27 de marzo de 2013
Se o antimiserabilista Papa São Silvestre I pudesse ressuscitar e visse a desconstantinização da Igreja, o que faria?
Excertos da conferência proferida
pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 30-12-1966.
Sem revisão do autor.
Se o antimiserabilista Papa São Silvestre I
pudesse ressuscitar e visse a desconstantinização da Igreja, o que faria? Que indignação teria?
Vamos fazer comentário do Santo do Dia, que é o Papa São Silvestre. São dados tirados de Dom Guéranger, L'Année Liturgique:
“Aquele que os coroou, glorifica-os também de vê-los a Seu lado. Era justo, então, que a Santa Igreja, para reunir nessa oitava triunfante todas as glórias do Céu e da Terra, inscrevesse nesses dias, o nome de um santo confessor que representasse todos os confessores. Este é São Silvestre, esposo da Santa Igreja Romana e, por ela, da Igreja Universal.”
“Um pontífice de reinado longo e pacífico, um servidor de Cristo ornado de todas as virtudes, e dado ao mundo após esses combates furiosos que haviam durado três séculos, nos quais triunfaram pelo martírio milhares de cristãos sob a direção de numerosos papas, mártires predecessores de Silvestre.
“Silvestre anuncia também a paz que Cristo veio trazer ao mundo e que os anjos cantaram em Belém. Amigo de Constantino, confirma o Concílio de Nicéia, que condenou a heresia ariana; organiza a disciplina eclesiástica para uma era de paz. Seus predecessores representaram Cristo padecente; ele figura Cristo triunfante. Ele completa, nessa oitava, o caráter do Divino Menino e chega na humildade de Suas faixas, exposto à perseguição de Herodes e, entretanto, é o Príncipe da Paz e o Pai do século futuro”.
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É um lindo comentário de Dom Guéranger. Em última análise, o que deve nos chamar a atenção na vida desse santo é o conceito, a oportunidade do exemplo que ele dá nos dias tristes em que nós vivemos. Ele foi o Papa que viveu no tempo do Imperador Constantino(*), e cabe-lhe, portanto, presidir a essa transformação importante da Igreja, que era o fato de a Igreja deixar de ser perseguida para ser rainha, deixar as catacumbas para começar a ocupar palácios.
Ele foi o Papa que presidiu ao nascimento da Igreja para fora das catacumbas, como um sol que nasce, e foi sob as suas diretrizes, sob a sua inspiração, que começou a obra chamada “da constantinização” da Igreja.
O que é essa obra e o que é constantinização? A obra consistiu no seguinte: houve um primeiro edito de Constantino, que concedeu liberdade à Igreja Católica. Houve, logo depois, um outro edito que fechou todas as igrejas não católicas. Depois a Igreja começou a se instalar sobre o solo romano, e Constantino, querendo cercá-la de um luxo que reparasse os anos de imerecida miséria que ela tinha passado nas catacumbas, teve a iniciativa de dar um palácio, a casa dos Laterani, para ser a primeira Basílica cristã católica, a Catedral do Papa, que é a Igreja de São João de Latrão.
Quem olha para a fachada da igreja vê que é de uma casa particular opulenta, ou, se quiserem, de um palácio; mas não é propriamente uma fachada de igreja, porque era a casa dessa família, Laterani, Laterana, na qual Constantino se casou. Depois disso, ele começou a cercar os bispos de honras especiais, torná-los personagens oficiais, cercar os atos do culto católico de todo o esplendor, decorrente do comparecimento pessoal do Imperador.
E a Igreja passou a ser unida ao Estado. Passou a ser uma entidade considerada com tal reverência, que entre os motivos que levaram Constantino a deixar Roma e passar para Constantinopla, a fundar a cidade de Bizâncio, também chamada Constantinopla, estava exatamente o desejo de tomar a cidade mais ilustre da Terra que era Roma -- que, aliás, nem era mais a capital do império romano -- e deixar que o Papa nela residisse sozinho, para que ele fosse virtualmente o soberano de Roma. Constantino ainda não lhe dera o poder temporal em Roma, mas criou uma situação em que praticamente o Papa exercia essa prerrogativa.
O princípio da “constantinização” é, portanto, um princípio duplo. Primeiro, um princípio de ordem política segundo o qual, sendo a Igreja Católica a única Igreja verdadeira, e sendo fácil percebê-lo, todo homem que podendo conhecer a Igreja não for católico, é culpado. E a Igreja deve receber, da parte do Estado, a proteção, o apoio, o respeito e as honras que se tributam ao que é divino.
Portanto, a Igreja é uma entidade mais nobre do que o Estado, mais poderosa do que o Estado na ordem profunda das coisas, porque ela é divina. Daí então aquela famosa comparação que São Gregório VII faria séculos depois entre a Igreja e o Estado, dizendo que a Igreja era como o sol, e o Estado como a lua. E que, assim como a lua recebe a sua luz do sol, o Estado recebia todo o seu lume da Igreja.
Depois, o outro princípio é o de que as coisas terrenas esplêndidas, magníficas, foram feitas sobretudo para o culto de Deus, e não sobretudo para uso do homem. De maneira que os incensos mais magníficos, os tecidos mais estupendos, o ouro e a prata mais puros, os materiais mais luxuosos devem ser produzidos ou extraídos pelo homem. Mas antes de se destinarem ao adorno da vida humana, destinam-se ao serviço de Deus, de acordo com o gesto de Santa Maria Madalena, que quebrou o vaso com unguento sobre os pés de Nosso Senhor e enxugou seus divinos pés com o próprio cabelo em sinal de veneração.
Judas não gostou, porque achou que o dinheiro devia ser dado aos pobres. Mas todos os espíritos, em todos os séculos -- os espíritos bons -- gostaram. E Nosso Senhor deu uma explicação, dizendo: “Pobres, vós sempre os tereis convosco”. E depois fez a profecia de sua morte, que em breve viria.
Aí os senhores têm, então, por contraste, aquilo que os progressistas extremistas chamam de miserabilismo.
Eles dizem: “A Igreja de Jesus Cristo é a Igreja dos pobres. Ela foi feita para os pobres, e, no luxo em que se apresenta, ela afronta os pobres. Ela deve se apresentar na miséria, mas na miséria miserável. Os templos não devem ser senão como são as casas dos pobres mais pobres, para que esses pobres não se sintam mal lá dentro. E, porque Jesus Cristo odeia o luxo, Ele odeia os objetos de luxo, e essas coisas criadas para o fausto dos ricos e que os ricos puseram na Igreja, não devem ser usadas nem na casa dos leigos, nem casa de Deus. Não vamos mais usar isto, que isso não vale nada. A Igreja não deve ser oficial, deve ser humilde, deve ser uma sociedade particular como outra qualquer; não deve gozar de honras nem de proteção, porque é assim que se apresenta o verdadeiro católico”.
É, ao pé da letra, o pensamento de Judas Iscariotes, pois é uma lamentação de que os pobres não tendo isso, ninguém deve ter, nem Deus. É o igualitarismo no seu aspecto mais monstruoso, porque quer estabelecer igualdade entre os homens pobres e Deus quando Deus é infinitamente superior aos próprios ricos.
Esta posição, esta atitude representa no fundo uma posição de aniquilamento. É para privar a Igreja de todo prestígio merecido. É para arrancar aos olhos do povo a fé que deve nos levar a tributar à Igreja todas essas honras. É para eliminar todas espécies de arte e de beleza, não só da Igreja, mas do convívio social.
Isso equivale a reduzir o culto e a sociedade temporal a um estado selvagem, porque quem habita em tocas e em antros é selvagem. E se o selvagem procura a toca, a toca produz o selvagem; e quem por essa forma se integra na desarticulação de toda a civilização, este renuncia à civilização. É uma forma nova e extrema de decadência que com isso se prepara.
Nós devemos afinar em nosso espírito o senso “constantiniano”; devemos desejar e amar o que eles chamam de “Igreja constantiniana”, porque esta é a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo. E devemos ter como lembrança que o Papa que “constantinizou” a Igreja é um santo canonizado e que está nos altares -- São Silvestre --; ao passo que, se algum papa haja que “desconstantinize” a Igreja, eu nem juro que ele seja santo e juro que ele jamais poderá ocupar os altares. Aí está a grande lição que esse grande santo, São Silvestre, dá aos católicos.
Eu termino com esta reflexão: Se São Silvestre pudesse ressuscitar e visse essa “desconstantinização”, eu pergunto: o que faria? Que furor, que indignação, que terror! Não é verdade? Pois bem, é deste sentimento que devem arder as nossas almas, em relação a esses miseráveis despojadores da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.
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(*) Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande (em latim Flavius Valerius Constantinus) [272 - 337]. Imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306.
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