9 de junio de 2013
Jovens europeus voltam ao campo para buscar trabalho
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02 de junho de 2013 | 2h 05
MONTELLA DEL CADI, ESPANHA - O Estado de S.Paulo
Os irmãos Roser, Mireia e Josep nunca pensaram em viver no campo, depois de terem estudado em universidades em algumas das principais cidades da Espanha. Mas, diante da pior crise que o país enfrenta em décadas, os três jovens da família Bombardó estão hoje no setor da pecuária no interior da Catalunha, na esperança de não se transformarem em uma das milhões de pessoas no país que estão sem trabalho e sem futuro.
No sul da Europa, o desemprego que já afeta um a cada dois jovens está levando muitos deles a fazerem o caminho inverso do realizado por seus avós e pais há meio século, que abandonaram o campo e foram ganhar a vida nas grandes cidades.
Na Espanha, em Portugal e na Grécia, o fluxo de jovens de volta ao mundo rural já é uma realidade. Poucos têm números concretos do fenômeno. Mas a constatação é de que o êxodo rural registrado nesses países nos últimos 30 anos foi em parte freado e até revertido.
"Meu irmão Josep estudou engenharia mecânica, eu fiz estudos ambientais e minha irmã era enfermeira", disse Roser. "Hoje, estamos todos trabalhando aqui", apontou a jovem.
O retorno ao campo, porém, não significa a volta às velhas práticas. A família transformou a fazenda destinada ao gado em uma produção ecológica, vendendo carne de maior valor agregado.
Em meio ao Parque Natural de Cadi Moixeró, aos pés dos Pirineus, outro objetivo de Roser é o de transformar a propriedade (que fica a menos de duas horas de Barcelona) em um local para o turismo rural. "Vamos começar com esse projeto em julho", indicou a jovem.
Na Espanha, a família Bombardó não foi a única a decidir ficar no campo. Dados do governo da Catalunha sobre subsídios a iniciativas de novos agricultores dão a dimensão do fenômeno. Em 2009, 173 pessoas solicitaram ajuda à primeira instalação de jovens agricultores. Em 2012, foram 354.
Cursos para formar agricultores também estão tendo procura recorde neste ano, com várias cidades sendo obrigadas a recusar candidatos à formação.
Em Portugal, o governo chegou a fazer uma espécie de reforma agrária para incentivar o retorno de jovens ao campo. Pela nova lei, proprietários de terras fora de uso podem alugá-las a novos colonos em troca de redução de impostos em suas outras atividades. O governo estima que 1,5 milhão de hectares entrarão no programa.
O objetivo é desafogar Lisboa e Porto, cidades em que o desemprego entre jovens beira a crise social, e ao mesmo tempo voltar a gerar renda no campo. O que chama a atenção do governo é que o único setor da economia que relativamente consegue sobreviver é a agricultura. Em 2012, as exportações de alimentos aumentaram 17%.
Empreendedorismo. O fluxo de pessoas de volta ao campo chegou até mesmo a abrir espaço para novos negócios. Um deles é a consultoria Novos Povoadores, que tem como meta justamente ajudar jovens a sair das cidades e buscar alternativas de negócios no campo.
Frederico Lucas abandonou sua vida em Lisboa e abriu um escritório em Alfândega da Fé, na região de Trás-os-Montes, local que por anos viu sua população desaparecer em direção à Lisboa e mesmo ao Brasil. "Produção de alimentos, turismo rural e mesmo investimentos no campo são os principais alvos dessas famílias, que estão optando pelo campo por causa da tensão nas grandes cidades."
Na Grécia, a volta ao campo também já é registrada desde 2011, com momentos de tensão. Os gregos retornam à produção rural, antes dominada pelo imigrantes. "São sempre os imigrantes que mais sofrem em uma crise, seja nas cidades, seja no campo", admitiu François Crépeau, relator da ONU para Migrações. / J.C.
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
No hay comentarios:
Publicar un comentario