23 de julio de 2012

Vitória islamita no Egito fortalece Hamas


13/07/2012 - 05h00

Vitória islamita no Egito fortalece Hamas

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FOLHA DE SÃO PAULO - MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Mesmo com a recente escalada de violência na divisa com Israel, dois outros assuntos dominam as conversas em Gaza: os longos e diários cortes de eletricidade e a chegada da Irmandade Muçulmana à Presidência do Egito.
Quando a vitória dos islamitas foi anunciada, no mês passado, milhares de pessoas encheram a avenida principal de Gaza para comemorar, abafando por algumas horas o zumbido permanente dos geradores.
A comemoração foi organizada pelo Hamas, o grupo islâmico que controla Gaza há cinco anos e recebeu uma injeção de energia política com a vitória no Egito de seus padrinhos ideológicos.
Fortalecido, o Hamas consolida o seu poder em Gaza --a última novidade é que passou a exigir visto para a entrada de estrangeiros.
Diogo Shiraiwa/Editoria de Arte/Folhapress
Cinco anos após assumir seu controle numa miniguerra civil com o rival Fatah e diversas tentativas frustradas de reconciliação, os palestinos estão mais divididos do que nunca, com duas Palestinas disfuncionais, uma na Cisjordânia, a outra em Gaza.
"Sim, estamos mais fortes", disse à Folha Taher Alnonno, porta-voz do Hamas. "Temos a mesma ideologia da Irmandade Muçulmana. Somos o irmão menor."
Alnonno deixa claro que essa autoconfiança vai se refletir numa posição mais dura do Hamas na negociação com o Fatah. A revolução egípcia livrou o Hamas de um inimigo, com a queda do ditador Hosni Mubarak, e lhe deu um aliado.
"Mubarak achava que mudaria a política do Hamas colocando pressão. Isso acabou", diz o porta-voz. "É uma nova era."
Os membros do Hamas se orgulham em mostrar o primeiro resultado concreto da mudança, o aumento no volume de pessoas autorizadas a deixar Gaza pelo Egito. Sob bloqueio israelense, a população de Gaza vê qualquer abertura como grande acontecimento.
Recém-construído com doações do Banco Islâmico dos Emirados Árabes, o reluzente terminal de Rafah, na fronteira entre Gaza e o Egito, mais que dobrou o movimento desde a vitória da Irmandade Muçulmana.
De uma média diária de 600, pulou para mais de 2.000 pessoas autorizadas pelo Egito a cruzar a fronteira, diz o policial Hisham Edwan, chefe do setor de partidas. "O presidente mal assumiu no Egito e já vemos sinais positivos", diz ele.
Preocupado em manter seu poder, o Hamas não está interessado em um confronto direto com Israel. Faz vista grossa aos disparos de foguetes de grupos mais radicais, reprime excessos.
Muitos em Gaza veem com preocupação os ventos islamitas que sopram do país vizinho. Críticos do Hamas temem que o aliado egípcio ajude o grupo a reforçar a ditadura islâmica em Gaza.
"Não há motivos para achar que a onda islamita trazida pela Primavera Árabe nos dará mais liberdades", afirma Raji Sourani, diretor do Centro Palestino de Direitos Humanos de Gaza.

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