Em política, dois agora é pouco
Parece estar chegando ao fim a era do bipartidarismo de fato que caracterizou a política europeia dos últimos muitos anos e que influenciou outras regiões.
Exemplos mais recentes: na França, nas eleições regionais de domingo (13), a ultradireitista e xenófoba Frente Nacional introduziu uma cunha na tradicional disputa entre direita e esquerda.
É verdade que a FN não conseguiu ganhar em nenhuma das 13 regiões em jogo, mas ficou com 27,44% dos votos, menos de dois pontos atrás da coalizão de esquerda liderada pelos socialistas (29,3%).
Só perdeu duas das regiões em que ficara bem na frente no primeiro turno pela coragem do PS de retirar suas candidaturas e pedir votos para a direita, para barrar a extrema direita.
Prova de que a FN quebrou o bipartidarismo é, por exemplo, o anúncio do primeiro-ministro Manuel Valls, após os resultados, de medidas imediatas contra o desemprego, que, na altura de 10,2%, permanece como o primeiro fator de voto na Frente Nacional, segundo o jornal "Le Monde".
Parece ser evidente, pois, que o arranhão severo no bipartidarismo é um filho direto da crise de 2008, por sua vez responsável pela teimosa persistência de um desemprego elevado.
Vale para a França, vale para a Espanha, em que as eleições do próximo domingo (20) mostrarão uma ruptura ainda mais notável do bipartidarismo, que vem desde o fim da ditadura franquista, o que já faz 40 anos.
Se as pesquisas estiverem certas, desabará o voto nos tradicionais Partido Popular (conservador) e Partido Socialista Operário Espanhol (centro-esquerda).
Na eleição imediatamente anterior à crise de 2008, PP e PSOE levaram, juntos, 83,8% dos votos.
Agora, segundo a média das pesquisas, o PP ficará com 27%, e o PSOE, com 21%. Uma sangria conjunta, portanto, de quase 36 pontos percentuais.
Essa cesta de votos foi para dois partidos novos: Podemos (filho direto do movimento dos indignados, que protestavam contra a crise) e Cidadãos, nascido da resistência ao nacionalismo catalão, mas que, nos últimos dois anos, se nacionalizou.
Na mais recente pesquisa publicada pelo jornal "El País", esses dois movimentos estão em empate técnico com o PSOE (19% e 18%, respectivamente, contra 21% dos socialistas). O governista PP lidera com 25%.
"Somente é possível entender o labirinto político espanhol à luz da profunda crise vivida a partir de 2008", escrevem, para a revista "Nueva Sociedad", César Renduelas e Jorge Sola, ambos da Universidade Complutense de Madri.
A Espanha viveu cinco anos de lacerante recessão, uma ferida não cicatrizada nem com a recuperação dos dois anos mais recentes: a economia ainda é 4,6 pontos percentuais mais magra do que o teto alcançado em 2008.
Os dois partidos que geriram a recessão perderam metade dos votos que tinham. Ganhe quem ganhe agora, terá que conviver com os novos atores, filhos da crise e nascidos de baixo para cima.
E, no Brasil, em crise igualmente lacerante, não vai acontecer nada em termos partidários? A rua continuará espectadora do desastre?
Exemplos mais recentes: na França, nas eleições regionais de domingo (13), a ultradireitista e xenófoba Frente Nacional introduziu uma cunha na tradicional disputa entre direita e esquerda.
É verdade que a FN não conseguiu ganhar em nenhuma das 13 regiões em jogo, mas ficou com 27,44% dos votos, menos de dois pontos atrás da coalizão de esquerda liderada pelos socialistas (29,3%).
| Yves Herman - 13.dez.2015/Reuters | ||
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| Apoiadores da Frente Nacional na região Nord-Pas-de-Calais-Picardie no dia do segundo turno |
Prova de que a FN quebrou o bipartidarismo é, por exemplo, o anúncio do primeiro-ministro Manuel Valls, após os resultados, de medidas imediatas contra o desemprego, que, na altura de 10,2%, permanece como o primeiro fator de voto na Frente Nacional, segundo o jornal "Le Monde".
Parece ser evidente, pois, que o arranhão severo no bipartidarismo é um filho direto da crise de 2008, por sua vez responsável pela teimosa persistência de um desemprego elevado.
Vale para a França, vale para a Espanha, em que as eleições do próximo domingo (20) mostrarão uma ruptura ainda mais notável do bipartidarismo, que vem desde o fim da ditadura franquista, o que já faz 40 anos.
Se as pesquisas estiverem certas, desabará o voto nos tradicionais Partido Popular (conservador) e Partido Socialista Operário Espanhol (centro-esquerda).
Na eleição imediatamente anterior à crise de 2008, PP e PSOE levaram, juntos, 83,8% dos votos.
Agora, segundo a média das pesquisas, o PP ficará com 27%, e o PSOE, com 21%. Uma sangria conjunta, portanto, de quase 36 pontos percentuais.
Essa cesta de votos foi para dois partidos novos: Podemos (filho direto do movimento dos indignados, que protestavam contra a crise) e Cidadãos, nascido da resistência ao nacionalismo catalão, mas que, nos últimos dois anos, se nacionalizou.
| Pierre-Philippe Marcou - 24.ago.2015/AFP | ||
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| O eurodeputado Pablo Iglesias, do Podemos, fala à imprensa na sede do partido, em Madri |
"Somente é possível entender o labirinto político espanhol à luz da profunda crise vivida a partir de 2008", escrevem, para a revista "Nueva Sociedad", César Renduelas e Jorge Sola, ambos da Universidade Complutense de Madri.
A Espanha viveu cinco anos de lacerante recessão, uma ferida não cicatrizada nem com a recuperação dos dois anos mais recentes: a economia ainda é 4,6 pontos percentuais mais magra do que o teto alcançado em 2008.
Os dois partidos que geriram a recessão perderam metade dos votos que tinham. Ganhe quem ganhe agora, terá que conviver com os novos atores, filhos da crise e nascidos de baixo para cima.
E, no Brasil, em crise igualmente lacerante, não vai acontecer nada em termos partidários? A rua continuará espectadora do desastre?


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