Brasileiros e estrangeiros surpreenderam-se com as diversas manifestações que aconteceram em diversas cidades brasileiras (especialmente nas capitais, mas também em outras) e também em outros países (em solidariedade). A primeira manifestação foi por causa dos 20 centavos de aumento na passagem de ônibus, metrôs e trens em São Paulo, mas, devido à truculência da Polícia Militar e a ignorância das autoridades (que ignoraram, não deram bola), um número crescente de pessoas e causas foram se somando ao que ontem e hoje já culminava em revolta contra a própria presidenta Dilma Roussef.
Ainda assim, a tradicional imprensa de massa (e a tradicional massa que só se informa via imprensa) permanecem sem entender o que está acontecendo – se há uma motivação simples, ou um complexo com diversas propostas, ou ainda uma coisa sem causa. Já no Twitter e no Facebook, a coisa fervilha: muito conteúdo gerado e agregado por cidadãos comuns, inclusive alguns membros de organizações que querem aproveitar o fato de movimento (ao menos aparentemente) não ter uma liderança e um rumo.
Eu, particularmente, me recordo dos ensinamentos da Escola de Redes: quando as pessoas se dispõem em padrão de rede, sem hierarquia, de forma distribuída, isso em si já é a mudança necessária para que a vida em sociedade aconteça. Isso em si já é bom demais – afinal, nunca se discutiu tanta política nas escolas, nas ruas, nos meios de comunicação (especialmente os livres, em que os cidadãos se auto-representam, se auto-organizam, se auto-regulam). E, claro, em diversas cidades os governantes (que são o conjunto de políticos eleitos, técnicos de carreira e lobistas empresariais) já deram descontos nas passagens; em São Paulo, chegaram a cancelar o aumento e voltar ao preço anterior (a partir da próxima segunda-feira).
O padrão em rede, a emergência de uma inteligência não centralizada nem submissa a hierarquia, a paz das manifestações e o recado geral de que “o Brasil acordou” ganharam também uma iniciativa que considero muito interessante. Tecnologistas, empreendedores e inovadores em geral organizaram uma maratona de programação (hackathon) que vai acontecer em Brasília a partir das 19h desta sexta-feira até as 16h de sábado. Sob o mote #Pivota Brasil, diversos hackers (expressão que significa programadores, desenvolvedores), cientistas políticos, manifestantes, empreendedores, designers e indignados em geral vão se reunir para construir soluções que ajudem o movimento (as manifestações e suas reivindicações).
Iniciativas semelhantes já acontecem no Brasil há anos, especialmente as hackathons com dados abertos, visando à observação e interpretação de dados massivos sobre os cidadãos e sobre o governo. Também noticiamos dia 12 o aplicativo Protestaí. Isso significa que não é a primeira vez que nerds e pessoas de iniciativa decidem fazer algo pelo bem de todos – esta é a essência de muitas startups, especialmente as de negócios sociais, incluindo todas de educação, de inclusão produtiva, de viabilização coletiva, empoderamento do consumidor, entre outros tipos.
É justamente pela iniciativa, inovação e poder de concretização dos empreendedores que os países progridem. Não é de se impressionar que tenham feito tantas coisas até agora e continuem se mobilizando para o momento “tá, e daí”: o que fazer com tanto protesto e ideia de como fazer um Brasil diferente? Formatar e “tocar adiante”. Nada melhor do que construtores inovadores, ao invés de politistas e ideologistas, para fazerem as coisas.
Me orgulho de, há mais de 4 anos, diariamente conversar com tanta gente inovadora, incluindo empreendedores, investidores, tecnologistas e outros tipos de obstinados em fazer as coisas melhorarem. É justamente por isso que o Governo Federal aprovou uma Política de Estado que prevê a iniciativa Start-Up Brasil como modelo inicial a ser implementado nas áreas de Ciências, Tecnologia e Inovação para servirem de referência para outras áreas (já escrevi especificando isso em outro artigo:Quando o país experimenta inovar em escala). Quem sabe, em breve teremos um país em que os cegos pelo Poder não atrapalhem tanto os que sabem fazer prototipação, iteração ágil, melhoria constante, inovação centrada no usuário (cliente, cidadão).
O escritor Charles Bukowski afirmou que ”o problema do mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvida, enquanto as estúpidas estão cheias de certeza”. Finalmente, o movimento de empreendedorismo e inovação traz uma novidade a este cenário. A modelagem de negócios, que contribui para o processo de experimentação em meio a extrema incerteza, é a forma de se construir ordem e riqueza a partir do caos e pode virar padrão para as atividades não apenas do MCTI com a iniciativa privada, mas, logo à frente, também para outras áreas de atuação.
Para mim, a grande mensagem sub-entendida nas manifestações de junho é que a Geração Frustração demanda um novo modus operandi, uma nova forma de ser/estar/fazer, um novo modelo de negóciopara a vida em sociedade – coisa que já vem acontecendo em tantos meios, mas não se espalha devido aos entraves impostos e defendidos pelos círculos do Poder. Outro escritor, William Gibson, dizia que “o futuro já chegou, só está mal distribuído”. Verdade: agora que o povo aprendeu a se mobilizar com as próprias mãos e usa seus próprios meios de comunicação não centralizados, e ativou suas motivações, pode então distribuir outras, novas e melhores formas de ser brasileiro – com o protagonismo de inovadores que não pensam só nos seus negócios. Outro escritor que eu gosto, o brasileiro Gil Giardelli, costuma dizer: “você é o que você compartilha” e “é preciso novos mapas explorar novas terras”.

Outros apps

MobWise fez um aplicativo capaz de ajudar os manifestantes a organizarem um protesto pacífico e a comunicarem em tempo real os eventos de maior relevância geolocalizados e dispostos em um mapa, como ponto de apoio (para água e abrigo), wi-fi aberta, focos pacíficos, concentração para início de marcha, polícia hostil, vandalismo, focos de tensão, feridos e necessidade de ajuda. Esperamos que possa ajudar a todos que forem as ruas. O app se chama Vem Pra Rua! e está disponível para Androidneste link.
Brockly Sistemas também disponibilizou um aplicativo colaborativo onde os manifestantes pacíficos marcam num mapa como está a situação no seu local, tendo a opção de adicionar fotos e comentários. O app pode ser instalado em smartphones com Android (veja neste link), mas pessoas que não tenham aparelhos desde tipo podem usar via website mesmo (aqui).
O Colab, que ganhou recentemente o prêmio de “melhor app urbano do mundo“, é baseado em três pilares para as melhorias das cidades (Fiscalize, Proponha e Avalie) e apresenta aos manifestantes um meio de relatarem o que está acontecendo nas ruas durante as manifestações.
#pivotabrasil pivota brasil

O que é pivotar

Segundo Lean Startup, a metodologia atual mais difundida de como se criar boas startups, pivô (pivot, em inglês), é uma mudança de curso na história de uma startup, mas sem mudar visão de longo prazo. Quando a startup vê que seu atual modelo de negócios (o jeito que ela ganha dinheiro) não vai indo muito bem, ela faz uso de um pivô e parte para buscar novas respostas em uma nova fase.
Um ponto importante de um bom pivô é que a startup parte para um novo rumo, mas sem esquecer dos aprendizados que fizeram seu plano original não dar certo. Lembre-se: a mudança é de estratégia, não de visão.

Pivotar o Brasil?

Acreditamos que os empreendedores tem uma visão analítica dos problemas que o Brasil sofre. E, reunindo suas melhores habilidades empreendedoras (desenvolvimento de 
software
, design, modelagem de negócios), os startupeiros podem gerar resultados concretos para que o momento único que o Brasil vive se transforme em ações concretas para os brasileiros.
Queremos ajudar a pivotar o Brasil para um novo tempo em busca da visão de excelência para os brasileiros e achamos que o melhor jeito de ajudar é fazendo o que sabemos fazer bem.