QUO
VADIS, PETRE?
25.02.2013 Arnaldo Xavier da Silveira
http://www.arnaldoxavierdasilveira.com/
1] Em manifestações de católicos nos
meios de comunicação após o anúncio da demissão de Bento XVI, vê-se com
preocupação um erro grave e frequente: a noção de que, gozando o Conclave da
assistência do Espírito Santo, podem todos estar tranquilos, porque será
seguramente escolhido um Pontífice fiel, que bem conduzirá as almas à salvação
eterna. Existe uma tendência a crer que o Espírito Santo comanda a assembleia a
ponto de escolher diretamente o novo Papa. Mesmo Cardeais têm usado de
expressões que dão essa ideia, como se a eleição fosse obra exclusiva, ou
praticamente exclusiva, do Espírito Santo.
Da assistência do Espírito Santo ao
Conclave
2] Tal concepção se opõe à reta
doutrina, e deixa perplexo quem, com algum conhecimento das coisas católicas,
sabe quão absurdo seria dizer que o Espírito Santo escolheu Rodrigo de Borja, cardeal
escandaloso, com filhos bastardos, para dele fazer o Papa Alexandre VI. E esse
não é o único caso do gênero na História da Igreja.
3] A verdadeira doutrina sobre essa
matéria vem exposta por Mangenot no Dictionnaire de Théologie Catholique: “A assistência do Espírito Santo é somente o
efeito da providência especial de Deus para com sua Igreja, para nela conservar,
explicar e defender de todo ataque o depósito da revelação confiado aos
apóstolos. Portanto, essa assistência não tira a liberdade dos doutores
infalíveis da Igreja; ela supõe e exige a atividade deles. Seu próprio nome o
indica: o Espírito Santo assiste a
Igreja para a impedir de errar. É preciso pois que ela recorra aos meios
ordinários, pesquisas, estudos, discussões e deliberações, que afastem o erro
de seu ensino. O Espírito Santo favorece essa atividade por suas graças atuais
e vela para que ela não se desvie em nada do caminho reto da verdade revelada”
(DTC, Assistance du Saint-Esprit, t. I, 2ª
parte, col. 2.127).
4] Em 1997, Bento XVI, então
Cardeal Ratzinger, assim se expressou, pela televisão bávara, sobre a
assistência divina no Conclave: “(...) o
Espírito Santo não assume exatamente o controle do caso, mas, antes, como bom
educador, deixa-nos muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar
inteiramente. Assim, o papel do Espírito Santo deveria ser entendido num
sentido muito mais elástico, não que ele diga qual o candidato em quem se deva
votar”.
5] Os Cardeais não são arrastados e
forçados a escolher o candidato melhor e mais apropriado às circunstâncias, mas
apenas ajudados, assistidos, de
maneira não impositiva, que não lhes tolhe a liberdade. Podem recusar a graça.
Essa assistência é análoga à que ocorre nos ensinamentos papais e conciliares,
nos quais pode haver erro quando não preenchidas as condições da
infalibilidade.
A Igreja pode passar por crises de
gravidade extrema
6] Acrescente-se que, nesta terra, a
Igreja é “militante”. Ou seja, embora infalível e indefectível, Deus permite
que ela passe por crises, mesmo graves e gravíssimas, o que aconteceu em várias
fases de sua história, como na longa crise ariana do século IV. As razões pelas
quais a divina Providência permite males de tal tamanho são as mesmas pelas
quais permite que o homem seja tentado e peque, entre elas “para que possam manifestar-se os que são
realmente virtuosos” (I Cor. 11:19).
7] Portanto, embora possamos e devamos
ter esperança na eleição de um Papa fiel no próximo Conclave, e devamos rezar
ardentemente para isso, não podemos ter a esse respeito um otimismo ingênuo,
sem base na teologia nem na realidade dos fatos. A eventual eleição de um Papa
progressista poderá representar o aprofundamento da crise atual e a perdição de
número incontável de almas, mas jamais resultará na destruição da Santa Igreja,
nem haverá de levar o católico a duvidar de sua fé.
Da
possível eleição do Cardeal Ravasi
8] A imprensa tem apresentado como um
dos principais candidatos à eleição o Cardeal Ravasi, atual Presidente do
Pontifício Conselho para a Cultura. Homem de forte personalidade, hábil no
manejo da palavra, seria ele uma das figuras preferidas pelos progressistas. O
Cardeal Ravasi elogia Fogazzaro e Scotti, dois expoentes do modernismo
condenado por São Pio X. Como “crentes”,
enumera em pé de igualdade santos e heresiarcas protestantes: “de são Policarpo a são Basílio, de são
Bernardo a são Luis, de Hus a Lutero, a Melanchton”. Altamente reveladoras
de seu pensamento, são suas passagens sobre as dores de Nossa Senhora no parto,
em que se distancia claramente da teologia católica.
Do direito de resistir a um Papa que
esteja fora do bom caminho
9] A possível eleição de um Papa
manifestamente progressista traria
grande confusão aos fieis. Os sedevacantistas negariam, sem dúvida, sua
condição de Sumo Pontífice. A isto se oporiam os que sustentam que o Papa
afastado da fé verdadeira só perderá o Pontificado quando esse fato se tornar
manifesto para o corpo da Igreja, reconhecido em geral pelos altos hierarcas
como pelos simples fieis. Esse princípio é exposto pelo Pe. Laymann (+1635),
grande moralista da Companhia de Jesus: “enquanto
(o Papa que se afastou da fé católica) for
tolerado pela Igreja e publicamente
reconhecido como pastor universal, gozará realmente do poder pontifício, de tal
modo que todos os seus decretos não terão força e autoridade menores do que
teriam se ele fosse verdadeiramente fiel”. Essa posição doutrinária,
baseada no dogma de que a Igreja é sociedade visível e perfeita, vale para o
Papa verdadeiro que peca contra a fé, como para o que já a tenha perdido antes
de sua eleição.
10]
De toda forma, lembre-se que “quando o pastor se transforma em lobo, é ao
rebanho que, em primeiro lugar, cabe defender-se” (D. Guéranger, +1875). ― Santo Tomás de Aquino (+1274)
escreveu: “(...) havendo perigo próximo
para a fé, os prelados devem ser arguidos, até mesmo publicamente, pelos
súditos; assim, São Paulo, que era súdito de São Pedro, arguiu-o publicamente,
em razão de um perigo iminente de escândalo em matéria de Fé”. ― Segundo o
grande teólogo dominicano Cardeal
Caietano (+1534), “deve-se
resistir em face ao Papa que publicamente destrói a Igreja”. ― O eminente doutor
jesuíta Francisco Suarez
(+1617) ensina: ”Se [o Papa] baixar uma ordem contrária aos bons costumes, não se há de obedecer-lhe; se
tentar fazer algo manifestamente oposto à justiça e ao bem comum, será lícito
resistir-lhe; se atacar pela força, pela força poderá ser repelido, com a
moderação própria à defesa justa”. ― São
Roberto Bellarmino: (+1621) “(...)
assim como é lícito resistir ao Pontífice
que agride o corpo, assim também é lícito resistir ao que agride as almas, ou que perturba a ordem civil, ou,
sobretudo, àquele que tentasse destruir a Igreja; digo que é lícito
resistir-lhe não fazendo o que ordena e impedindo a execução de sua vontade”
(As referências estão em “La Nouvelle
Messe de Paul VI: Qu’en Penser?”, que publiquei em 1975, Diff. de la Pensée
Fr., Chiré-em-Montreuil, pp. 320-324).
11] Peçamos humilde e insistentemente a
Nossa Senhora do Sagrado Coração e a São José, patrono da Igreja universal, que
os Eminentíssimos Senhores Cardeais atendam fielmente à voz do divino Espírito
Santo.
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QUO
VADIS, PETRE?
25.02.2013 Arnaldo Xavier da Silveira
http://www.arnaldoxavierdasilveira.com/ traductor: José María Rivoir
1] En las manifestaciones de los católicos en los medios de
comunicación después del anuncio de la dimisión de Benedicto XVI, se ve con
preocupación un error grave y frecuente: la idea de que, gozando el Cónclave de
la asistencia del Espíritu Santo, todos pueden estar tranquilos, porque
ciertamente será escogido un Pontífice fiel, que conducirá bien a las almas a
la salvación eterna. Existe una tendencia en creer que el Espíritu Santo manda en
la asamblea hasta tal punto que escoge directamente al nuevo Papa. Incluso
algunos Cardenales han usado expresiones que dan esa idea, como si la elección
fuera obra exclusiva, o prácticamente exclusiva, del Espíritu Santo.
Sobre la asistencia del Espíritu Santo al Cónclave
2] Tal concepción se opone a la recta doctrina, y deja perplejo a
quien, con algún conocimiento de las cosas católicas, sabe cómo sería absurdo
decir que el Espíritu Santo escogió a Rodrigo de Borja, cardenal escandaloso,
con hijos bastardos, para hacerle el Papa Alejandro VI.Y ese no es el único
caso de este género en la Historia de la Iglesia.
3] La verdadera doctrina sobre esa materia está expuesta por Mangenot
en el Dictionnaire de Théologie
Catholique: "La asistencia del Espíritu Santo es solamente el efecto de la
providencia especial de Dios para su Iglesia, para en ella conservar, explicar
y defenderla de todo ataque al depósito de la revelación confiado a los
apóstoles. Por tanto, esa asistencia no quita la libertad de los doctores
infalibles de la Iglesia; ella supone y exige la actividad de ellos. Su propio
nombre lo indica: el Espíritu Santo asiste a la Iglesia para impedirla de
errar. Es necesario pues, que ella recorra a los medios ordinarios,
investigaciones, estudios, discusiones y deliberaciones, que aparten al error
de su enseñanza. El Espíritu Santo favorece esa actividad con sus gracias
actuales y vela para que ella no se desvíe en nada del recto camino de la
verdad revelada" (DTC, Assistance du Saint-Esprit, t. I, 2ª parte, col. 2.127).
4] En1997, Benedicto XVI,
entonces Cardenal Ratzinger, se expresó así, por la televisión bávara, sobre la
asistencia divina en el Conclave: (…) el
Espíritu no asume exactamente el control del caso, pero antes, como buen
educador, nos deja mucho espacio, mucha libertad, sin abandonarnos totalmente.
Así, el papel del Espíritu Santo debería ser entendido en un sentido más
elástico, y no que él diga cuál es el candidato en quien se debe votar".
5] Los Cardenales no son arrastrados y forzados a escoger el mejor
candidato y más apropiado a las
circunstancias, pero apenas ayudados, asistidos,
de manera no impositiva, que no les priva la libertad. Pueden recusar la
gracia. Esa asistencia es análoga a la que ocurre en las enseñanzas papales y
conciliares, en las cuales puede haber error cuando no cumplen las condiciones
de infalible.
La Iglesia puede pasar por crisis de enorme gravedad
6] Añádase que en la tierra, la Iglesia es "militante". O
sea, a pesar de que es infalible e indefectible, Dios permite que ella pase por
crisis, incluso graves y gravísimas, lo que ya aconteció en varias fases de su
historia, como la larga crisis arriana del siglo IV. Las razones por las cuales
la divina Providencia permite males de tal calibre son las mismas por las
cuales permite que el hombre sea tentado y peque, entre ellas "a fin de que se destaquen los de probada
virtud" (I Cor. 11:19)
7] Por tanto, aunque podamos y debamos tener esperanza en la elección
de un Papa fiel en el próximo Conclave, y debamos rezar ardientemente para eso,
no podemos tener respecto a esto un optimismo ingenuo, sin base en la teología
ni en la realidad de los hechos. La posible elección de un Papa progresista
podrá representar la profundización de la crisis actual y la perdición de
innumerable almas, pero jamás la destrucción de la Santa Iglesia,
ni llevará al católico a dudar de su fe.
Sobre la posible elección del Cardenal Ravasi
8] La prensa ha presentado como uno de los principales candidatos a la
elección del Cardenal Ravasi, actual Presidente del Pontificio Consejo para la
Cultura. Hombre de fuerte personalidad, hábil en el manejo de la palabra, él
sería una de las figuras preferidas por los progresistas. El Cardenal Ravasi
elogia Fogazzaro y Scotti, dos exponentes del modernismo condenado por San Pío
X. Como "creyentes", cita
en pié de igualdad a santos y heresiarcas protestantes: "de san Policarpio a san Basilio, de san
Bernardo a san Luis, de Hus a Lutero, a Melanchton". Altamente reveladores
de su pensamiento, son sus trechos sobre los dolores de Nuestra Señora en el
parto, en que se distancia claramente de la teología católica.
Sobre el derecho de resistir a un Papa que esté
fuera del buen camino
9] La posible elección de un Papa claramente progresista traería una
gran confusión a los fieles. Los sedevacantistas negarían, sin lugar a dudas,
su condición de Sumo Pontifice. A esto se opondrían los que sustenten que el
Papa apartado de la fe verdadera sólo perderá el Pontificado cuando ese hecho
se vuelva manifiesto para el cuerpo de la Iglesia, reconocido en general tanto
por los altos jerarcas como por los simples fieles. Ese principio es expuesto por
el P. Layman (+1635), un gran moralista de la Compañía de Jesús: "en cuanto (el Papa que se apartó de la
fe católica) fuera tolerado por la
Iglesia y públicamente reconocido como pastor universal, gozará realmente del
poder pontificio, de tal modo que todos sus decretos no tendrán menor fuerza y
autoridad de lo que tendrían si él fuera verdaderamente fiel". Esa
posición doctrinal, basada en el dogma de que la Iglesia es sociedad visible y
perfecta, vale para el Papa verdadero que peca contra la fe, como para el que
ya la haya perdido antes de su elección.
10] De todas maneras, se debe acordar que "cuando el pastor se trasforma en lobo, es al rebaño que, en primer
lugar, cabe defenderse" (D.
Guéranger, +1875). — Santo Tomás de Aquino (+1274) escribió: "(…) habiendo peligro próximo para la fe, los prelados deben ser argüidos,
hasta mismo publicamente, por los súbditos; así, San Pablo, que era subdito de
San Pedro, le arguyó públicamente, por causa de un peligro eminente del
escándalo en materi de Fe", — Según
el gran teólogo dominico Cardenal
Cayetano (+1534), "se debe
resistir en la cara al Papa que públicamente destruye a la Iglesia". — El eminente doctor jesuíta Francisco Suarez (+1617) enseña: "Si [el Papa] publica una orden contraria a las buenas
costumbres, no se debe obedecerle; si intenta algo abiertamente opuesto a la justicia
y al bien común, sera lícito resistirle; si ataca por la fuerza, por la fuerza podrá ser
repelido, con la moderación propia de la defensa justa". — San Roberto Bellarmino: (+1621)
"(…) así como es lícito resistir al
Pontifice que agrede al cuerpo, así también es lícito resistir al que agrede a las almas,
o que perturba el orden civil, o, sobre todo, aquel que intentase destruir la
Iglesia; digo que es lícito resitirle no haciendo lo que ordena e impidiendo la ejecución de su voluntad" (Las referencias están en “La Nouvelle
Messe de Paul VI: Qu’en Penser?”, que publiqué en 1975, Diff. de la Pensée
Fr., Chiré-en-Montreuil, pp. 320-324).
11] Pidamos humildemente e insistentemente a Nuestra Señora del
Sagrado Corazón y a San José, patrono de la Iglesia universal, que los
Eminentísimos Señores Cardenales atiendan fielmente a la voz del divino
Espíritu Santo.
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