2 de octubre de 2015

Voto embaça -N.B. empaña- independência catalã


CLÓVIS ROSSI

Voto embaça independência catalã

Eleição na Catalunha confirma uma sociedade dividida ao meio, o que exigirá negociações
O resultado eleitoral deste domingo, 27, confirma: a Catalunha tem hoje uma sociedade dividida praticamente ao meio.

Os independentistas ficam com a maioria dos assentos no Parlamento, mas perdem em votos, contradição que se explica pela configuração dos distritos, com mais cadeiras onde os independentistas são mais fortes.

Para ter maioria, os secessionistas têm que somar as cadeiras da conservadora Convergência Democrática (principal formação da já heterodoxa coligação Juntos pelo Sim (Junts pel Sí), que não obteve a maioria absoluta dos assentos no Parlamento) com as da esquerda pura e dura da CUP (Candidatura de Unidade Popular).

A CUP, porém, já antecipou que não participará de um governo com Juntos pelo Sim, o que significa que a declaração unilateral de independência pelo novo Parlamento pode não obter os votos necessários, sem mencionar o fato de que será rechaçada pelo Tribunal Constitucional.

É importante lembrar que, formalmente, não se votava pela independência, mas para formar o novo governo da Catalunha.

Por isso, era natural que houvesse uma maioria favorável ao nacionalismo, como tem sido a regra desde o fim da ditadura franquista, em 1977 (a exceção foram apenas dois anos e meio em que governou uma coalizão encabeçada pelo braço catalão do Partido Socialista).

É claro, no entanto, que a coligação Juntos pelo Sim dirá que a votação foi também uma medição do desejo independentista (e, em larga medida, de fato o foi) e, por isso, cabe agora levar adiante o processo que desaguará na independência.
Não é uma posição sensata, como deixava claro, ainda antes do pleito, o colunista Enric Company (catalão), em artigo para "El País":

"Não se po­de cons­truir um Es­ta­do com 51% dos vo­tos a fa­vor e 49% con­tra" (a divisão em votos neste domingo foi a inversa).

Mas, acrescentava Company: "O argumento vale também pa­ra os de­fen­so­res do status quo. O imobilismo é uma insensatez quando a metade do eleitorado o rechaça".


Traduzindo: a única coisa sensata a fazer é os dois lados negociarem os passos seguintes.

Do lado catalanista, seria negociar com o governo central alterações legais para que se possa fazer um plebiscito de fato sobre a independência, em vez de buscar uma secessão unilateral que seria um salto no escuro.

Do lado de Madri, fechar os olhos para o resultado seria atiçar a brasa do nacionalismo catalão, com toda a instabilidade que provoca –e que, de quebra, afetará o processo eleitoral nacional, previsto para dezembro.

Ou o governo central aceita a ideia de um plebiscito ou, no mínimo, transfere mais recursos para a Catalunha.

Afinal, o argumento central dos independentistas se resumia na contestada frase "a Espanha nos rouba", alegando uma suposta brecha de € 16 bilhões (cerca de R$ 71 bilhões) entre o que a Catalunha arrecada para o governo central e o que este devolve à Catalunha.

Para que ambos negociem, no entanto, é fundamental pôr de lado a emoção, que foi o canal pelo qual transcorreu a campanha eleitoral e produziu o resultado. Difícil, mas indispensável.

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