13 de enero de 2013

Cidade de Andaluzia vira terra de ninguém


Cidade de Andaluzia vira terra de ninguém
Jerez de la Frontera, famosa pelo patrimônio histórico, é o município espanhol mais endividado

O ESTADO DE SÃO PAUL - 01 de janeiro de 2013 | 2h 02

Andrei Netto, enviado especial

JEREZ DE LA FRONTERA - Em fevereiro de 2012, uma reportagem da revista Time classificou a cidade de Jerez de la Fronteira, no sul da Espanha, como a "vanguarda do desastre". Passados 10 meses, o pesadelo de seus 211 mil andaluzes não mudou nada: os salários de novembro do funcionalismo estão atrasados e os serviços públicos, em frangalhos. Há cortes frequentes de iluminação, greves de transporte e problemas de limpeza nas escolas públicas. A razão: além de enfrentar um desemprego da ordem de 39%, Jerez é a cidade mais endividada do país.
Um dos centros urbanos mais importantes da região turística da Andaluzia, ao lado de Cadiz e Sevilha, Jerez de la Fronteira é conhecida por ter sido a terceira capital da história do país, por seu patrimônio arquitetural, por seus vinhos - os Xerez - e também pelo passado de ostentação, que levou a cidade ao seleto grupo das integrantes do circo da Fórmula 1. Hoje, a imagem é outra: com € 1,04 bilhão em dívidas, segundo o Banco Central da Espanha, Jerez está quebrada.
Apesar de todos os cortes de investimentos e gastos levados a cabo com a política de austeridade, a administração pública não consegue conter a explosão das contas. Há exatos 12 meses, a dívida era de € 886 bilhões. Hoje, a cidade ultrapassa em muito as projeções de endividamento feitas para janeiro de 2013: € 731 milhões. É um dos dois únicos municípios da Espanha - o outro é Parla, na periferia de Madri - que não honraram a Lei de Estabilidade Fiscal em 2012.
Em razão da crise, Jerez vive com o pires na mão. Em novembro, uma injeção de € 21 milhões relativos ao Imposto sobre Bens Imobiliários (IBI) permitiu que a prefeitura debelasse greves que paralisavam os transportes públicos e a limpeza das escolas, além de saldar os salários atrasados do funcionalismo.
Os recursos terminaram - mas a crise, não. No início do mês, o executivo decidiu limitar o pagamento de cada servidor a € 400 e € 500, esperando a compreensão de todos. A estratégia resultou em duas manifestações contra os cortes só neste mês, a última em 21 de dezembro, segundo o jornal El País.
Geração perdida. Tamanha crise administrativa, claro, tem repercussões sociais devastadoras para a economia local. De acordo com o sindicato Comisiones Obreras, o maior do país, o desemprego médio em Jerez supera as cifras oficiais e atinge 39% da população ativa - um recorde europeu.
Deixando uma agência do Escritório de Emprego de Jerez, David Sarmiento, 34 anos, é um exemplo. Ele acabara de tomar em mãos o seguro desemprego, com o qual terá de viver. Trabalhou 19 anos, até novembro, na mesma empresa familiar, uma das célebres vinícolas da cidade que precisou aumentar capital, mas não conseguiu empréstimos de investidores ou bancos. "Estou assustado, porque não sei quanto tempo isso pode durar", disse Sarmiento ao Estado, lembrando a hipoteca de sua casa e o financiamento do carro que precisará honrar.
Na Europa em crise, o desemprego é epidêmico entre os mais jovens. É o caso de Mario Gutierrez, 24 anos, que cursou ensino técnico em reparação de aparelhos de refrigeração mas nunca conseguiu trabalho na área. A cada dois meses, ele se vê no desemprego porque a empresa na qual trabalha, a rede de varejo Corte Fiel, prefere manter freelancers em vez de ampliar o quadro de funcionários. "Os jovens que têm trabalho são minoria em Jerez. Tenho amigos desempregados há anos."
Gutierrez teme se tornar parte de uma geração perdida na Espanha. "Sei que não vou conseguir viver sozinho pelos próximos anos", estima. "É simplesmente impossível."


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