Mas é aí que não querem chegar certos católicos. Eles só compreendem Cristo sobre um trono de glória, só Lhe são fiéis nos dias parecidos com o Domingo de Ramos, quando a multidão O aclama. Para eles, Cristo deve ser um rei terreno, deve dominar o mundo constantemente. E se a impiedade dos homens O reduz de rei a crucificado, de soberano a vítima, não mais se importam com Ele.
Cristo quis passar por todos os opróbrios, todos os vexames, todas as humilhações, mostrando que a História da Igreja também teria seus calvários, suas humilhações, suas derrotas, e que muito mais meritória era e é a fidelidade no Gólgota do que no Tabor.
Foi para ensinar homens assim, que Nosso Senhor se submeteu a todas as humilhações no Calvário. Há pessoas de uma mentalidade detestável, que julgam absolutamente natural o Redentor sofrer, a Igreja ser vexada, humilhada, perseguida. “É a Paixão de Cristo que se repete”, dizem eles. E enquanto essa Paixão se repete, levam sua vida farta e cômoda nas orgias, nas imundícies, na exacerbação de todos os sentidos e na prática de todos os pecados. Para tais indivíduos é que foi feito o látego com que foram expulsos os vendilhões do Templo.
Não é verdade que devamos cruzar os braços ante as investidas dos inimigos da Igreja. Não é verdade que devamos dormir enquanto se renova a Paixão. O próprio Cristo recomendou que seus Apóstolos orassem e vigiassem. E se devemos aceitar os sofrimentos da Igreja com a resignação com que Nossa Senhora aceitou os padecimentos de seu Filho, não é menos exato que será um motivo de eterna condenação para nós, se nos portarmos ante as dores do Salvador com a sonolência, a indiferença e a covardia de discípulos infiéis.
A verdade é esta: devemos estar sempre com a Igreja, “porque só ela tem palavras de vida eterna”. Se ela é atacada, lutemos por ela. Mas lutemos como mártires, até a efusão de nosso sangue, até o nosso último recurso de energia e de inteligência. Se, apesar disso tudo, ela continuar a ser oprimida, soframos com ela, como São João Evangelista ao pé da Cruz. E estejamos certos de que, neste mundo ou no outro, Jesus misericordioso não nos privará do esplêndido prêmio de assistirmos à sua glória divina e suprema.
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Publicado no Jornal Legionário, nº 236, 21/03/1937.
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