7 de octubre de 2012

Votos de 5773


Votos de 5773

Mesmo nos piores momentos do Oriente Médio que vivi como correspondente em Israel, nos anos 70 e 80, não ouvi um premiê israelense bater tambores de guerra a poucas horas do Rosh Hashaná, o ano-novo judaico que começou ontem ao pôr do sol.
Os votos de feliz ano novo 5773 foram substituídos por um insistente voto de que a Casa Branca, em Washington, fixe, afinal, uma linha vermelha para frear a bomba atômica do Irã, repetido ontem pelo premiê Benjamin Netanyahu às redes de TV americanas, com alcance ao poderoso  lobby judaico de cerca de 296 mil eleitores que podem fazer a diferença entre Obama e Romney.
"Querem me arrastar à eleição nos EUA, mas o meu calendário não é o da política americana. O meu calendário é o nuclear iraniano", reagiu Netanyahu à intriga de que seus votos de 5773 incluam alguma preferência à sucessão para a Casa Branca.
O comandante da Guarda Revolucionária do Irã, general Mohammad Ali Jafari, deseja que "nada reste de Israel" em 5773. Pela primeira vez ele reconheceu que os tentáculos iranianos já estão no sul do Líbano e em Gaza, ao norte e ao centro israelense. São milícias de radicais islâmicos e grupos terroristas amparados por Teerã.
No extremo sul de Israel, a porta para o Sinai não está mais aberta à paz: o Egito praticamente a fechou, ao levar tanques para combater bandos de salafistas que perambulam pelas dunas e atacam turistas e até os próprios egípcios nos oásis à beira-mar. Se os tanques não rumarem logo para fora da zona desmilitarizada, o tratado de Camp David, de 1978, tão duramente alcançado por Anuar Sadat e Menachem Begin, vai virar uma miragem. E talvez seja este o voto para 5773 da Irmandade Muçulmana, de novo poderosa no Cairo.
Passageiro, há 30 anos, do histórico primeiro voo da El Al entre Israel e Egito, de que outro brasileiro também participou, o então correspondente da Veja Alessandro Porro, antecipo aqui um obituário de uma morte a ser anunciada talvez nos próximos dias de 5773. Um final melancólico, retrato da paz frágil: sumiram os passageiros e os custos de segurança e operação alçaram altitudes proibitivas. No voo inaugural, caças egípcios escoltaram o Boeing no tour das pirâmides, oferecido por Sadat. A bordo, Begin mandou abrir champanhas, lembrando o bíblico êxodo do Egito: "Nós é que as construímos". 
Em editorial, na véspera de 5773, o New York Times rebate os tambores de guerra de Bibi Netanyahu. Baseado num documento do Wilson Center, de Washington, The Iran Project (integra em inglês emhttp://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/IranReport_091112_FINAL.pdf), aponta outro cenário de um ataque dos EUA às centrais nucleares iranianas: as bombas podem retardar o arsenal atômico islâmico em quatro anos, no máximo, mas não extirpá-lo, juntamente com a atual liderança política. Avalizam esta conclusão dois ex-conselheiros de Segurança Nacional, Brent Scowcroft e Zbigniew Brzezinski, o ex-subsecretário de Estado Thomas Pickering e o general da reserva Anthony Zinni, e outras poderosas celebridades políticas e militares.
O momento não seria pior para um ataque. O vento do fervor islâmico varre o mundo muçulmano, desde o assassinato do embaixador americano na Líbia, em 11 de setembro. E seria um favor para o ditador sírio distrair a atenção mundial para outro foco do Oriente Médio.
Como todo judeu, Netanyahu sabe que, nos próximos dez dias do ano novo, estará sob julgamento pior que o do Mensalão. São os "dias terríveis" de penitência e arrependimento, enquanto o STF divino decide quem merece continuar vivo até 5774. O auge chega com o Yom Kippur, o Dia do Perdão.
É então que 5773 seguirá incerto, sob a perspectiva de uma guerra regional de alcance mundial.

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