19 de mayo de 2013

Um passado comunista que constrange Angela Merkel


Um passado comunista que constrange Angela Merkel

  • Livro afirma que chanceler alemã colaborou mais com o regime do que admitia
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O GLOBO - Publicado: 
 
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Chanceler Angela Merkel gesticula durante evento sobre sustentabilidade em Berlim
Foto: FABRIZIO BENSCH / REUTERS
Chanceler Angela Merkel gesticula durante evento sobre sustentabilidade em BerlimFABRIZIO BENSCH / REUTERS
BERLIM - Vista como a “mulher mais poderosa do mundo”, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, que viveu até os 35 anos do outro lado da Cortina de Ferro, na Alemanha Oriental, teria colaborado muito mais com o regime comunista do que era conhecido até agora. O livro “Das erste Leben der Angela M.” (“A primeira vida da Angela M.”), escrito pelos jornalistas Ralf Georg Reuth e Günther Lachmann, afirma que Merkel - funcionária do sistema como secretária para agitação e propaganda da Juventude Livre Alemã (FDJ) - foi uma comunista convicta.
- Ela era uma comunista reformista e não queria a reunificação alemã - diz um dos autores.
A pouco mais de quatro meses das eleições federais, quando Merkel tenta uma reeleição pela segunda vez com alta popularidade e chances de vitória, as denúncias de Reuth, do jornal “Bild Zeitung”, e de Lachmann, do “Die Welt”, podem reduzir as chances da União Democrata Cristã (CDU). E, de quebra, ajudar na vitória do candidato da oposição, Peer Steinbrück, do Partido Social-Democrata (SPD).
‘Ninguém nunca perguntou’
A chefe do governo ficou na defensiva. Depois de assistir ao filme “A lenda de Paul e Paula” - uma das mais famosas produções do regime comunista - num festival da Academia de Cinema de Berlim anteontem, a chanceler alegou ter contado aos autores apenas o que lembrava, sem intenção de ocultar nada. E desconversou:
- Talvez haja outras coisas sobre as quais não falei antes porque ninguém nunca perguntou.
Merkel havia negado, até agora, ter ingressado na organização Despertar Democrático só em dezembro de 1989, depois da Queda do Muro. Antes do fim do regime, a agremiação era a favor da preservação do comunismo, com reformas. Merkel disse na ocasião não ser favorável a que seu país, a República Democrática Alemã, adotasse o modelo político da Alemanha Ocidental.
Até agora, Merkel tinha negado veementemente também ter sido secretária para agitação. Mas no livro, que teve trechos publicados pela revista “Focus” na edição que circulou ontem, Günter Walther, ex-colega de Merkel na FDJ, revela:
- Angela Merkel era secretária para agitação e propaganda!
Privilegiada com doutorado
Nessa função, a doutora em Física e integrante da Academia de Ciências de Berlim Oriental era responsável pela doutrinação da juventude no comunismo.
O porta-voz do governo, Steffen Seibert, defendeu que a chanceler sempre respondeu às perguntas sobre o seu passado na RDA honestamente, com base em suas recordações.
Em 2004, porém, em entrevista ao jornalista Hugo Müller-Vogg, Merkel negou ter tido uma função ideológica.
- Agitação e propaganda? Eu não me lembro de ter agitado nada. Eu era encarregada de cultura (da FDJ) - disse a chanceler.
Segundo Reuth, Merkel não era qualquer uma, mas uma privilegiada do regime, que pôde fazer doutorado em Física, algo permitido apenas para a elite. Os filhos dos dissidentes não tinham nem o direito de frequentar a universidade.

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