8 de junio de 2018

Inexperiente, novo líder deve ficar à mercê de esquerda que deseja sua queda

Inexperiente, novo líder deve ficar à mercê de esquerda que deseja sua queda


Contradições do novo governo podem beneficiar partido de centro-direita surgido de protestos


O líder socialista e novo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, participa da votação da moção de desconfiança contra seu antecessor, Mariano Rajoy - Pierre-Philippe Marcou/AFP

Sánchez aparece sorrindo por trás de círculos decorativos do Parlamento espanhol.
Mathias Alencastro
queda do premiê conservador Mariano Rajoy era uma questão de tempo. No poder desde 2011, o moribundo e impopular governo do Partido Popular se arrastava porque os principais partidos da oposição, o Socialista e o Podemos, pareciam incapazes de propor uma alternativa.
condenação de membros do PP por corrupção obrigou os rivais a assumir as suas responsabilidades e derrubar o governo.
O programa de austeridade conduzido por Rajoy transformou a sociedade espanhola. A retomada da economia é inegável: o número de desempregados vem caindo drasticamente, e a taxa de crescimento ultrapassa os 3%.
Entretanto, a piora das condições de trabalho e a deterioração das proteções sociais desorganizaram a classe média.
Nos últimos quatro anos, os partidos tradicionais perderam terreno para novas formações de centro (o Cidadãos de Albert Rivera) e de esquerda (o Podemos de Pablo Iglesias). Nesse contexto, Pedro Sánchez assume um país em plena transição politica.
Aqueles que veem no novo governo uma versão espanhola da popular coalização de esquerda portuguesa estão comparando alhos e bugalhos.
Comandados por António Costa, ex-ministro próximo aos comunistas, os socialistas lusos obtiveram a maioria no Congresso depois de costurar um programa de governo com dois partidos de extrema-esquerda sem a menor expectativa de poder.
Sánchez é um político inexperiente, contestado dentro do próprio partido e alçado ao poder quase que por acidente. Com uma maioria parlamentar instável, ficará à mercê do Podemos, que tem como objetivo declarado acabar com a hegemonia socialista. Iglesias deixou claro que só apoiou a moção por "higiene democrática".
As contradições da esquerda no governo devem beneficiar o Cidadãos. Na frente das sondagens, a legenda centrista deve recuperar grande parte dos políticos eleitos e dos militantes do Partido Popular. Nas próximas eleições, seu líder Rivera pretende repetir o feito de Emmanuel Macron na França —implodir o statu quo partidário.
Se isso acontecer, o governo de Sánchez entrará na história como o último liderado por um partido da social-democracia que levou o país do obscurantismo franquista (1936-75) às luzes da Europa.

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