30 de agosto de 2010

Espanha: 12 mártires carmelitas a caminho dos altares (I y II)

ZP10082204 - 22-08-2010

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Espanha: 12 mártires carmelitas a caminho dos altares (I)


Por Carmen Elena Villa
ROMA, domingo, 22 de agosto de 2010 (ZENIT.org) - "Senhores, em breve estaremos diante do tribunal de Deus: preparemo-nos!": estas foram as palavras do Pe. José María Mateos aos seus irmãos de comunidade, antes de morrer assassinado durante a perseguição religiosa na Espanha, na década de 30.
O Papa Bento XVI assinou o decreto no qual se comprova o martírio deste religioso, junto a outros 10 carmelitas. Todos foram assassinados entre julho e setembro de 1936.
São os padres Elías María Durán, José María Mateos, José María González, e os irmãos Jaime María Carretero e Ramón María Pérez Sousa, Antonio María Martín e Pedro Velasco.
A perseguição contra a Igreja havia começado há vários anos, depois da proclamação da Espanha no regime republicano, em 1931. No entanto, o ódio contra a Igreja se desencadeou de maneira mais forte a partir de 18 de julho de 1936, com o começo da guerra civil. Houve numerosos incêndios a conventos, destruições de imagens sagradas, calúnias sobre religiosos e perseguições.
Em Andaluzia, a perseguição foi breve, mas muito sangrenta. Lá se encontravam os carmelitas, que moravam nos conventos de Motoro e Duque de Hinojosa. Seu trabalho era essencialmente pastoral e não tinham nada a ver com assuntos políticos. Não obstante, os republicanos os consideravam um obstáculo para os planos futuros.
Apesar dos poucos dados biográficos que se têm desses religiosos, a Congregação para as Causas dos Santos comprovou seu martírio porque a saída mais fácil para evitar que morressem ou que fossem presos era a de renunciar à vida religiosa; no entanto, eles permaneceram fiéis à sua vocação, mostraram o amor e o perdão aos seus verdugos e até o final demonstraram seu amor a Cristo.
Por isso, a causa para a sua canonização foi inscrita em 1958 na diocese de Córdoba, onde os habitantes ainda falam e lembram desse grupo de mártires. Alguns comentam favores recebidos por sua intercessão. Também há algumas ruas com seus nomes.
"Eram duas comunidades diferentes e foram martirizadas em momentos diversos", disse a ZENIT o postulador desta causa, Pe. Giovanni Grosso.
No convento de Montoro
A comunidade carmelita de Montoro vivia alheia a toda ação política. Seus religiosos se dedicavam ao ensino do carisma carmelita. Os milicianos entraram neste convento no dia 19 de julho de 1936, com o fim de assassinar "tudo que cheirasse a cera".
Assim, prenderam os religiosos. Entre eles, estavam os sacerdotes José María Mateos e Eliseo Durán, que se dedicaram a confessar outros prisioneiros, a dar-lhes esperança no Senhor e a dirigir momentos de oração. "A sacristia do convento foi transformada em uma prisão", disse o Pe. Giovanni.
No dia 22 de julho, assaltaram a prisão. Alguns se prepararam para o martírio com disposição penitencial, comendo somente pão, "pois, como sabiam que iam morrer, queriam estar mais bem preparados para o martírio, observando cabalmente a abstinência do dia", disse uma testemunha, que foi citada na Positio apresentada à Congregação para a Causa dos Santos.
José María Mateos
Este sacerdote nasceu em 1902. Aos 17 anos, entrou na comunidade e foi ordenado sacerdote em 1925. Dentro dos carmelitas, serviu como prefeito de teólogos, leitor de teologia, examinador sinodal e professor de teologia.
Suas boas pregações, sua sensibilidade pelas necessidades dos pobres e seu zelo pelo trabalho, ainda nas pequenas coisas, eram suas características mais destacadas.
Dois anos antes de sua morte, foi nomeado vice-prior do convento e depois prior. Celebrou sua última Missa no dia em que os milicianos entraram no convento. Os que estiveram presos com ele contam que pediu aos verdugos que assassinassem eles ao invés dos pais de família que estavam lá presentes.
"Comportou-se bem lá na prisão, incentivando todos; ele nos dirigia na oração do santo terço. Eu o via sentado em sua poltrona e alguns se aproximavam dele, talvez para ser ouvidos por ele em confissão", disse Apolinar Peralbo, um dos seus colegas de cativeiro.
Outra das testemunhas afirma que, antes de ser assassinado, colocaram nele uma coroa de espinhos, dizendo-lhe: "Como o seu divino Mestre".
"Morreu no dia 22 de julho, por volta das 16h. Tínhamos terminado de almoçar e rezar o terço quando aquela tropa chegou e começou a matá-los, primeiro com machados, depois com tiros e depois a facadas", disse uma testemunha da sua morte.
"Eu tinha subido com outros no andar de cima, ouvi a voz, mas não entendi o que dizia. Depois, pelo rumor da rua, eu soube que lhes dissera que matassem eles e não os demais, que eram pais de família", recordou.
Os outros mártires
Dentro desse grupo se encontrava também o Pe. Eliseo Durán, que nasceu em 1906, entrou na comunidade em 1924 e foi ordenado em 1932.
Junto com o Pe. José María, ofereceu sua vida pelos pais de família. Ele se encarregava da formação dos meninos, era alegre, jovial e simples. "Tinha fama de religioso bom e muito querido por todos, por sua humildade e simplicidade", disse uma das testemunhas na Positio.
Também estava nesse grupo o irmão Jaime María Carretero, nascido em 1911. Entrou em 1929 e morreu no ano em que havia feito sua profissão solene, 1936. Seus irmãos o viam como "modelo de obediência" e alguns o chamavam de "pequeno santo".
Também foi assassinado lá Ramón Pérez Sousa, quem havia entrado na comunidade somente 3 anos antes de sua morte, aos 33 anos. Apesar de ter terminado seu noviciado pouco antes, tinha uma forte convicção de sua vocação. Dele sobressaíam "sua obediência e sua austeridade".
[A segunda parte desta reportagem será publicada no próximo domingo, 29 de agosto]

ZP10082906 - 29-08-2010

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Espanha: 12 mártires carmelitas a caminho dos altares (II)

Por Carmen Elena Villa
ROMA, domingo, 29 de agosto de 2010 (ZENIT.org) - O Papa Bento XVI assinou o decreto que comprova o martírio do Pe. José María Mateos, junto com os sacerdotes Elías María Durán, José María Mateos, José María González, e os irmãos Jaime María Carretero e Ramón María Pérez Sousa, Antonio María Martín e Pedro Velasco.
Todos foram assassinados entre julho e setembro de 1936. Os religiosos foram presos nos conventos de Montoro e de Hinojosa del Duque.
Publicamos a segunda parte desta reportagem. A primeira parte foi publicada no domingo passado e nela se narra a invasão do convento de Montoro e o assassinato de José María Mateos e Elías Durán.
Hinojosa del Duque
Outros 50 religiosos carmelitas moravam no convento da pequena cidade de Hinojosa del Duque, situada na província de Córdoba, em Andaluzia. Esta se caracterizava por ser muito pacífica.
No entanto, no dia 27 de julho de 1936, vários milicianos irromperam a calma, entrando no convento. Alguns religiosos, por precaução, haviam sido enviados às casas das suas famílias, alguns dias antes.
"Lá, o ambiente era de destruir tudo o que cheirasse a religião, tanto as imagens sagradas como os edifícios sagrados ou templos; os milicianos eram assassinos e incendiários, profanavam tudo o que encontravam pela frente; por exemplo, colocavam os confessionários nas portas do templo, para que servissem de guaritas", diz uma testemunha citada na Positio.
Muitos deles perceberam que o martírio se aproximava, razão pela qual quiseram dispor-se interiormente, fazendo penitência e comendo somente pão e água.
"Só sei que pareciam todos valentes e decididos para receber ou sofrer o martírio. Isso eu sei também por sua família", disse Sor Damiana Goñi Senosaín, uma das testemunhas.
Moyano Linares, íntegro até o final
Este sacerdote, que foi também o provincial da comunidade entre 1926 e 1932, nasceu em 1891 e entrou na comunidade em 1907. Recebeu o sacramento da ordem em 1914, na basílica de São João de Latrão, em Roma.
"Era culturalmente de maior nível. Havia entendido e estava convencido de que deveriam sofrer o martírio", disse o Pe. Grosso.
O Pe. Moyano permaneceu 38 dias preso por seus perseguidores antes de ser assassinado. Foi amontoado junto a outras 70 pessoas e humilhado da pior maneira: jogaram fezes nele e o deixaram em uma cela com uma prostituta. Ele permaneceu fiel ao voto de celibato.
"Tiravam-no de lá para realizar operações de limpeza pública, como varredor, ou trabalhos pesados, carregar sacos, regar as árvores do parque. Espancavam-no até fazê-lo sangrar", conta uma testemunha.
"Ele pediu para ser o último em morrer, para poder absolver os pecados de todos os seus companheiros de cativeiro", conta,
"Sua conduta na prisão foi exemplar. E eu o ouvi dizer ao meu irmão que costumava exigir deles um perdão positivo dos seus inimigos", assegurou Juan Jurado Ruiz, outra testemunha.
Pe. José María González Delgado
O amor a Nossa Senhora e ao Santíssimo Sacramento era o que mais caracterizava José María González Delgado, nascido em 1908. Aos 21 anos, ingressou na Ordem e fez sua profissão solene em 1935.
"A era dos mártires ainda não terminou. Talvez Deus tenha nos destinado a seguir os passos daqueles heróis", escreveu uma vez ao seu diretor espiritual.
E foi ele o primeiro em morrer após a invasão ao convento de Hinojosa del Duque. Os milicianos jogaram uma bomba. "Ele fugiu e foi buscar sua família. Uma prima não o acolheu, outra sim", conta o Pe. Grosso. "Depois, descobriram uma medalha no pescoço dele e assim o prenderam", conta seu postulador.
Uma das testemunhas relatou como o levaram até a morte, junto a outros presos: "Serviram como escudos humanos. No meio da confusão, foram matando todos a tiros, no pátio da prefeitura".
Eliseo Camargo Montes
Este religioso nasceu em 1887 e entrou no convento aos 28 anos, depois de ter mantido sua família com seu trabalho, devido à morte prematura dos seus pais.
Era o cozinheiro da comunidade. No dia da invasão, pulou o muro do convento e foi hospedou em uma casa de família. No entanto, os milicianos o capturaram supostamente para que servisse de guia na busca de armas. Obrigaram-no a pisotear o sangue dos seus irmãos.
Foi assassinado junto com o Irmão José María. "Ambos demonstraram valor diante dos sofrimentos, sem queixar-se; foram presos e depois assassinados unicamente por serem religiosos. Fundo esta crença no conhecimento que tive de ambos", disse Alfonso María Cobos López, uma das testemunhas.
Nessa invasão, foi martirizado também José María González Cardeñosa, nascido em 1902. Sua mãe morreu quando ele tinha 2 anos e por isso ficou sob os cuidados da sua avó. Aos 23 anos, fez sua profissão solene, apesar de que seu pai se opunha à sua vocação. Seus irmãos lembravam dele como alguém humilde, caridoso com o próximo e obediente com seus superiores.
No dia da invasão ao convento, ele quis ficar junto com Antonio María Marín e Pedro Velasco Narbona.
Também morreu Antonio María Povea, que entrou na comunidade aos 36 anos. Era o porteiro do convento e nele se destacava a paciência, a simplicidade e a humildade. Foi ele quem abriu a porta aos milicianos e, nesse momento, foi tomado como refém. "Só sei que deve ter morrido por ser religioso, pois não havia outro motivo ou razão", disse a testemunha José Lotillo Rubio.
Por último, está o postulante Pedro Velasco Carbona, nascido em 1892 e membro da Ordem desde 1933. Junto com Antônio, decidiu permanecer no convento, apesar de que isso colocava sua vida em risco. Era o sapateiro e cumpria muito bem suas tarefas como postulante.