13 de agosto de 2010

A solução de um Estado único para judeus e árabes

O ESTADO DE SAÕ PAULO

A solução de um Estado único para judeus e árabes

Direita israelense apresenta ideia para pôr fim ao conflito

02 de agosto de 2010 | 0h 00

Jonathan Freedland / The Guardian - O Estado de S.Paulo

Se David Cameron está se sentindo um pouco frustrado com a ausência de progresso no Oriente Médio - durante uma visita à Turquia, no dia 29, abandonou a linguagem diplomática e afirmou que Gaza é um "campo de prisioneiros" - não é o único. "Está tudo parado", suspira Jamal Zahalka, um membro palestino do Parlamento israelense. O pequeno partido nacionalista árabe que ele lidera está formalmente comprometido com a solução dos dois Estados, mas não vê nenhuma perspectiva para isso.
Ao que se comenta, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, está "prestes" a desistir da solução dos dois Estados na qual acreditava desde a década de 70. E muitos judeus israelenses compartilham deste pessimismo.
Portanto, não surpreende que as pessoas procurem outras respostas, e até mesmo levantem uma ideia há muito abandonada, defendida somente por extremistas e sonhadores: a "solução de um Estado único". Segundo esta ideia, os dois povos em conflito cessariam de viver em duas entidades separadas para se tornar cidadãos de um único país.
A diferença, porém é que esta não é a visão dos fanáticos árabes da negação, que se recusam a aprovar todo acordo que permita a existência de um Estado judeu distinto, nem dos estudantes esquerdistas da velha escola, dos anos 80, outrora defensores incansáveis de um Estado secular democrático. Os novos defensores da solução de um Estado único são os integrantes da direita nacionalista israelense.
O mais destacado foi Moshe Arens, que ocupou o cargo de ministro das Relações Exteriores e da Defesa na era Menachem Begin-Itzak Shamir, há duas décadas. No mês passado, ele escreveu que está na hora de Israel considerar "outra opção": um Estado único no território que agora é Israel e Cisjordânia. Os palestinos que vivem ali não mais seriam, segundo Arens, um povo sob ocupação, e se tornariam cidadãos com direitos plenos.
Para compreender até que ponto esta nova posição acaba com os tabus, basta lembrar o caso do estudioso Tony Judt. Em 2003, ele também levantou a ideia de um Estado único, que foi imediatamente denunciada como heresia antissionista. Entretanto, agora, estas mesmas posições voltaram a ser apresentadas pela direita radical.

Contudo, não é muito difícil perceber por que esta ideia outrora proibida agora apela para o lado nacionalista de Israel. A solução dos dois Estados pode ser um ponto pacífico em todo o globo, mas para os colonos e seus aliados a própria ideia provoca traumas. Mas se houver um Estado único, todo esse trauma poderá ser evitado.

Como foi que a direita chegou a esta conclusão? Gaza. Antes que Israel se separasse, em 2005, desta faixa de terra, a alusão a um Estado único desencadeava temores demográficos nos corações israelenses. Pois, se Israel tivesse de absorver os palestinos da Cisjordânia e de Gaza juntos, seu número imediatamente comprometeria a maioria judia do país. Mas, para Arens, o vínculo com Gaza agora foi cortado, eliminando praticamente seu 1,5 milhão de palestinos. Ficariam os palestinos da Cisjordânia, estimados entre 1,5 ou 2 milhões.

À primeira vista, esta nova visão poderia ser atraente também para os palestinos. Muitos deles estão cansados de esperar por um Estado que nunca se materializa: por que não continuar a luta em uma nova frente, usando sua força numérica nas urnas israelenses?

Processo. Mas não seria exatamente assim. Em primeiro lugar, as promessas dos direitistas defensores do Estado único não se realizariam instantaneamente: a concessão da cidadania seria "gradativa". Tampouco estão oferecendo um Estado verdadeiramente binacional que garanta status igual às duas nações. Ao contrário, Israel continuaria um Estado judeu e os palestinos receberiam apenas os direitos civis, sem nenhum reconhecimento nacional, coletivo. Considerando a longa história de discriminação que a comunidade sofreu, esta perspectiva não seria tão atraente.

Quando apresentei a ideia à colega de Zahalka, Haneen Zoabi, ela foi categórica: aceitar esta proposta significaria abandonar a reivindicação da soberania palestina sobre a Cisjordânia: "Nunca cederemos neste ponto." Os judeus israelenses têm todas as razões para se mostrar igualmente céticos a respeito da proposta do Estado único. Se Zoabi estiver certa e os habitantes da Cisjordânia não aceitarem a cidadania num Estado israelense, a alternativa será uma entidade propriamente binacional.

Entretanto, que garantias existem de que dois povos que não conseguiam negociar um divórcio, se dariam melhor em um casamento? O apoio a esta ideia é praticamente zero. É difícil que esta situação mude enquanto os israelenses, e os judeus em todo o mundo, continuarem ansiando por aquilo que quase todas as nações consideram indiscutível: um Estado próprio.


E, no entanto, isso não deve ser considerado impossível de alcançar. Os defensores do Estado único da direita afirmam estar levantando agora a questão porque a situação se tornou intolerável para a opinião mundial e está corroendo a legitimidade de Israel. A direita israelense parte do pressuposto de que já é tarde demais. Cabe aos que ainda acreditam que os dois Estados representam a última e maior esperança para israelenses e palestinos provar que estão errados. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA


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