19 de octubre de 2016

BOB DYLAN: O JUDAÍSMO DO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA DE 2016





Edição 484  Diretor/Editor: Osias WurmanQuarta, 19 de Outubro de 2016


Por Daniela Kresch
Jornalista
direto de Israel

BOB DYLAN: O JUDAÍSMO DO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA DE 2016

TEL AVIV – O Nobel ignora muitos. Mas poucos ignoram o Nobel. O escritor israelense Amós Oz, por exemplo, é favorito para ganhar o Prêmio Nobel de Literatura há anos. Outro “eterno favorito” é o americano Philip Roth. Mas, se Oz e Roth têm sido desprezados pelos suecos, outro judeu foi homenageado, este ano: o compositor e poeta Robert Allen Zimmerman, ou melhor, Bob Dylan.

O “Bardo”, como é chamado pelos fãs, furou a fila do Nobel, mas não parece estar interessado no famoso e milionário prêmio. Até o momento em que escrevo estas linhas, ele ainda não atendeu os telefonemas da academia sueca para receber o Nobel de Literatura, no dia 10 de dezembro. Não respondeu a e-mails. Ninguém sabe se vai à cerimônia de premiação. Se não for, será o segundo a dar uma banana aos generosos suecos. O primeiro e único no quesito Literatura foi Jean-Paul Sartre (1964).

Dylan se tornou o 15° judeu a ganhar o Nobel de Literatura, se juntando a uma lista que inclui Isaac Bashevis Singer, Shai Agnon, Saul Bellow, Elias Canetti, Patrick Modiano, Nelly Sachs, Joseph Brodsky, Boris Pasternak, Nadine Gordimer, Imre Kertész e Harold Pinter.

É claro que, aqui em Israel, o fato de ter sido criado por uma família de judeus relativamente religiosos ganhou as manchetes. Os israelenses adoram o Nobel, até porque 12 deles já levaram o prêmio para casa (três pela Paz, um por Literatura, dois por Economia e seis por Química). Mas os israelenses também adoram comemorar os prêmios dados aos judeus em geral. Ao todo, 185 judeus ganharam o Prêmio Nobel até hoje (21% dos 870 ganhadores, apesar de os judeus seram apenas 0,2% da população mundial).

Este ano, três judeus ganharam o Nobel: J. Michael Kosterlitz (Física), Oliver Hart (Economia) e Bob Dylan. Mas é claro que o último foi o mais comemorado e comentado. Também aqui os israelenses se perguntam se o famoso cantor e compositor merece um Nobel de Literatura, apesar de ninguém questionar sua genialidade e influência na música mundial.

Mas, além desse questionamento, os israelenses se perguntam se Bob Dylan se considera judeu, se sua música espelha suas raízes, se ele se orgulha de sua cultura e religião. Perguntas complicadas quando se trata de uma figura tão misteriosa, uma celebridade que protege sua privacidade como ninguém.

Fui procurar na internet e achei um raro momento de Bob Dylan/ Robert Allen Zimmerman festejando seu judaísmo. Ele canta, com kipá na cabeça, “Hava Naguila” num programa de caridade televisionado, em 1989, juntamente com seu genro, Peter Himmelman, e com o ator Harry Dean Stanton: 

https://www.youtube.com/watch?v=yGXcTAHCcmo
.

A apresentação evidencia seu “retorno” ao judaísmo depois que ele se converteu brevemente ao cristianismo, nos anos 70. Bob Dylan cresceu numa família judaica que respeitava a Cashrut do Minnesota e foi a “machanot” num colônia de férias chamada Herzl Camp. Mas decidiu adotar o sobrenome Dylan aparentemente deixar para trás todo o passado, adotando uma “persona” misteriosa e introspectiva.

Chegou, como eu disse, a se tornar cristão e lançar discos “Gospel”. Mas nos anos 80 voltou ao judaísmo, estudando no Chabad. Foi nessa época que festejou o bar-mitzva do filho no Muro das Lamentações, em Jerusalém.
Alguns estudiosos identificam influências judaicas em suas músicas. Em 1983, ele lançou o disco “Indidels”, com a canção “Neighborhood Bully”, identificada como pró-Israel. Israel seria um “homem exilado” que é classificado de bully injustamente por se defender dos ataques de seus vizinhos.

“Dylan fez de tudo para assegurar que as pessoas soubessem o menos possível sobre o verdadeiro Bobby Zimmerman. Ao longo dos anos, porém, o homem por trás da lenda surgiu um pouco e tornou-se cada vez mais claro que, não só ele teve uma educação muito judaica, mas não se moveu tão longe de suas raízes como pode parecer à primeira vista”, escreveu o jornalista Ilan Preskovsky na Jewish Life Magazine.

Imagino que esse tema seja discutido com profundidade por especialistas, biógrafos, fãs e interessados em geral. Mas a verdade sobre o peso do judaísmo na obra de Bob Dylan só o próprio “Bardo” sabe.

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