9 de diciembre de 2012
Unidos pelo separatismo
Unidos
pelo separatismo
Crise econômica estimula planos independentistas -
sérios ou não -, de grupos catalães, escoceses, bascos e até texanos
29 de novembro de 2012 | 23h 47
É COLUNISTA, ROGER, COHEN, THE NEW YORK TIMES, É
COLUNISTA, ROGER, COHEN, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
As faixas no estádio de
futebol de Camp Nou, do Barcelona, declaram há muito tempo: "A Catalunha
não é a Espanha". A ideia recebeu grande impulso no final de semana quando
os partidos favoráveis à independência ganharam as eleições catalãs e fortaleceram
a campanha em favor de um plebiscito a respeito da secessão, desafiando a
Constituição espanhola e Mariano Rajoy, o combatido primeiro-ministro de
centro-direita.
A crise econômica da
Espanha é tão grave que Rajoy declarou em junho "a Espanha não é
Uganda", o que levou o chanceler ugandense a retrucar, no dia seguinte:
"Uganda não quer ser a Espanha!". Ao que tudo indica, a maioria dos
7,5 milhões de cidadãos da Catalunha não quer mais pertencer à Espanha -
enquanto a maioria dos ugandenses prefere ficar em Uganda.
A crise da zona do euro
acentuou o ressentimento dos catalães, em razão da transferência dos impostos
para Madri, e intensificou o nacionalismo da região que se gaba de ser a mais
forte economia da Espanha - maior do que a da Grécia, como os catalães gostam
de enfatizar.
Elena Salgado, ex-ministra
das Finanças da Espanha, observou em 2010: "A Espanha não é a
Grécia". Posteriormente, naquele ano, claramente irritado, o então
ministro das Finanças da Grécia declarou: "A Grécia não é a Irlanda".
E o ex-ministro das Finanças da Irlanda, Brian Lenihan, retrucou por sua vez:
"A Irlanda não faz parte do território grego".
Ao mesmo tempo, o
secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE) acrescentou: "Tampouco Espanha e Portugal são a Irlanda".
A crise do euro constitui
também uma crise da geografia do euro. A Escócia marcou para 2014 um plebiscito
sobre a independência, 307 anos depois da união que criou a Grã-Bretanha. Ao
mesmo tempo, Londres resmunga sua disposição a se retirar da União Europeia.
Essa é a globalização: o
desaparecimento das fronteiras na Europa, os ciber-mundos sem fronteiras, a
hiperconectividade com todas as forças que aparentemente zombam da
nação-Estado, quase justificando, a certa altura, a governança global.
As pessoas se aborrecem e
estão irritadas. Não conseguem um novo emprego. Querem novas fronteiras,
principalmente porque a probabilidade de terem de defendê-las de fato numa
guerra tornou-se infinitamente remota. Elas querem ser ciberglobais e
hiperlocais, cidadãs do mundo com os passaportes de micro-Estados. E
aparentemente os desejos se equilibram.
Do outro lado do Atlântico
surgem tendências semelhantes. No Texas, a ideia da secessão está tomando
corpo. Larry Scott Kilgore, um candidato republicano, anunciou que concorrerá
ao cargo de governador em 2014 e mudará legalmente o seu nome para Larry Secede
(pela Secessão) Kilgore. Os texanos, afetados por um improvável comichão
europeu, gostam de destacar que a economia do seu Estado é maior do que a da
Austrália. Aliás, na Austrália são muito numerosos os cidadãos de origem grega,
e nem por isso ela é, definitivamente, a Grécia.
Com o aumento das
dificuldades econômicas também aumentam os sentimentos tribais. A angústia do
átomo randômico faz com que as pessoas corram atrás de novas bandeiras,
enquanto 800 milhões de criaturas cibernéticas sem fronteiras se unem para
assistir ao vídeo Gangnam Style no YouTube.
Evidentemente, a imigração,
a luxúria e o amor misturaram-se no sangue das tribos escocesas, texanas e
catalãs (vamos batizá-las de Escotexacatalunha). "Eu sou um
vira-lata", afirmou certa vez Barack Obama. E, cada vez mais, também este
mundo conectado, o mundo das remessas de dinheiro, no qual muitas pessoas
moram, por assim dizer, com um pé em Birmingham e outro em Lahore.
Glasgow tem uma
considerável população muçulmana. No Texas, mais de um terço da população é
hispânica. A Catalunha tem muitos imigrantes que só falam espanhol. O desejo de
erguer novas fronteiras é essencialmente um anacronismo.
Será mesmo? A crise do euro
é vista como uma crise provocada pela excessiva soberania compartilhada. Talvez
uma reação seja racional (mesmo que os catalães e os escoceses digam que
gostariam de estar na UE, desde que possam administrar seus próprios negócios).
O ressentimento econômico se traduz no renascimento da identidade com uma
cultura nacional.
No Texas, onde as condições
para o ingresso na União, em 1845, ainda estão sendo debatidas, é um pouco
diferente. O principal ressentimento é de ordem social, não econômica. Conviver
com todos aqueles intelectuais liberais, ao volante de uma Subaru, favoráveis à
eleição de Obama é demais para alguns texanos.
Em 1996, comecei um artigo
intitulado Forças Globais Derrotam a Política da seguinte maneira: "Atualmente,
na maior parte do mundo, a política está em segundo plano, atrás da economia,
como um cavalo e uma carroça ficam desafortunadamente atrás de um carro
esporte. Enquanto os políticos tratam da gestão do processo eleitoral nacional
- oferecendo programas e slogans quiméricos - os mercados mundiais, a internet
e o ritmo furioso do comércio envolvem as pessoas em um jogo global em que os
representantes eleitos não passam de meros figurantes".
Extrapolando para 16 anos
mais tarde: políticas nacionais, como o presidente da França, François
Hollande, acaba de descobrir, muitas vezes não é mais que um ou outro ajuste
marginal no exíguo espaço político deixado pelos mercados e por outras forças
globais. E isso na França! Os anseios secessionistas ecoam em tempos
conturbados. Mas enfrentam o vento contrário da lógica política, global e dos
negócios. Acredito que - menos Kosovo do que Quebec - os escoctexacatalães
acabarão sucumbindo ao bom senso da união. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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