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7 de enero de 2013
Surpreendente condenação pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
Surpreendente
condenação pelo
Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé
23.12.2012 -Arnaldo Xavier da Silveira
http://www.arnaldoxavierdasilveira.com/
Nota del Blog. El Blog asume plena y totalmente, sin ningún pero, todo el contenido de este nuevo trabajo del Dr. Arnaldo Xavier da Silviera. Debajo de la versión original en portugués consta la traducción al castellano.
O problema maior não é saber se a assistência
absoluta e omnímoda do Espírito Santo seria em princípio possível. É claro que
o seria. Na verdade, contudo, Nosso Senhor
não quis dotar São Pedro, o Colégio dos bispos com o Papa, a Igreja enfim, de
uma assistência em tais termos absolutos. Os caminhos de Deus nem sempre são os
nossos. A barca de Pedro está sujeita a tempestades. Em princípio, nada impede
que, sobretudo em períodos de crise, documentos pontifícios e conciliares que
não preencham as condições da infalibilidade, possam conter erros e mesmo
heresias.
Doce Cristo na
Terra
1] Não
sou sedevacantista. Nunca o fui, embora um ou outro comentarista pouco
atento tenha pretendido ver traços de sedevacantismo no estudo sobre a
possibilidade teológica de um Papa herege que faz parte de meu livro “La Nouvelle Messe de Paul VI, Qu’en Penser?”
(Diffusion de la Pensée Française, Chiré-en-Montreuil, França, 1975). Com base
na boa e tradicional teologia dogmática, não vejo que, em relação aos
Pontificados dos últimos decênios, tenha sido teologicamente possível, em
qualquer momento, declarar vaga a Sede de Pedro (ver Paul Laymann S.J., +1635,
“Th. Mor.”, Veneza, 1700, pp.
145-146; e Pietro Ballerini, “De Pot.
Eccl.”, Roma, 1850, pp. 104-105). Se a Divina Providência me der forças,
publicarei em breve um estudo sobre os erros teológicos das teorias
sedevacantistas correntes.
2] Para todo católico cioso de sua fé, o
Papa é o “doce Cristo na Terra”, é a
coluna e fundamento da verdade. No entanto, grandes santos, doutores e Papas,
admitem a possibilidade de queda do Sumo Pontífice em erro, e mesmo em heresia.
E não é de se afastar a hipótese teológica de que tal queda se dê em documentos
oficiais do Papa, e em Concílios com o Papa (ver “La Nouvelle Messe...”, parte II, caps. IX e X, e meus trabalhos
anteriores ali citados).
As palavras de
Mons. Müller
3] Em 29 de novembro último, L’Osservatore Romano deu a lume um texto
de Mons. Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé,
ex-Santo Ofício, intitulado “Uma imagem
da Igreja de Jesus Cristo que abraça todo o mundo”. Comentando o Discurso à
Cúria Romana de 22 de dezembro de 2005, em que Bento XVI declarou que o Vaticano
II deve ser objeto de uma “hermenêutica
da reforma na continuidade” face a uma “hermenêutica
da descontinuidade e da ruptura”, Mons. Müller escreve que a interpretação
da reforma na continuidade “é a única
possível segundo os princípios da teologia católica”, e prossegue: “fora desta única interpretação ortodoxa
infelizmente existe uma interpretação herética, ou seja, a hermenêutica da
ruptura, quer na vertente progressista, quer na tradicionalista. Estas duas
vertentes têm em comum a rejeição do concílio; os progressistas pretendendo
deixá-lo para trás, como se fosse só uma estação que se deve abandonar para
alcançar outra Igreja; os tradicionalistas não querendo alcançá-lo, como se
fosse o Inverno da Catholica”.
4] Não quero aqui aprofundar certos pontos
dessa declaração, como a questão, já tão comentada e desenvolvida nos últimos
tempos, da “hermenêutica da reforma na
continuidade” e da “hermenêutica da
descontinuidade e da ruptura”. Também não analisarei a frase em que Sua
Excelência declara que progressistas e tradicionalistas “têm em comum a rejeição do Concílio”. Nada direi, igualmente, sobre o título dado
ao texto de Mons. Müller, onde se lê a expressão, hoje ambígua e suspeita nesse
contexto, de “uma Igreja de Jesus Cristo
que abraça todo o mundo”. E, ainda, não glosarei o fato histórico de que,
afinal, depois de décadas, adveio uma condenação do progressismo, condenação
essa que, se tivesse força canônica, ou pelo menos se
doutrinariamente passasse a vigorar de fato na vida católica, no ensino dos
seminários, como critério para as promoções eclesiásticas etc., seria
alvissareira e prenúncio de tempos melhores, pois que o progressismo estaria
sendo violentamente proscrito, como herético, pelo Prefeito da Congregação para
a Doutrina da Fé.
5] Neste momento, quero apenas comentar
a passagem onde Mons. Müller declara que os tradicionalistas dão ao Vaticano II
uma “interpretação herética”. Sei que
não se trata de um decreto da Congregação para a Doutrina da Fé. Sei que ele
não especifica quais as correntes ditas “tradicionalistas”
que condena, deixando assim expresso que são todas as que não aceitam
incondicional e integralmente o Vaticano II. Sei, por fim, que a orientação ora
adotada por Mons. Müller em relação a tradicionalistas e progressistas não é a
dominante em muitos círculos vaticanos, e sobretudo não é a de Bento XVI. Tudo
isso, contudo, não tira de suas palavras a enorme importância que têm.
Da gravidade
extrema dessa condenação
6] Não
se minimize, com efeito, a força dessa condenação. A lógica se impõe:
quem interpreta hereticamente um Concílio Ecumênico é herege. Também não se
diga que o fato não tem relevo por não se tratar de condenação canonicamente
formal. É grave que o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé haja dito o
que disse. É grave que, para ensaiar um primeiro anátema contra os
tradicionalistas, ele se haja resguardado atrás do biombo de “doctor privatus”, pois, se o mal é
tamanho, como seria interpretar um Concílio Ecumênico em sentido herético, não
haveria a Santa Igreja de pronunciar-se oficialmente? Não seria esse um dever
de todo “custos fidei” para com o
povo fiel? Ademais, é de recear que doravante tais maneiras de pensar e agir
marcarão os procedimentos da Congregação para a Doutrina da Fé.
7] Como
ensina Santo Tomás de Aquino, “a
heresia por si se opõe à Fé” (S.Th.,
II-II, 39, 1, ad 3), e “hereges são
aqueles que professam a Fé de Cristo mas corrompem os seus dogmas” (S.Th., II-II, 11, 2, c). “A fé é a primeira entre todas as virtudes”
(S.Th., II-II, q. 4, a.7, c.), “é muito mais grave corromper a fé, pela qual
a alma vive, do que falsificar a moeda, pela qual se atende à vida temporal”
(S.Th., II-II, q.11, a. 3, c.).
8] Do
alcance da condenação. - O mundo moderno perdeu a noção da fé, como
perdeu a noção da gravidade da heresia. A integridade da fé é o ponto de
partida da vida católica. O herege formal não tem a virtude teologal da fé, e,
de si, está excluído da Igreja. A condenação de Mons. Müller fez-se em termos
genéricos e sintéticos. Dada a importância da matéria, os atingidos pelo ato
têm o direito de pedir sejam explicitados o alcance e as consequências
teológicas, canônicas e práticas que o anátema teria, ainda que apenas “in sede theoretica”, caso fosse válido.
O desvio
teológico fundamental de Mons. Müller
9] Texto
de Mons. Müller sobre o Magistério. - Na mesma declaração citada, Mons.
Müller afirma que é princípio da teologia católica “o conjunto indissolúvel entre Sagrada Escritura, a Tradição completa e
integral e o Magistério, cuja expressão mais alta é o concílio presidido pelo
sucessor de são Pedro como cabeça da Igreja visível”.
10] O
pressuposto da condenação dos tradicionalistas está portanto em que,
segundo Mons. Müller, não pode haver erro ou heresia em documento magisterial,
quer pontifício quer conciliar, mesmo naqueles que não preenchem as condições
da infalibilidade. Com efeito, ao proclamar o caráter indissolúvel da união
entre Sagrada Escritura, Tradição e Magistério, ele revela que concebe este
último como garantido contra todo e qualquer erro ou heresia. Ademais, ao não
falar simplesmente em Tradição, mas ao qualificá-la como “completa e integral”, Sua Excelência subentende que a Tradição
inclui os ensinamentos conciliares ainda que não garantidos pelo carisma da
infalibilidade; e que inclui, portanto, as “novidades
de tipo doutrinal” (ver item 13, adiante) do Vaticano II, que teriam assim
força de dogma, só podendo ser postas em dúvida ou negadas por hereges.
O Vaticano II e
a infalibilidade da Igreja
11] Magistério
extraordinário? Segundo o
Vaticano I, o Papa é infalível quando, ensinando para a Igreja Universal, em
matéria revelada de dogma ou moral, define solenemente determinada verdade como
devendo ser crida pelos fiéis. Conforme a doutrina sedimentada pelos doutores,
essas condições da infalibilidade papal aplicam-se, mutatis mutandis, aos Concílios Ecumênicos, cujas definições
infalíveis devem, portanto, impor aos fiéis a obrigação estrita de professar as
doutrinas assim propostas. Ora, Paulo VI declarou repetidas vezes que no
Vaticano II não foi proclamado nenhum novo dogma do Magistério extraordinário.
É o que os teólogos de boa doutrina têm também afirmado à exaustão. Dessa
forma, é absolutamente perturbador para o fiel comum, e inaceitável por um
pensador católico, o fato de que Mons. Müller pretenda que no Vaticano II não
pode haver nenhum desvio doutrinário. Onde estará, nessa matéria, o fundo do
pensamento de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé?
12] Magistério
ordinário infalível? Segundo o
Vaticano I, é também infalível o “Magistério
ordinário e universal”. Para tal, a Igreja, em seu ensinamento quotidiano,
há de impor uma verdade como devendo ser crida, e deve fazê-lo não apenas por
todo o orbe, mas também com continuidade no tempo, de tal forma que se torne
patente a todo fiel que aquela verdade foi revelada e deve ser professada sob
pena de abandono da fé. O conceito de “universal”
nesse contexto nem sempre é bem interpretado, pois há quem o entenda como se
indicasse apenas a universalidade no espaço, isto é, em todo o mundo. Segundo
esse modo de ver, todos os ensinamentos do Vaticano II seriam infalíveis, uma
vez que foram solenemente aprovados pelo Papa, com a unanimidade moral dos
bispos de todo o orbe. Na verdade, atos magisteriais singulares do Papa e do
Concílio, como ocorreram no Vaticano II, não podem definir dogmas do Magistério
ordinário, por lhes faltar a continuidade no tempo e a consequente
impositividade que vinculariam de modo absoluto a consciência dos fiéis.
13] As
“novidades de tipo doutrinal” do
Vaticano II. - Em 2 de dezembro de 2011, Mons. Fernando Ocáriz,
Vigário-Geral do Opus Dei e professor de teologia, publicou no L’Osservatore Romano um artigo
intitulado: “Sobre a adesão ao concílio
Vaticano II.” Ali se lê: “Houve no Concílio Vaticano II diversas
novidades de tipo doutrinal (...).
Algumas delas foram e ainda são objeto de controvérsias acerca de sua
continuidade com o Magistério precedente, ou seja, acerca da sua
compatibilidade com a Tradição”. A
seguir, Mons. Ocáriz reconhece “as dificuldades
que podem encontrar-se para compreender a continuidade de alguns ensinamentos
conciliares com a Tradição. [...] Permanecem
legítimos espaços de liberdade teológica para explicar de uma forma ou de outra
a não contradição com a Tradição de algumas formulações presentes nos textos
conciliares e, por isso, para explicar o próprio significado de algumas
expressões contidas naqueles trechos.” Veja-se a diversidade de tom entre
esse texto e a condenação lançada por Mons. Müller, embora Mons. Ocáriz diga,
logo a seguir, que “uma característica
essencial do Magistério é a sua continuidade e homogeneidade no tempo.” Em
28 de dezembro daquele ano publiquei em meu site um artigo intitulado “Grave Lapso Teológico de Mons. Ocáriz”,
no qual defendi, como em trabalhos anteriores, que “Jesus Cristo poderia, evidentemente, ter dado a São Pedro e seus
sucessores o carisma da infalibilidade absoluta. [...] O problema não consiste em saber se a assistência do Espírito Santo,
com tal alcance absoluto e geral, seria em princípio possível. É claro que o
seria. Na verdade, contudo, Nosso Senhor não
quis dotar São Pedro, o Colégio dos bispos com o Papa, a Igreja enfim, de uma
assistência em tais termos absolutos. Os caminhos de Deus nem sempre são os
nossos. A barca de Pedro está sujeita a tempestades. Em resumo: a teologia
tradicional afirma que consta da Revelação que a assistência do divino Espírito
Santo não foi prometida, e portanto não foi assegurada, de forma assim
irrestrita, em todos os casos e circunstâncias. Essa assistência garantida por Nosso Senhor cobre de modo irrestrito as
definições extraordinárias, tanto papais quanto conciliares. Mas as monumentais
obras teológicas, especialmente da idade de prata da escolástica, revelam que é
possível haver erros e mesmo heresias em pronunciamentos papais e conciliares
não garantidos pela infalibilidade”. É o que ora reafirmo.
Três respeitosos
pedidos a Mons. Müller
14] Profissão
de fé católica. - Em vista do referido texto do Prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, peço aqui que ele receba a profissão de fé, que ora faço,
em tudo quanto autenticamente ensina a Santa Igreja, nos seus dogmas do
Magistério extraordinário papal ou conciliar, e nos dogmas do Magistério
ordinário e universal. Afirmo minha plena aceitação das demais verdades da
doutrina católica, cada qual com a qualificação teológica que os doutores
tradicionais lhe atribuem. E repudio como teologicamente sem propósito e
facciosa a acusação de que incidi em heresia por apego à Tradição.
15] Do
sentido e do alcance da condenação. - Tendo em vista a necessidade de
precisão num ato desse porte teológico, como é a condenação, ainda que
unicamente em sede doutrinária, de uma corrente de pensamento de grande
expressão em todo o orbe católico, peço a Mons. Müller que indique melhor o
alcance teórico e prático de seu anátema, segundo as observações do item 8
retro. Ao formular este pedido, tenho também em vista a salvação das almas
simples, que abraçam com fé plena os dogmas da transubstanciação, da virgindade
de Maria antes, durante e depois do parto, e todos os demais, mas que não têm
acesso a distinções teológicas subtis, podendo ter a fé abalada com a notícia
de que o Prefeito do antigo Santo
Ofício declarou que os tradicionalistas, indistintamente, são hereges.
16] Da
possibilidade de erro em documentos do Magistério. - Como católico
fiel, conhecedor da autoridade dos Dicastérios vaticanos, e também como autor
de escritos que têm não poucos leitores, pelos quais me sinto de algum modo
responsável perante Nosso Senhor, julgo-me no direito estrito de pedir
filialmente ao Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé que declare, de
modo formal, claro e específico, se é falsa a tese que defendi em meus
trabalhos retro citados, e que ora defendo, de que é teologicamente possível a
existência de erros e mesmo heresias em documentos pontifícios e conciliares
que não preencham as condições necessárias para a infalibilidade.
17] Nestas vésperas do Santo Natal,
invocando o Divino Infante, Sua Mãe Santíssima e São José, patrono da Igreja universal,
formulo de público estas considerações e estes pedidos, em legítima defesa e cum moderamine inculpatae tutelae, dado
que pública foi a agressão.
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Sorprendente
condenación del Prefecto de la Congregación para la Doctrina de la Fe
El mayor problema no es saber si la asistencia
absoluta y omnímoda del Espíritu Santo sería posible en principio. Claro está
que podría serlo. Pero la verdad es que Nuestro Señor no quiso dotar a San
Pedro, al Colegio de los obispos con el Papa, en fin a la Iglesia, de una
asistencia de esa manera absoluta. Los caminos de Dios ni siempre son los
nuestros. La barca de Pedro está sujeta a tempestades. En principio, no es imposible
que, sobre todo en periodos de crisis, documentos pontificios y conciliares que
no reúnen las condiciones de infabilidad, puedan contener errores e incluso
herejías.
El dulce Cristo en la
Tierra
1] No soy sedevacantista. Nunca lo
fui, a pesar de que uno u otro comentarista poco atento haya pretendido ver
trazos de sedecavantismo en el estudio sobre la posibilidad teológica de un
Papa hereje que forma parte de mi libro “La Nouvelle Messe de Paul VI: Qu’en
Penser?” (Diffusion de la Pensée Française, Chiré-en-Montreuil, França,
1975). Con base en la buena y tradicional teología dogmática, no veo que con
relación a los Pontificados de los últimos decenios, haya sido posible, en
cualquier momento, declarar vacía la Sede de Pedro (ver Paul Laymann S.J., +1635,
“Th. Mor.”, Veneza, 1700, pp. 145-146; e Pietro Ballerini, “De Pot.
Eccl.”, Roma, 1850, pp. 104-105). Si la Divina Providencia me da fuerzas,
publicaré en breve un estudio sobre los errores teológicos de las teorías
sedevacantistas corrientes.
2] Para todo católico que es celoso de su fe, el
Papa es el “dulce Cristo en la Tierra”, es la columna y fundamento de la
verdad. Sin embargo, grandes santos, doctores y Papas admiten la posibilidad de
la caída del Sumo Pontífice en error, e incluso en herejía. Y no se puede
apartar la hipótesis de que tal caída se dé en documentos oficiales del Papa, y
en Concilios con el Papa (ver “La Nouvelle Messe...”, parte II, caps. IX
y X, y mis trabajos anteriores que cito allí).
Las
palabras de Mons. Müller
3] El 29 de noviembre p.p., L’Osservatore Romano publicó
un texto de Mons. Gerhard Ludwig Müller, Prefecto de la Congregación para
la Doctrina de la Fe, ex-Santo Oficio, titulado “Una imagen de la Iglesia de
Jesucristo que abraza a todo el mundo”. Comentando el Discurso a la Curia
Romana del día 22 de diciembre de 2.005, en que Benedicto XVI declaró que el
Vaticano II debe ser objeto de una “hermenéutica de la reforma en la
continuidad”, frente a una “hermenéutica de la discontinuidad y de la
ruptura”, Mons. Müller escribe que la interpretación de la reforma en la
continuidad “es la única posible conforme los principios de la teología
católica”, y continúa: “fuera de esta única interpretación ortodoxa,
desafortunadamente existe una interpretación herética, o sea, la hermenéutica
de la ruptura, sea en la vertiente progresista, sea en la tradicionalista.
Estas dos vertientes tienen en común el rechazo al concilio; los progresistas
pretenden dejarlo para atrás como si fuera una estación que se debe abandonar
para alcanzar otra Iglesia; los tradicionalistas no quieren alcanzarlo, como si
fuese el Invierno de la Católica”.
4] No quiero aquí profundizar ciertos puntos de esa
declaración, como la cuestión, que está muy comentada y desarrollada en los
últimos tiempos, de la “hermenéutica de la reforma en la continuidad” y
de la “hermenéutica de la discontinuidad y de la ruptura”. Tampoco
analizaré la frase en que Su Excelencia
declara que progresistas y tradicionalistas “tienen de común el rechazar al
Concilio”. Igualmente no diré nada, sobre el título que dio Mons. Müller,
en donde se lee la expresión, que hoy es ambigua y sospechosa en ese contexto,
de “una Iglesia de Jesucristo que abraza a todo el mundo”. Y, aún más,
no glosaré el hecho histórico de que al fin y al cabo, después de varias
décadas, llegó una condenación al progresismo, cuya condenación, si hubiera
tenido fuerza canónica, o por lo menos si doctrinalmente rigiese de hecho en la
vida católica, en la enseñanza de los
seminarios, como criterio para las promociones eclesiásticas etc., sería una
esperanza y prenuncio de tiempos mejores, ya que el progresismo estaría siendo
violentamente proscrito como herético por el Prefecto de la Congregación para
la Doctrina de la Fe.
5] Ahora lo que quiero es comentar solamente el trecho
en donde Mons. Müller declara que los tradicionalistas dan al Vaticano II una “interpretación
herética”. Sé que no se trata de un decreto de la Congregación para la
Doctrina de la Fe. Sé que él no especifica cuáles son las llamadas corrientes “tradicionalistas”
que condena, dejando así de manera expresa que son todas las que no aceptan
incondicional e integralmente el Vaticano II. Sé, por fin, que la orientación ahora adoptada
por Mons. Müller con relación a los tradicionalistas y progresistas no es la orientación
que predomina en muchos círculos vaticanos, y sobre todo no es la de Benedicto
XVI. A pesar de todo, no quita la importancia que tienen sus palabras.
La
enorme seriedad de esa condenación
6] En efecto, no se le quite importância a esa
condenación. Se impone la lógica: quien interpreta heréticamente un
Concilio Ecuménico es hereje. Que no se diga tampoco que el hecho no tiene
importancia por no tratarse de una condenación canónicamente formal. Es serio
que el Prefecto de la Congregación para la Doctrina de la Fe haya dicho lo que
dijo. Es serio que, para intentar un primer anatema contra los
tradicionalistas, él se haya escondido detrás del biombo de “doctor privatus”,
pues, si el mal es tan grande, cómo sería interpretar un Concilio Ecuménico en sentido
herético, la Santa Iglesia, ¿no tendría
que pronunciarse oficialmente? ¿Eso no sería un deber de todo “custos fidei”
con el pueblo fiel? Además, se debe recelar que de aquí en adelante tales
maneras de pensar y actuar señalarán los procedimientos de la Congregación para
la Doctrina de la Fe.
7] Como enseña Santo Tomás de Aquino, “la
herejía por sí se opone a la Fe” (S.Th., II-II, 39, a. 1, ad 3), y “herejes
son aquellos que profesan la Fe de Cristo pero corrompen sus dogmas” (S.Th.,
II-II, q. 11, a. 1, c.). “La Fe es la primera entre todas las virtudes”
(S.Th., II-II, q. 4, a. 7, c.). “Es mucho más grave corromper la Fe,
por la cual vive el alma, de que falsificar la moneda, por la cual se atiende a
la vida temporal” (S.Th., II-II, q. 11, a. 3, c.).
8] La importancia de la condenación.
–El mundo moderno perdió la noción de la fe, perdió la noción de la herejía. La
integridad de la fe es el punto de partida de la vida católica. El hereje
formal no tiene la virtud teologal de la fe, y, por si, está excluido de la
Iglesia. La condenación de Mons. Müller fue hecha en términos genéricos y
sintéticos. Dada la importancia de la materia, los que son alcanzados por el
acto tienen el derecho de pedir que sean explicitados el alcance y las
consecuencias teológicas, canónicas y prácticas que tendría el anatema, aunque
apenas “in sede theoretica”, en el caso de que fuera válido.
El
desvío teológico fundamental de Mons. Müller
9] El texto de Mons. Müller sobre el
Magistério. – En la misma declaración citada Mons. Müller afirma que es
principio de la teología católica “el conjunto indisoluble entre la Sagrada
Escritura, la Tradición completa e integral y el Magisterio, cuya expresión más
alta es el concilio presidido por el sucesor de san Pedro como cabeza de la
Iglesia visible”.
10] La premisa de la condenación de
los tradicionalistas está por lo tanto en que, conforme Mons. Müller, no puede
haber error o herejía en documento magisterial, sea pontificio sea conciliar,
incluso en aquellos que no reúnen las condiciones de la infabilidad. En efecto,
al proclamar el carácter indisoluble de la unión entre la Sagrada Escritura,
Tradición y Magisterio, él revela que concibe este último como garantizado
contra todo y cualquier error o herejía. Además, al no hablar simplemente en
Tradición, sino que al cualificarla como “completa e integral”, Su
Excelencia sobreentiende que la Tradición incluye las enseñanzas conciliares
que no estén garantizadas por el carisma de la infabilidad; y que incluye,
por tanto, las “novedades de tipo
doctrinal” (ver el ítem 13ss.) del Vaticano II, que tendrían así fuerza de
dogma, pudiendo ser puesta en duda o ser negadas solamente por herejes.
El
Vaticano II y la infabilidad de la Iglesia
11] ¿Magistério extraordinário? Conforme el Vaticano I, el Papa es infalible
cuando, enseñando para la Iglesia Universal en materia de dogma o moral, define
solemnemente determinada verdad como debiendo ser creída por los fieles.
Conforme la doctrina sedimentada por los doctores, esas condiciones de la
infabilidad papal se aplican, mutatis mutandis, a los Concilios
Ecuménicos, cuyas definiciones infalibles deben por tanto imponer a los fieles
la obligación exacta de profesar las doctrinas que se proponen así. Ahora bien,
Pablo VI declaró repetidas veces que en el Vaticano II no fue proclamado ningún
nuevo dogma del Magisterio extraordinario. Y es lo que los teólogos de buena
doctrina también han afirmado de manera exhaustiva. De esta forma, es
absolutamente perturbador para el fiel común, y no es aceptable para un pensador
católico, el hecho de que Mons. Müller pretenda que en el Vaticano II no pueda
haber ningún desvío doctrinal. ¿En dónde estará, en esa materia, el
fondo del pensamiento del Prefecto de la Congregación para la Doctrina de la
Fe?
12] ¿Magistério ordinário infalíble? Conforme el Vaticano I, es también infalible
el “Magisterio ordinario y universal”. Para lo cual, la Iglesia, en su
enseñanza diaria, debe imponer una verdad como debiendo ser creída, y debe
hacerlo no sólo por todo el orbe, sino también con continuidad en el tiempo, de
tal forma que se haga patente a todo fiel que aquella verdad fue revelada y
debe ser profesada bajo pena de abandono de la fe. El concepto de “universal”
en ese contexto ni siempre es bien interpretado, pues hay quien lo entienda como
si se indicase solo la universalidad en el espacio, esto es en todo el mundo.
Conforme ese modo de ver, todas las enseñanzas del Vaticano II serían
infalibles, ya que fueron aprobados solemnemente por el Papa, con la unanimidad
moral de los obispos de todo el orbe. La verdad es que, los actos magisteriales
singulares del Papa y del Concilio, como ocurrió en el Vaticano II, no pueden
definir dogmas de Magisterio ordinario, por faltarles la continuidad en el
tiempo y lo imperativo consecuente que vincularía de modo absoluto la
conciencia de los fieles.
13] Las
“novedades de orden doctrinal” del Vaticano II. – El 2 de
diciembre de 2011, Mons. Fernando Ocáriz, Vicario-General del Opus Dei y
profesor de teología, publicó en L’Osservatore Romano un artículo titulado:
“Sobre la adhesión al concilio Vaticano II.” Allí se lee: “En el Concilio Vaticano II hubo varias novedades de orden doctrinal: (…) algunas de
ellas fueron y siguen siendo objeto de controversias sobre su continuidad con
el Magisterio precedente, o bien sobre su compatibilidad con la Tradición”. A
continuación Mons. Ocáriz reconoce “las
dificultades que pueden encontrarse para entender la continuidad de algunas
enseñanzas conciliares con la Tradición […]. En cualquier caso, siguen
siendo espacios legítimos de libertad teológica para explicar de uno u otro
modo la no contradicción con la Tradición de algunas formulaciones presentes en
los textos conciliares y, por ello, para explicar el significado mismo de
algunas expresiones contenidas en esas partes.” Compárese el tono diferente entre ese texto y la
condenación lanzada por Mons. Müller, a pesar de que Mons. Ocáriz diga,
inmediatamente después, que “una característica esencial del Magisterio es su continuidad y
homogeneidad en el tiempo.” El 28 de diciembre de aquel año publiqué en mi site
un artículo titulado “Grave Lapso Teológico de Mons. Ocáriz”, en el que
defendí, como en trabajos anteriores, que “Jesucristo podría,
evidentemente, haber dado a San Pedro y a sus sucesores el carisma de la infabilidad
absoluta. (…) El problema no consiste en saber si la asistencia del
Espíritu Santo, con este alcance absoluto y general, sería en principio
posible. Claro está que lo sería. En verdad, sin embargo, Nuestro Señor no
quiso dotar a San Pedro, al Colegio de los obispos con el Papa, en fin a la
Iglesia, de una asistencia en esos términos absolutos. Ni siempre los caminos
de Dios son los nuestros. La barca de Pedro está sometida a la tempestades.
Resumiendo: la teología tradicional afirma que consta en la Revelación que la
asistencia del divino Espíritu Santo no fue prometida, y por lo tanto no fue
asegurada, de forma ilimitada, en todos los caso y circunstancias. Esa asistencia garantizada por Nuestro Señor
cubre ilimitadamente las definiciones extraordinarias, tanto las papales como
las conciliares. Pero las monumentales obras teológicas, especialmente las de
la edad de plata de la escolástica, revelan que es posible haber errores e
incluso herejías en pronunciamientos papales y conciliares que no tienen la
garantía de la infabilidad.”. Es lo que ahora reafirmo.
Tres
peticiones respetuosas a Mons. Müller
14] Profesión de fe católica. – En
vista del texto referido del Prefecto de la Congregación para la Doctrina de la
Fe, pido aquí que él reciba la profesión de fe, que hago ahora, en todo cuanto
auténticamente enseña la Santa Iglesia, en sus dogmas del Magisterio
extraordinario papal o conciliar, y en los dogmas del Magisterio ordinario y
universal. Afirmo mi plena aceptación de las demás verdades de la doctrina
católica, cada cual con la calificación teológica que los doctores
tradicionales le atribuyen. Y repudio como teológicamente sin razón de ser y
facciosa la acusación de que incidí en herejía por apego a la Tradición.
15] Sobre el sentido y sobre el alcance da
condenación. – Teniendo en vista la necesidad de precisión en acto de
ese alcance teológico, como es la condenación, aunque únicamente en sede
doctrinal, de una corriente de pensamiento de gran expresión en todo el orbe
católico, pido a Mons. Müller que indique mejor el alcance teórico y práctico
de su anatema, conforme las observaciones del ítem supra citado. Al formular
esta petición, tengo también en vista la salvación de las almas simples, que
abrazan con fe plena los dogmas de la transubstanciación, de la virginidad de
María antes, durante y después del parto, y de todos los demás, pero que no
tienen acceso a distinciones teológicas sutiles, pudiendo tener la fe
debilitada con la noticia de que el Prefecto del antiguo Santo Oficio declaró
que los tradicionalistas, indistintamente, son herejes.
16] Sobre la posibilidad de error en
documentos del Magisterio. – Como católico fiel, que conozco la
autoridad de los Dicasterios vaticanos, y también como autor de escritos que
tienen muchos lectores, por los cuales me siento de alguna manera responsable
delante de Nuestro Señor, me juzgo en el estricto derecho de pedir filialmente
al Prefecto de la Congregación para la Doctrina de la Fe que declare, de modo
formal, claro y específico, si es falsa la tesis que defendí en mis trabajos
supra citados, y que ahora defiendo, de que es teológicamente posible la
existencia de errores e incluso herejías en documentos pontificios y
conciliares que no reúnan las condiciones necesarias para la infabilidad.
17] En estas vísperas de las Santas Navidades,
invocando al Divino Infante, Su Madre Santísima y San José, patrono de la
Iglesia universal, formulo de público estas consideraciones y estas peticiones,
en legítima defensa y cum moderamine inculpatae tutelae, ya que fue
pública la agresión.
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