16 de febrero de 2014
Terá chegado ao fim a lua de mel do papa Francisco?
Terá chegado ao fim a lua de mel do papa Francisco?
O ESTADO DE SÃO PAULO - 07 de fevereiro de 2014 |
2h 03
ANÁLISE:
O relatório a respeito do Vaticano divulgado
pelas Nações Unidas na quarta-feira, altamente crítico, será uma leitura
desagradável para o papa Francisco, que no próximo mês completa um ano de
pontificado. Desde sua eleição, em março, o líder da Igreja Católica tem sido
recebido com grande alegria por milhões de jovens fiéis - a imagem do novo papa
tem aparecido nas capas de revistas como a Time e a Rolling Stone.
No entanto, o período de lua de mel pode
agora estar chegando ao fim. A maneira que Francisco tratar os escândalos de
abuso sexual deverá ser um teste fundamental para o seu papado.
Barbara Blaine, presidente da organização
Rede de Sobreviventes de Abusos de Padres (Snap, na sigla em inglês), entidade
com base nos EUA, tem dúvidas sobre se o pontífice fará do assunto uma
prioridade. "O modo mais rápido de impedir violência sexual de clérigos
católicos contra crianças é o papa Francisco destituir publicamente de suas
atribuições religiosas todos os agressores - e supervisores que permitiram seus
crimes", afirmou a ativista.
"Após décadas varrendo esse tema para
debaixo do tapete, o Vaticano deveria aproveitar essa oportunidade para
agir", afirmou Katherine Gallagher, advogada sênior do Centro para
Direitos Constitucionais, ONG que forneceu as evidências para a comissão da ONU
que fez o relatório. "Esse dia era esperado há muito tempo, mas a
comunidade internacional está finalmente responsabilizando o Vaticano por
permitir e perpetuar a violência sexual na Igreja", afirmou, acrescentando
que o mundo observará para conferir se o Vaticano acabará com a impunidade dos
agressores.
A comissão da ONU reclamou que a hierarquia
católica, incluindo os "mais altos níveis da Santa Sé", se recusaram
a cooperar com autoridades judiciais e comissões nacionais de investigação. O
organismo afirmou que a Santa Sé deveria iniciar uma série de reformas para
atender às obrigações estabelecidas pela Convenção Internacional sobre os
Direitos das Crianças, em vigor desde 1990.
Ativistas acusaram o Vaticano de ser cúmplice
de uma escala "em massa" de abusos. Para Keith Porteous Wood, diretor
da ONG britânica Sociedade Secular Nacional, o Vaticano "faz tudo o que
pode para proteger da Justiça clérigos abusadores e manter seus abusos em
segredo".
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