GENEBRA — Uma espécie de limpeza étnica está acontecendo na Crimeia, menos de duas semanas depois de Moscou ter anexado a península que pertencia à Ucrânia, abrindo a mais grave crise entre a Rússia e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria. Temendo perseguição de Moscou, centenas de tártaros — 12% da população da Crimeia — e também judeus da península começaram a se deslocar para outras partes da Ucrânia.
Segundo o jornal “Kiev Post”, pelo menos 2 mil tártaros, metade deles mulheres e crianças, se instalaram nos últimos dias no Oeste da Ucrânia. O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatseniuk, declarou que o país está pronto para abrigar até 23 mil refugiados da Crimeia.
Abrigos temporários foram montados em Lviv, Lutsk, Vinnytsia, Dnipropetrovsk e outras cidades. “Além dos abrigos, muitas pessoas oferecem suas casas para acolher os refugiados”, diz o “ Kiev Post”.
Ameaça aos que ficam
Além dos tártaros, há entre 10 mil e 15 mil judeus na Crimeia. Alguns já se deslocaram para outras cidades, mas a maioria prefere ficar na península.
— Todos têm medo do futuro, com as tropas de Putin na nossa fronteira. Mas os judeus da Ucrânia não querem emigrar! Eles querem ficar na Ucrânia. O país começou a caminhar na direção da Europa democrática. Nós queremos e esperamos esta mudança — disse ao GLOBO o historiador Anatoli Podolsky, diretor do Centro de Estudos sobre o Holocausto na Ucrânia.
Ele é uma das mais de 200 personalidades judaicas da Ucrânia que assinaram uma carta aberta, publicada no “New York Times”, em que acusam o presidente russo de mentir ao dizer que judeus estão sendo perseguidos na Ucrânia.
— Eu e meus amigos fomos à praça Maidan (palco das manifestações que levaram à queda do presidente pró-russo Viktor Yanukovich). Os judeus da Ucrânia apoiaram a revolução que depôs Yanukovich. Putin é um criminoso perigoso, e sua propaganda sobre antissemitismo na Ucrânia de hoje é uma mentira — disse.
Também signatário da carta contra Putin, Josef Zissels, presidente da Associação das Comunidades e Organizações Judaicas da Ucrânia (VAAD), disse estar preocupado com o destino da Ucrânia.
— Os judeus que vivem na Crimeia estão ameaçados, assim como outros povos que moram lá. Os que não migraram estão obrigados a viver num território que o mundo todo se recusa a reconhecer como parte da Federação Russa — afirmou.
Na carta, os signatários atribuem a Putin a responsabilidade pela instabilidade na Ucrânia.
“Infelizmente, temos que admitir que nos últimos dias a estabilidade no nosso país está sendo ameaçada. E esta ameaça vem do governo russo, isto é, do senhor (Putin), especificamente. É a sua política de incitação ao separatismo e a pressão crua na Ucrânia que nos ameaçam e também a todo o povo ucraniano, inclusive aqueles que vivem na Crimeia e no Sudeste da Ucrânia”, diz o texto.
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