7 de marzo de 2011

O Globo, sábado, 26 de fevereiro de 2011
Alemanha é a origem de grupos extremistas
Graça Magalhães-Ruether
Os muçulmanos de Hitler eram angariados em países sob o domínio da então União Soviética. Segundo Meining, o Führer, que tinha um desprezo doentio contra minorias étnicas, resolveu abrir uma exceção àquele povo. A idéia era aproveitar-se da “divisão turca” no front leste para poupar “sangue alemão”. Os muçulmanos eram atraídos com a promessa de que, após a “vitória final” do Reich, teriam a chance de praticar livremente sua religião. Também conquistariam, em seus países de origem, a independência do poder central de Moscou.
— Já em 1941, com o início da invasão da União Soviética, os nazistas colocaram em prática a idéia elaborada pelos generais de Hitler: a criação de uma divisão “SS muçulmana” — lembra o historiador. As Forças Armadas alemãs, porém, logo concluíram que a divisão descaracterizava a imagem do povo alemão. A divisão especial foi dissolvida e seu efetivo, aproveitado por diversas tropas.
Uma delas era a companhia de Oskar Dirlewanger, comandante de um grupo de ex-detentos, condenados por crimes comuns mas libertados para lutar na guerra. Dirlewanger e seus comandados — entre eles, os muçulmanos — tiveram um desempenho trágico no combate à insurreição de judeus no gueto de Varsóvia, em 1944. Quase todos os habitantes morreram. — Eles usaram métodos brutais de assassinato, como derramar gasolina nos presos para, depois, atear fogo — conta Meining. — Recém-nascidos eram massacrados com baionetas.
Quando os Aliados avançaram em solo alemão, muitos muçulmanos foram mortos sumariamente. Mas alguns milhares, detidos por Aliados ocidentais (sobretudo os EUA), resolveram permanecer na Alemanha depois de libertados. Daí, a história se repetiu, já que os americanos e europeus, segundo Meining, “imitaram a política nazista”. — Os Estados Unidos passaram a usar os muçulmanos no serviço secreto para combater o inimigo comunista — revela.
Livres das punições dadas aos colaboradores, os muçulmanos aceitaram sem pestanejar. Foram recompensados com altos salários e, como antes, com a chance de lutar, desta vez usando espionagem, contra os comunistas.
Já em 1958 grupos que haviam colaborado com o regime de Hitler fundaram uma organização, a Administração Espiritual dos Fugitivos Muçulmanos na Alemanha Ocidental. Foi o berço de outras organizações religiosas radicais, defensoras de idéias fundamentalistas. E logo vieram associações secretas da Irmandade Muçulmana.
Fundada em 1928 no Egito, a Irmandade se considera um movimento de elite do Islã. Sua organização na Alemanha foi reforçada a partir dos anos 70, quando muitos jovens de países árabes muçulmanos vieram freqüentar uma universidade do país.
Muitos adeptos da al-Qaeda e outros grupos extremistas surgiram nessas organizações alemãs. Após os atentados de 11 de Setembro, onde três dos quatro aviões usados como bombas foram pilotados por muçulmanos residentes na Alemanha, as organizações passaram a ser monitoradas pelos serviços de segurança do país. E os radicais criados pelo próprio Ocidente se voltaram contra ele.

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