24 de mayo de 2015
A Europa enferma
A Europa enferma
Gilles Lapouge
22 Maio 2015 1 03h 00 - O ESTADO DE
SÃO PAULO
A União Europeia é um vasto canteiro de obras sempre em
movimento. Sinal da sua vitalidade. E também da sua fragilidade, pois à medida
que os pedreiros recolocam um tijolo caído, restauram nona estátua quebrada,
outras pedras caem, outras brechas se abrem. E eles têm de correr incessantemente de um desabamento para outro.
A Espanha descobre que há uma corrupção
sem precedentes. O partido no poder (PP, de direita) beneficia-se de
financiamentos ilegais. Cerca de 74 responsáveis políticos estão implicados. Os
socialistas não valem muito mais. No governo de Andaluzia, 49 dirigentes socialistas foram indiciados: embolsaram
fundos destinados aos desempregados.
Felizmente
existe a Grã-Bretanha onde não se brinca com a moralidade. Infelizmente uma
rede de pedófilos foi descoberta. E 1.433 pedófilos saem das sombras. Entre eles 76 políticos do alto
escalão, 43 músicos, 7 esportistas, 135 jornalistas e cineastas.
Por outro lado, a Grécia continua à deriva. Na véspera da
cúpula europeia de Riga, o Syriza, partido de esquerda no poder, anuncia que
não conseguirá pagar os A 302 milhões que deve ao FMI. Três meses de
negociações ruidosas que terminam num beco sem saída: "refletirei durante muito tempo antes de afirmar que não haverá uma
falência da Grécia". E o espectro que toda a Europa procura afastar
há seis meses paira sobre as cabeças: a eventual saída da Grécia da zona do
euro, com o furacão sobre a Europa.
Na outra extremidade do continente, o britânico) David
Cameron prepara-se para um referendo em 2016 ou 2017 sobre a possível saída do país da UE.
Na Europa central, na Hungria, Viktor
Orban, membro de uma direita bens à direita, faz os políticos de Bruxelas
solarem frio. Não perde unos oportunidade de
atirar contra essa União Europeia da qual seu país faz parte. Ridiculariza não
só as divisões de Bruxelas, mas também sua
filosofia. Ele sempre carrega alguns bons petardos que acende cada vez que
deseja enervar os funcionários humanistas e sonolentos de Bruxelas: ele
se refere aos romas como ladrões de galinhas, criminosos que a bela Europa deve
expurgar.
Segundo Orban a liberdade de imprensa é
uma imbecilidade. E diz que a UE é urna peneira que idiotamente permite a passagem
desses delinquentes, preguiçosos, que são os
imigrantes da África ou da Ásia. E tem uma obsessão: não entende porque na UE
não se cortam cabeças. De tempos em tempos Orban pensa em restabelecer a pena
de morte na Hungria. E quando os senhores de Bruxelas lhe dizem que a abolição da pena capital é um
pré-requisito para a adesão à UE, responde com desenvoltura: mas afinal, os
tratados não são mandamentos divinos".
Orban faz
propostas tão bizarras que até o grupo de deputados europeus do Partido Popular
Europeu. que é a direita europeia, não sabe mais
como desativar essa "granada eternamente sem pino". O pior é que o
governo Orban obtém resultados econômicos superiores aos de outros
países da UE. E na Hungria a oposição é inerte e está enferma: os socialistas
acabam de ser dizimada por um escândalo de corrupção.
*Gilles Lapouge é correspondente em
Paris/ Tradução de Terezinha Martino
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