported by the experience of the American President of the 1914–18 era,
Woodrow Wilson, who believed that the war of that age would end all wars. He
was wrong–woefully so. The first Bush was closer to the mark when he spoke,
usually privately, of how foreign policy was about “working the problem,” not
finding grand, all-encompassing solutions to intrinsically messy questions.
And those questions
today remain urgent and dangerous. In his insightful book Europe’s Last Summer,
Fromkin writes that “it takes two or more to keep the peace, but only one to
start a war … An aggressor can start a major war even today and even if other
great powers desire to stay at peace–unless other nations are powerful enough
to deter it.” To think of another conventional conflict on the scale of the
Great War–16 million dead, 20 million more wounded–stretches credulity. Still,
the forces of ambition, greed and pride are perennial in the lives of men and
of nations, and wars of any size bring with them large and unintended
consequences.
Summing up August 1914,
historian Barbara Tuchman wrote, “Men could not sustain a war of such magnitude
and pain without hope–the hope that its very enormity would ensure that it
could never happen again and the hope that when somehow it had been fought through
to a resolution, the foundations of a better-ordered world would have been
laid.” We know now that such hope was illusory. It did happen again, from 1939
to 1945, and now, a century on, we live in a world that remains vulnerable to
chaos and mischance and misery. Such, though, is the nature of reality and of
history, and we have no choice but to muddle through. There is, in the end, no
other alternative, whether the leaves are on or off the trees.
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