2 de junio de 2015

Livro vencedor do Pulitzer narra pacto entre papa e Mussolini

Conexão Penedo

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Livro vencedor do Pulitzer narra pacto entre papa e Mussolini


O episódio é um dos mais fascinantes da história da Igreja Católica: um papa recém-eleito usa de sua influência para consolidar a figura de Benito Mussolini e seu programa fascista na Itália.
O apoio, que se tornaria estratégico, é prontamente retribuído pelo “Duce”. Eles chegam ao poder por uma diferença de meses, no mesmo ano de 1922.
O pacto, que moldaria a política italiana –e portabela influenciaria a Europa– por décadas, é ameaçado só em 1939, quando o papa, Pio 11, prepara dois documentos para denunciar a aliança de Mussolini com Hitler e a campanha racial e antissemita de ambos.
Na véspera de ler um dos documentos, o imponderável: o pontífice morre. Seu substituto, Pio 12, acata a sugestão fascista e destrói a documentação deixada pelo antecessor.
Foi recontando essa história, com foco nos dois protagonistas, o líder italiano e Pio 11, que o norte-americano David Kertzer foi agraciado neste ano com o prêmio Pulitzer de melhor biografia para “The Pope and Mussolini “” The Secret History of Pius XI and the Rise of Fascism in Europe” (o papa e Mussolini “” A história secreta de Pio 11 e a ascensão do fascismo na Europa).
Steven Senne/Associated Press
Brown University professor David I. Kertzer holds his book "The Pope and Mussolini: The Secret History of Pius XI and the Rise of Fascism in Europe" in his office, Monday, April 20, 2015, in Providence, R.I. The book won the 2015 Pulitzer Prize for biography-autobiography. (AP Photo/Steven Senne) ORG XMIT: RISR101
O professor David I. Kertzer com seu livro “The Pope and Mussolini: The Secret History of Pius XI and the Rise of Fascism in Europe”
NO BRASIL
Publicado nos EUA no ano passado, o livro será editado no Brasil no primeiro semestre do ano que vem pela editroa Intrínseca.
“A Igreja reescreveu a sua história. A narrativa padrão do Vaticano sobre sua relação com o fascismo é enganosa”, afirmou o autor em entrevista à Folha. “Sem o apoio da Igreja, o fascismo não teria durado tanto tempo na Itália”.
Professor de antropologia e de estudos italianos da Universidade de Brown (EUA), David Kertzer compôs sua obra a partir de documentos que começaram a ser liberados pelo Vaticano a partir de 2006, abrangendo o papado de Pio 11 (1922-39), e por uma vasta documentação que está no Arquivo dos Jesuítas, em Roma.
“Mas não foi só a Igreja que reescreveu a sua história. A Itália esteve mais de 20 anos abraçada ao fascismo e, após a Segunda Guerra, descobriu que quase ninguém tinha sido fascista ou anti-semita.”
SANTO APOIO
“O fascismo se estabeleceu na Itália graças ao apoio do Vaticano. E Hitler, nos anos 1920, se espelhou muito no seu herói Mussolini, cujo busto ele manteve por anos num lugar de destaque em seu escritório”, diz Kertzer.
Mussolini retribui o apoio restaurando os poderes que o Vaticano desfrutava na Itália antes da unificação do país, no século 19, e até financiou a reforma de igrejas.
Para o autor, a Marcha sobre Roma, que marcou a chegada de Mussolini ao poder, foi uma revolução clérico-fascista. Os dois líderes tinham ainda em comum o desejo de afastar o fantasma do comunismo, que assombrava a Europa desde a revolução bolchevique de 1917.
E se aqueles documentos tivessem sido divulgados por Pio 11 em 1939?
“Poderiam diminuir ou até acabar com o entusiasmo dos italianos em torno da aliança feita por Mussolini com Hitler. Mas duvido que tivessem força para mudar o caminho que Hitler estava determinado a tomar”, afirma.
Kertzer agora espera que o Vaticano desclassifique os documentos relativos ao papado de Pio 12 (1939-58), chamado por muitos de “o papa de Hitler” por ter se mantido em silêncio durante o Holocausto. “Há uma esperança de que o papa Francisco libere esses documentos, mas por enquanto é só especulação”, ressalta.
THE POPE AND MUSSOLINI
AUTOR David Kertzer
EDITORA Random House
QUANTO US$ 16 (importado)
Fonte: Folha de São Paulo
www.folha.com.br

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